CIVILIZADOS vs DJINTIUS
Dr. Jorge Herbert |
Confesso que resisti muito em escrever estas linhas. Resisti
antes até a ver e ouvir a polémica entrevista da Suzy Barbosa à RTP África!
Mas, lá acabei por roubar um pouco do meu escasso tempo, para ouvir a versão
completa da entrevista. E, depois disso, fiz umas pesquisas relacionadas com o
analfabetismo regional na Guiné-Bissau e sobre quem é Suzy Barbosa.
Falta-me conhecer apenas o resultado que o PAIGC obteve na
região Oio, um dos mais fustigados também pelo analfabetismo, segundo aos dados
de 2009. Será que o PAIGC também perdeu ou ganhou a região de Oio pela taxa de
analfabetismo aí reinante?
Engana-se quem pensar que Suzy Barbosa é contra os muçulmanos ou
o pessoal de leste. Pessoalmente, acredito que ela até gosta muito da região
onde cresceu, tem carinho e é acarinhada pelas pessoas dessa região. Não é por
acaso que ela foi eleita deputada com votos acolhidos nessa região!
A Suzy Barbosa não falou nessa entrevista por si mesma, mas em
representação de uma estratégia montada pelos “renovados”. Sem dúvida que se
renovaram nos métodos usados para o domínio do povo e do país! A Suzy Barbosa é
parte de uma estratégia que só não vê quem não quer ou não consegue ver. Essa
estratégia passa pelo domínio da informação e comunicação, com consequente
manipulação da população, através dos mitos por eles criados, através do
controlo dos blogs de conteúdos nacionais, até a entrevistas programadas nas
linhas editoriais de uma cadeia televisiva e radiofónica paga pelo erário
público português.
Acham que é por acaso que um alienado gritou no dia do anúncio dos resultados eleitorais Viva os Civilizados, a frente da sede do PAIGC?
Acham que é por acaso que um alienado gritou no dia do anúncio dos resultados eleitorais Viva os Civilizados, a frente da sede do PAIGC?
Suzy Barbosa é apenas uma mulher guineense, como muitas outras,
que se licenciou na europa e terá também feito uma especialização. Teve como
experiência profissional ter sido analista de crédito bancário do BES (um banco
já extinto…) e gerente de Relações Públicas de um grupo hoteleiro espanhol, não
sei durante quanto tempo e porque razão depois regressou ao negócio da família
e, a seguir, encontrar a saída profissional perfeita, que é enfileirar-se na
organização criminosa que dominou e domina o país.
É natural que não tenha conseguido estar, o tempo todo que durou
a entrevista, alinhada com a experimentada entrevistadora que, com a segurança
da sua experiência profissional, conduzia brilhantemente a entrevista da forma
pretendida pelo lobbie que sustenta o PAIGC.
A inexperiência traiu a Suzy Barbosa e fê-la levantar o véu da
estratégia não assumida publicamente pelo seu partido, de Civilizados vs
Djintius. Basta olhar pela face atónita da entrevistadora, quando a
entrevistada estava a justificar da forma como se justificou os resultados
eleitorais do seu partido no Leste!
Essa gafe derivada da inexperiência da entrevistada, não teria
impacto público na Guiné-Bissau, se já não existisse uma franja de guineenses
reativos à essa agenda identificada, mas não publicamente assumida. O PAIGC,
por seu lado, comprometido com a estratégia de Civilizados vs Djintius, mas
temeroso que seja descoberto pelo povo que não tardará a ir às urnas nas
eleições presidenciais, tudo faz para justificar e voltar a cobrir o véu que a
Suzy Barbosa inadvertidamente levantou a ponta.
O PAIGC, empolgado com a vitória nas legislativas, ainda sem ter inicado a legislatura, já começaram a meter os pés pelas mãos, porque, de tão empolgados que estão, já estão empenhados em tentar manipular consciências, com vista à futura eleição presidencial.
O PAIGC, empolgado com a vitória nas legislativas, ainda sem ter inicado a legislatura, já começaram a meter os pés pelas mãos, porque, de tão empolgados que estão, já estão empenhados em tentar manipular consciências, com vista à futura eleição presidencial.
Ao PAIGC não lhe interessa absolutamente nada que se continue a
falar da Suzy, para não se ter de destapar definitivamente o véu, encoberto da
sua estratégia de Civilizados vs Djintius. Estão muito mais interessados em
envolver, de qualquer forma e a qualquer preço, o Presidente da República na
polémica do arroz “apreendido” no leste do país, um caso que parece ser mais de
luta político-partidária do que policial ou judicial!
