sexta-feira, 26 de junho de 2020


NAUFRÁGIO DO “TERRA RANKA”


No dia 25 de Março de 2015, saiu de Bissau, comandado por Simões Pereira e recheado de projectos megalómanos para apresentar na Mesa Redonda de Bruxelas. Apesar da data tardia para apanhar ventos de feição, o comandante partiu ciente dos riscos e com a esperança que Deus evitasse males maiores para a sua tripulação e, principalmente, para a sua esposa e filhos. A bordo iam também os diplomatas E.H. Blaise Diplo Djomand, ex-Representante Especial de ECOWAS para a Guiné-Bissau; Ovídio Manuel Barbosa Pequeno, Representante da União Africana para a Guiné-Bissau; o Eng.º Cipriano Cassamá, Presidente da ANP; o Dr. Camilo Simões Pereira, irmão do comandante e piloto da nave Terra Ranka, o senhor Simões Pereira; entre outros seguidores e curiosos.

Os ventos, porém, não sopravam na direcção desejada e as velas ruins do barco tardavam em levar a embarcação ao Cabo da Boa Esperança, o que motivou Simões Pereira a aproximar o Terra Ranka da costa, de forma a arribarem em Dakar/Senegal.

Nessa altura, uma tempestade furiosa partiu ao meio o leme e rasgou as velas da embarcação. Perante este cenário, o comandante ordenou a construção de um novo leme novas velas, com as madeiras e com as roupas que existiam a bordo a servirem de matéria-prima para os “marinheiros” desesperados. Entretanto, cortaram o mastro da proa que estava a abrir a nau e a levar o barco ao fundo.

A ventania e a força das marés começaram a empurrar para terra o desgovernado Terra Ranka que só por milagre se aguentou sobre as ondas. Simões Pereira ordenou então que uma pequena embarcação das naus, cheia de militantes destemidos, fosse à praia mais próxima para descobrir um sítio onde encalhar o Terra Ranka. 

Após o retorno dos militantes remadores e com a informação de que existiam condições para lançar a âncora, o comandante calculou poder desembarcar toda a gente para terra e recolher as armas e mantimentos. Assim,  Simões Pereira, juntamente com a mulher, os filhos e mais vinte militantes, alcançaram Lisboa.

Logo a seguir, o vento voltou a soprar com tanta intensidade que três pequenas embarcações se perderam nas águas, arrastando consigo todos os seguidores seus que transportavam. Após três dias nas terras do Fim-do-mundo, o Terra Ranka desceu para o fundo do mar agitado, ficando-se o número dos sobreviventes por contar. Apesar do cenário dantesco, a tragédia estava só a começar.