O ESCÂNDALO DE 353
PASSAPORTES
A
recente reação do Governo da Guiné-Bissau, expressa pelo Ministro dos Negócios
Estrangeiros, Carlos Pinto Pereira, a propósito da apreensão de 353
passaportes pelas autoridades portuguesas no aeroporto de Lisboa, constitui uma
manobra perigosa de encobrimento institucional e uma tentativa de vitimização
religiosa absolutamente inaceitável no plano diplomático e político.
Em vez de apresentar à Nação uma explicação honesta, fundamentada e juridicamente sustentada, o regime escolheu atacar o Estado português, questionar a idoneidade das suas forças de segurança e insinuar, de forma leviana e irresponsável, motivações discriminatórias de cariz religioso, tentando fazer crer que se trata de uma suposta perseguição ao Presidente cessante Úmaro Sissoco Embaló por este ser muçulmano. Tal argumento, para além de ofensivo à inteligência coletiva, é um insulto à memória democrática e multicultural de Portugal, e revela a absoluta falta de escrúpulos de um poder em colapso moral.
1.
Não
se transportam passaportes como se transportam sacos de amendoim (ou droga)
O transporte de centenas de passaportes
num voo comercial, sem qualquer comunicação diplomática prévia, sem escolta
consular formal, e sem o cumprimento dos requisitos estabelecidos pelas
convenções internacionais — nomeadamente a Convenção de Viena sobre Relações
Consulares — é uma violação grosseira das normas internacionais que regem a
matéria de documentação e segurança migratória.
Pretender justificar esse transporte com “razões religiosas” ou “mera cortesia governamental” aos cidadãos guineenses na diáspora, é um ato de desinformação deliberada. A verdade é que esses passaportes foram fabricados e transportados em violação da legalidade nacional e internacional, sem conhecimento de várias autoridades competentes, incluindo membros do próprio Governo.
De forma intencional, o Ministro Carlos
Pinto Pereira omitiu um dado essencial: grande parte dos passaportes
apreendidos teria sido emitida para cidadãos da República da Guiné (Conakry),
com o objetivo de serem fraudulentamente incorporados nos cadernos eleitorais
da Guiné-Bissau, em Portugal e em outros países do espaço Schengen, a fim de
participarem nas próximas eleições legislativas e presidenciais. Esta manobra, para
além de criminosa, compromete gravemente a integridade do processo eleitoral e
configura um atentado contra a soberania popular guineense.
5.
Aos guineenses: não se deixem enganar
Este
caso não é sobre religião, nem sobre Portugal. É sobre a incompetência, a
ilegalidade e a desonestidade de um regime que perdeu toda a autoridade moral
para governar.
Recusar-se
a dizer a verdade ao povo e utilizar o nome de Deus para justificar práticas
corruptas e criminosas, é o mais alto grau de cinismo político. O povo
guineense, maioritariamente muçulmano, sabe distinguir fé de fraude, e não
aceitará ser instrumentalizado numa operação de manipulação eleitoral.
Conclusão
Não
se tapa o céu com a peneira. E não se varre a verdade para debaixo do tapete
diplomático. A dignidade
da Guiné-Bissau exige governantes responsáveis, transparentes e fiéis ao
interesse público, não acrobatas da mentira institucionalizada.
Este
escândalo deve ser investigado até às últimas consequências. Os autores morais
e materiais desta operação devem ser identificados, responsabilizados e
afastados da vida pública. Só assim a Guiné-Bissau poderá retomar o caminho da
legalidade, da ética republicana e do respeito internacional.
Fonte:
Anónima