Guiné-Bissau
Não Se Venda
Dignidade, Justiça e Futuro
Não
sou guineense. Nem tenho a pretensão de me imiscuir nos vossos assuntos
internos – Apenas, um irmão cabo-verdiano, em luta e em sonhos.
O
que aqui deixo é um apelo, sincero e comovido, de alguém que observa de fora,
mas que deseja profundamente o progresso de um povo irmão, dono de uma história
rica, de uma cultura vibrante e de um potencial imenso, chamado Guiné-Bissau,
considerado um exemplo de coragem e bravura, este país destacou-se pela
determinação do seu povo, que, lado a lado com o povo irmão de Cabo Verde,
enfrentou e derrubou o colonialismo com firmeza e heroísmo, tornando-se símbolo
de resistência e luta pela liberdade.
Tenho acompanhado, com atenção e tristeza, o
cenário político da Guiné há já algum tempo. E o que se revela aos olhos de
qualquer observador externo é uma nação
sufocada por práticas que comprometem o seu futuro. O maior problema da
Guiné-Bissau não é a falta de recursos( todos sabem disso…), nem de
inteligência, nem de um povo ansioso por mudança. O maior problema é a persistência de parasitas do
sistema, “políticos empresários do
estado” e, digo mais… até membros do
sistema judicial que trocaram os princípios básicos de uma sistema que deveria ser decente por
favores, influência e dinheiro sujo. Há algo profundamente errado quando
a justiça se curva aos interesses do terceiro. Quando os tribunais se tornam
palco de manipulações. Quando os homens da toga, aqueles que deveriam ser os
últimos bastiões da integridade, carater e coerência se deixam comprar por dinheiro sujo, calando verdades,
atrasando processos, revogando sentenças em nome de interesses ocultos. Senhores magistrados, juristas,
advogados: o vosso diploma vale mais que qualquer maço de notas oferecido por
quem quer que seja, inclusive (e sobretudo), do atual regime. Não há
dinheiro que compre a dignidade de um povo. Não há cargo que valha o sacrifício
de um país inteiro. O
vosso silêncio, a vossa omissão e a vossa cumplicidade custam caro não a vocês apenas, mas aos vossos filhos,
netos, à nova geração que nascerá já com as mãos atadas se nada for feito agora.
E aqui me dirijo diretamente à classe militar da Guiné-Bissau: Homens e mulheres de farda, a
vossa missão é sagrada. Sois guardiões do povo, da soberania e da legalidade da
república. A vossa farda não é um símbolo de privilégio de circunstancias, de
manipulações, mas de responsabilidade
para com o vosso povo. Honrem-na. Recusem o suborno. Não se deixem seduzir pelas migalhas
daqueles que roubam do povo para manter o poder. Ser militar é servir. É
proteger. É sacrificar-se, se necessário, por um bem maior. Quando vos rendem
dinheiro para silenciar-vos, para afastar-vos do vosso dever, estão a
transformar-vos em cúmplices da miséria, da injustiça e da vergonha nacional. O
povo espera de vós coragem, e não submissão. Espera firmeza, e não
complacência. Espera exemplo, e não omissão. Governar e fazer cumprir as leis
da república é um ato nobre e só aqueles que têm verdadeiro sentido de Estado
podem alcançar esse desígnio. A história não se esquece dos que serviram com honra. Mas também não
perdoa os que traíram o povo em troca de benesses imediatas. Se não,
vejamos o exemplo do que se passou em Burkina Faso, onde um jovem militar,
movido por coragem e verdadeiro patriotismo, assumiu os destinos do país e pôs
fim ao sofrimento do seu povo através de políticas de nacionalismo e soberania.
Não se tratou de vaidade pessoal, mas de compromisso com a pátria. A
Guiné-Bissau também pode renascer se os seus militares forem dignos do povo que
dizem proteger. Se forem imparciais, incorruptíveis e determinados a romper com
os esquemas de dominação e corrupção que minam a pátria. Aos políticos e governantes da
Guiné, deixo esta súplica: não se vendam. Não vendam a pátria. Não traíam a
memória dos que lutaram pela vossa
terra. Lembrem-se de Amílcar Cabral, o homem que recusou conforto,
recusou vantagens, recusou um bom emprego em Portugal porque entendeu que a
liberdade do seu povo valia mais que qualquer bem material. Ele pagou com a
vida. Pagou caro, mas com honra. É hora de romper com o ciclo da
corrupção. De estabelecer uma nova cultura: intransigente à impunidade,
intolerante à compra de consciências, vigilante dos princípios republicanos.
Guiné-Bissau precisa de uma elite que pense além do seu umbigo. Que veja o país
com olhos de futuro. Que não aceite mais ser manipulada por chefes políticos
travestidos de benfeitores. Dinheiro sujo não constrói escola, não alimenta
hospitais, não gera empregos. Dinheiro sujo apenas envenena, enfraquece e mata silenciosamente uma
nação inteira. Homens
e mulheres da justiça, da educação, da política, da sociedade civil, e acima de
tudo, vocês, soldados e oficiais da república, não aceitem mais o dinheiro de
quem corrompe. Não permitam que a Guiné continue de joelhos diante da
mentira. O mundo vos observa, mas mais importante ainda: os vossos filhos
também