PROTESTOS NA RUA?
Vamos
reflectir um pouco sobre a impossibilidade de esperar que o povo guineense
tenha sempre a mesma atitude de manifestações de rua, como se observa nos
países vizinhos do Senegal, Guiné-Conacri, Togo, Camarões e outros. Atualmente,
nesses países, o nível social e cultural da população é consideravelmente
elevado. Em contrapartida, essas nações não lutaram com armas na mão pela
independência. A maior parte dos países francófonos, com exceção da Argélia,
alcançaram uma independência condicionada pela potência colonial, que era a
França, resultando no que se pode denominar autonomia política.
No
caso da Guiné-Bissau, a mentalidade do povo apresenta-se distinta. Para além da
predominância da cultura tradicional no pensamento popular, observa-se a
ausência de uma classe média, e a mentalidade urbana é escassa e atrasada. O
sistema de ensino vem deteriorando a qualidade na Guiné-Bissau, o que implica
que o desempenho escolar seja fraco. Considerando todas essas circunstâncias, o
povo da Guiné-Bissau já experimentou todo tipo de violência armada,
iniciando-se pelos onze anos de luta armada contra o colonialismo, passando
pelos golpes de estado e assassinatos de altas figuras públicas. O nosso país
continua a ser habitado por um povo guerreiro, silenciado pela violência
armada. Na Guiné-Bissau, tudo é levado aos extremos. A polícia da ordem
pública, em vez de dispersar as manifestações do povo nas ruas com balas não
letais, utiliza as verdadeiras, como se estivesse em combate contra o inimigo. A
atuação das forças da ordem em Moçambique contra as manifestações pós-eleitoral,
é um exemplo claro de como, em alguns países africanos, as ditas elites políticas são capazes de transformar
seu próprio povo em inimigo (juramentado de morte), ainda que sem a intervenção
das forças armadas.
Fonte: Anónima