segunda-feira, 21 de julho de 2025

 Guiné-Bissau 

Não Se Venda 

Dignidade, Justiça e Futuro

Não sou guineense. Nem tenho a pretensão de me imiscuir nos vossos assuntos internos – Apenas, um irmão cabo-verdiano, em luta e em sonhos.

O que aqui deixo é um apelo, sincero e comovido, de alguém que observa de fora, mas que deseja profundamente o progresso de um povo irmão, dono de uma história rica, de uma cultura vibrante e de um potencial imenso, chamado  Guiné-Bissau,  considerado um exemplo de coragem e bravura, este país destacou-se pela determinação do seu povo, que, lado a lado com o povo irmão de Cabo Verde, enfrentou e derrubou o colonialismo com firmeza e heroísmo, tornando-se símbolo de resistência e luta pela liberdade.

 Tenho acompanhado, com atenção e tristeza, o cenário político da Guiné há já algum tempo. E o que se revela aos olhos de qualquer observador externo  é uma nação sufocada por práticas que comprometem o seu futuro. O maior problema da Guiné-Bissau não é a falta de recursos( todos sabem disso…), nem de inteligência, nem de um povo ansioso por mudança. O maior problema é a persistência de parasitas do sistema,  “políticos empresários do estado” e, digo mais…  até membros do sistema judicial que trocaram os princípios básicos de  uma sistema que deveria ser decente por favores, influência e dinheiro sujo. Há algo profundamente errado quando a justiça se curva aos interesses do terceiro. Quando os tribunais se tornam palco de manipulações. Quando os homens da toga, aqueles que deveriam ser os últimos bastiões da integridade, carater e coerência se deixam comprar  por dinheiro sujo, calando verdades, atrasando processos, revogando sentenças em nome de interesses ocultos. Senhores magistrados, juristas, advogados: o vosso diploma vale mais que qualquer maço de notas oferecido por quem quer que seja, inclusive (e sobretudo), do atual regime. Não há dinheiro que compre a dignidade de um povo. Não há cargo que valha o sacrifício de um país inteiro. O vosso silêncio, a vossa omissão e a vossa cumplicidade custam caro  não a vocês apenas, mas aos vossos filhos, netos, à nova geração que nascerá já com as mãos atadas se nada for feito agora. E aqui me dirijo diretamente à classe militar da Guiné-Bissau: Homens e mulheres de farda, a vossa missão é sagrada. Sois guardiões do povo, da soberania e da legalidade da república. A vossa farda não é um símbolo de privilégio de circunstancias, de manipulações, mas de responsabilidade  para com o vosso povo. Honrem-na. Recusem o suborno. Não se deixem seduzir pelas migalhas daqueles que roubam do povo para manter o poder. Ser militar é servir. É proteger. É sacrificar-se, se necessário, por um bem maior. Quando vos rendem dinheiro para silenciar-vos, para afastar-vos do vosso dever, estão a transformar-vos em cúmplices da miséria, da injustiça e da vergonha nacional. O povo espera de vós coragem, e não submissão. Espera firmeza, e não complacência. Espera exemplo, e não omissão. Governar e fazer cumprir as leis da república é um ato nobre e só aqueles que têm verdadeiro sentido de Estado podem alcançar esse desígnio. A história não se esquece dos que serviram com honra. Mas também não perdoa os que traíram o povo em troca de benesses imediatas. Se não, vejamos o exemplo do que se passou em Burkina Faso, onde um jovem militar, movido por coragem e verdadeiro patriotismo, assumiu os destinos do país e pôs fim ao sofrimento do seu povo através de políticas de nacionalismo e soberania. Não se tratou de vaidade pessoal, mas de compromisso com a pátria. A Guiné-Bissau também pode renascer se os seus militares forem dignos do povo que dizem proteger. Se forem imparciais, incorruptíveis e determinados a romper com os esquemas de dominação e corrupção que minam a pátria. Aos políticos e governantes da Guiné, deixo esta súplica: não se vendam. Não vendam a pátria. Não traíam a memória dos que lutaram pela vossa  terra. Lembrem-se de Amílcar Cabral, o homem que recusou conforto, recusou vantagens, recusou um bom emprego em Portugal porque entendeu que a liberdade do seu povo valia mais que qualquer bem material. Ele pagou com a vida. Pagou caro, mas com honra. É hora de romper com o ciclo da corrupção. De estabelecer uma nova cultura: intransigente à impunidade, intolerante à compra de consciências, vigilante dos princípios republicanos. Guiné-Bissau precisa de uma elite que pense além do seu umbigo. Que veja o país com olhos de futuro. Que não aceite mais ser manipulada por chefes políticos travestidos de benfeitores. Dinheiro sujo não constrói escola, não alimenta hospitais, não gera empregos. Dinheiro sujo apenas envenena, enfraquece e mata silenciosamente uma nação inteira. Homens e mulheres da justiça, da educação, da política, da sociedade civil, e acima de tudo, vocês, soldados e oficiais da república, não aceitem mais o dinheiro de quem corrompe. Não permitam que a Guiné continue de joelhos diante da mentira. O mundo vos observa, mas mais importante ainda: os vossos filhos também