Ainda não consegui entender como é que um Primeiro-Ministro dá
indicações ao Ministro da Agricultura para armazenar toneladas de arroz em
Bissau e esse não cumprir com as suas orientações e o Sr. Primeiro-Ministro
continuar a não dar conta que todo esse volume da mercadoria em causa já não se
encontrava em Bissau, mas sim a centenas de quilómetros de Bissau! Estamos a
falar de toneladas, ou seja centenas de sacos de arroz, que não se transporta
numa carrinha de caixa-fechada! Foi preciso à Policia Judiciária ter ido lá
descobrir esse arroz todo ou, através de uma estratégia política, a Polícia
Judiciária foi para lá encaminhada?! Falando da Polícia Judiciária, queria
saber em que pé está a investigação dos casos dos passaportes que envolveram os
membros do primeiro governo chefiado por Domingos Simões Pereira, que levou o
próprio a assumir publicamente que a justiça estava a perseguir o seu governo?
No esquecimento?! É o que me faz pensar que o PAIGC continua a achar que o povo
guineense continua a pensar como há quatro décadas atrás!
Mas, voltando a Suzy Barbosa traída pela inexperiência da vida e
na política, o que muita gente não se apercebeu é que, ela a justificar que o
PAIGC perdeu o Leste pela elevada taxa de analfabetismo e ausência de meios de
comunicação como a televisão, ela estava justamente a lamentar o facto de a
estratégia manipuladora do PAIGC dito renovado, através do domínio dos meios da
comunicação para disseminação dos seus mitos, não ter conseguido penetrar nessa
região! Nada mudou no Leste do país desde quando o PAIGC ganhava as eleições,
até os dias de hoje, em que perde eleições nessa região! O que mudou
efetivamente, é a estratégia manipuladora do PAIGC, com o uso de uma outra
forma mais eficaz de disseminar mitos e notícias por eles criados, que não
conseguiu penetrar no leste. É justamente pela mesma razão que o PAIGC
conseguiu ganhar Bissau e a Diáspora, empenhados no projecto de Civilizados vs
Djintius, Urbano vs Rural.
É caso para dizer, quem dera que a maioria da população
guineense fosse analfabeta! Manifesto desde aqui a minha maior consideração ao
povo de Leste, o povo das terras que conheci na minha infância - Bafatá,
Contuboel, Gabú, Sonaco, Bambadinca, Fajonquito e outros, principalmente aos
analfabetos, que ainda não sentiram o poder neocolonizador dos novos Honórios
Barretos.
Outra vertente da entrevista que demonstra a ingenuidade e a
inexperiência da entrevistada, é a enfase feminista que ela dá ao seu labor
como activista e política, assente nas outras atividades já praticadas e na
defesa da aplicação da lei da paridade, esquecendo-se que, segundo os dados de
2009, 63,2% das mulheres guineenses são analfabetas! A não ser que a Suzy
Barbosa queira limitar a lei da paridade aos civilizados da zona urbana, onde o
analfabetismo é menor, mas onde as mulheres perfazem 68,4% de todos analfabetos
do Sector Autónomo de Bissau!
Peço aqui para que não se centre as reacções na pessoa da Suzy
Barbosa, nem que lhe seja dirigida ofensas pessoais ou da sua vida privada,
porque ela está incluída e influenciada por uma estratégia movida pela ambição
desmedida de um conjunto de quadros sem provas dadas e sem experiência de
mercado de trabalho (engenheiros sem obras, médicos sem doentes, economistas
sem empresas, etc, etc, etc), que assumiram a cultura de indicações e nomeações
de carácter partidário ou outros lobbies, como forma de afirmação e domínio de
todo um povo, com minimização da sua essência histórica e cultural, em prol da
cultura do ex-colonizador.
Essa estratégia de Civilizados vs Djintius também tem o mais
alto patrocínio de uma diáspora qualificada mas sem afirmação no mercado de
trabalho nos países acolhedores e outra não qualificada, mas saudosa do tempo
do pseudo-elitismo colonial, onde quanto mais assimilado, mais elite.
Aqueles que têm uma formação universitária e não pensam em
consonância com a estratégia e não dependem de cargos de indicações e
nomeações, são tomados como “anormais analfabetos funcionais”!
Confesso que continuo a gostar de ser convictamente analfabeto e
louco para levantar todos os dias para ver e tratar doentes e louco pela
Guiné-Bissau e a sua multiculturalidade e rezo todos para que nunca caia na
dependência da organização criminosa que domina a Guiné-Bissau há mais de
quatro décadas !
Jorge Herbert