Nas eleições presidenciais cabo-verdianas de 7 de Agosto de 2011, havia uma espécie de primárias no seio do PAICV. O partido quase que tinha que optar ou por Aristides Lima, candidato apoiado, de forma “não assumida” pelo presidente cessante, Pedro Pires, e Manuel Inocêncio Sousa, candidato genuíno do partido, apoiado, claramente, pelo Primeiro-ministro, José Maria das Neves.
Foi nesse quadro, e no calor do intenso debate eleitoral, que o Primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria das Neves, durante o comício do candidato do seu partido, em Vila Nova, revelou um grande segredo, dizendo que“Amílcar Cabral foi assassinado por dirigentes do PAIGC por causa das intrigas, da sede de poder e da falta de respeito pelos valores”. Na altura surgiram reações de todos os quadrantes da vida política e social cabo-verdiana. Houve mesmo pedido de explicações públicas por parte da oposição. Mas a quem parecia ter servido o barrete era o comandante Pedro Pires que desconfiado, respondia: "Não acredito (que me visem). De toda a maneira, ouvi na televisão o que foi registado e tomei boa nota disso. Não entendo que queiram atingir-me, até porque seria a última pessoa a ser atingida, porque eu, nessa altura, encontrava-me a 400 ou 500 quilómetros do sítio (Conakry, onde Cabral foi morto). Não faz sentido que se queira trazer-me para essa questão.” Ué? Será que as intrigas, “gula de poder” e falta de respeito pelos valores, precisavam de percorrer todos esses quilómetros para se isentar da culpa por participação no crime? Um velho sábio da Guiné segredou-me um dia debaixo da frondosa copa de uma mangueira, que as coisas funestas, sejam elas anões ou gigantes, viajam de borla, e até com o vento, visando sempre o mesmo fim: destruição e morte!