A COERÊNCIA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA DA GUINÉ-BISSAU
Com a chegada à Guiné-Bissau das
delegações representativas da UA, EUA, CEDEAO e afins, cheguei a pensar que os
atores políticos guineenses chegariam a um acordo e as divergências em relação
a formação da mesa da ANP e consequentemente do governo, seriam ultrapassadas e
o Presidente da República, teria de “engolir um sapo” para desbloquear o país,
face à pressão externa. Mas assim não aconteceu e ainda bem!
Ao rejeitar o nome do líder do PAIGC para dirigir o governo da X
legislatura, José Mário Vaz limitou-se a ser coerente com ele próprio e com
toda a instituição que ele representa.
Foi coerente porque, enquanto for ele o mais alto magistrado da nação, é uma
utopia pensar numa boa coabitação institucional entre a Presidência da
República e o Governo, com o atual líder do PAIGC a chefiar o governo. Tudo
isso, por falta de humildade e sentido de Estado do líder do PAIGC, que
nunca soube respeitar a figura do Presidente da República nem tão pouco a
instituição Presidência da República.
A Guiné-Bissau deve ser o único país supostamente democrático, deste planeta
onde coabitamos, em que o líder de um único partido, consiga bloquear o
funcionamento da casa da democracia durante três anos, apenas e só porque foi
desalojado do poder e não concebe fazer uma oposição séria e digna, dentro dos
valores de referência democrática. O pior é que saíram impunes, ele e o
Presidente da ANP, desse acto vergonhosamente antidemocrático! E a “imparcial”
dita comunidade internacional, que rapidamente acorreu agora ao país para
exigir a formação de um governo, nessa altura assobiava para o lado e
sancionava os outros à encomenda.
A Guiné-Bissau deve ser o único país, deste planeta onde coabitamos, em
que o líder de um partido, candidato à um lugar de Primeiro-Ministro, recusa-se
a dialogar com a Presidência da República na busca de consensos para
ultrapassar uma crise criada e empolada pelo mesmo, para logo a seguir,
sair entre portas a fazer campanhas de desinformação e diabolização do
Presidente da República do país onde quer ser Primeiro-Ministro!
A Guiné-Bissau deve ser o único país deste planeta, em que o líder de
um partido proíbe os seus militantes de dialogar com o Presidente da República
e, se um militante for apanhado nas instalações do palácio, sem ser mandatado
pelo partido, é imediatamente despojado de qualquer função que tinha antes no
partido, sem que nada aconteça.
A Guiné-Bissau deve ser o único país do mundo que quer ser democrático, em
que o líder de um partido dá o seu aval e marca presença numa vigília onde a
imagem do Presidente da República, o mais alto magistrado da nação, é usada
para simular um velório, apelando à morte do mesmo e a seguir, esperar que o
mesmo “defunto” que criou no seu delírio, venha a conduzi-lo como
Primeiro-Ministro! Nunca iria acontecer, porque o nível político é
diferente e, aquilo que estimulam e apoiam que aconteça na Guiné-Bissau, é
impensável acontecer nos seus países, mas gostava de ver o Primeiro-Ministro
Português, antes de criar a “Geringonça”, participar num acto semelhante com o
uso da figura de Marcelo Rebelo de Sousa para um velório simulado e depois criar
a “Geringonça”, para ver se seria conduzido pelo Presidente da República
Português, como Primeiro-Ministro! Na Guiné-Bissau tudo é possível e esses
novos Honórios Barretos ainda são aplaudidos e estimulados pelos seus padrinhos
lusos!
A Guiné-Bissau deve ser o único país deste planeta, em que um líder
partidário promove ações de rua a exigir a demissão do Presidente da República,
com insultos e caricaturação da imagem do mesmo e a seguir esperar ser nomeado
Primeiro-Ministro, por essa mesma figura, com quem tem de coabitar
institucionalmente!
A Guiné-Bissau deve ser o único país deste planeta, em que um líder partidário
passa uma boa parte da sua campanha eleitoral a tentar ridicularizar a figura
do mais alto magistrado da nação, que nem é o seu adversário política nessas
eleições, para depois esperar ser por ele nomeado como Primeiro-Ministro!
A Guiné-Bissau deve ser o único país do mundo, em que um vencedor das
eleições não só desrespeita o Presidente da República, como não reconhece nem
respeita o líder do segundo partido mais votado!
Ao rejeitar o nome do líder do PAIGC para presidir o governo da X legislatura,
o Presidente da República limitou-se a ser coerente consigo mesmo e sustentado
pela Lei Magna Guineense.
Jomav sim, tem todos os motivos e mais algum, para dizer que podem
apresentar-lhe o nome do líder do PAIGC mil vezes, que ele o chumbará mil e uma
vez, porque efetivamente a coabitação institucional entre essas duas figuras é
completamente inviável.
Espero que o Presidente da República da Guiné-Bissau continue a rejeitar o nome
do líder do PAIGC e ficar sentado a espera de eventuais sanções que, como as
anteriores, serão fáceis de contestar em sede própria.
Já começaram a lançar notícias encomendadas sobre o narcotráfico na
Guiné-Bissau, tentando fechar os olhos ao verdadeiro cerne do problema, que é
umas ilhas na Costa Ocidental de África, cuja a economia é muito dependente do
investimento externo e, hoje em dia, é apenas uma das principais placas
giratórias para o tráfico de drogas provenientes do continente americano.
A Guiné-Bissau precisa urgentemente de uma revolução pacífica, inflexível e
consciente dos seus filhos, para libertar o país de quatro décadas de asfixia e
abuso por parte do PAIGC e, também, para que recuperemos a nossa soberania e
não ficarmos dependentes de decisões políticas externas, mesmo em violação das
nossas leis. Sinto que essa revolução já foi iniciada e falta-lhe crescer e
tomar as devidas proporções…
Jomav, si bu sta dianti na luta, bai… Finka purmeru dubi, di kil casa ku nó
misti cumpu…
Dapi Pilon bua ku fadi balei!
Jorge Herbert