A QUEDA DA MERITROCRACIA
E A
ILUSÃO DO INTELECTUALISMO
Há
algo que me irrita profundamente, a forma como o conceito de ser “intelectual”
é banalizado na Guiné-Bissau. Este sujeito golpista e altamente tribalista é
muitas vezes identificado pela sociedade guineense como um jovem “intelectual”.
Procuro perceber que intelectualidade é essa. Talvez precisemos de ser mais
repetitivos e qualificá-lo como um pseudo-intelectual.
Ele
Foi “Presidente” do Tribunal de Contas ao longo destes anos todos, nomeado por
Sissoko com um único critério de mérito, o tribalismo. Trabalhou nessa
importante instituição jurisdicional com base nessa mesma lógica. Há algum
tempo, abriu um concurso dito público no Tribunal de Contas. Concorreram até
professores seus da Faculdade de Direito de Bissau, pessoas altamente
qualificadas e competentes. Depois da divulgação dos resultados, escolheu
apenas os seus, com base em critérios tribais, excluindo quem tinha mais
competência para as vagas.
No
seu mandato, enquanto presidente daquela instituição, nunca fez uma única
fiscalização ao Orçamento de Estado, apesar de essa ser uma das funções do
Tribunal de Contas, porque Sissoko nunca quis trabalhar com um parlamento a
funcionar em pleno. Durante estes anos todos, movimentaram dinheiro ilícito,
proveniente de actividades duvidosas.
Hoje,
este mesmo indivíduo diz que assumiu o cargo de Procurador-Geral da República
deste regime golpista de Horta. Até aqui, siga. Mas durante a cerimónia da dita
passagem de pasta, fez um discurso manifestamente estúpido, cheio de
contradições e marcado por uma postura corporal de arrogância vazia, tão vazia
quanto o próprio discurso, sem conteúdo. Como digo sempre, falar qualquer um
fala, mas o importante é o conteúdo. Vamos aos factos.
1.
Durante o discurso em que afirmou assumir funções como Procurador-Geral da
República, falou repetidamente do combate à droga e à corrupção. Como pode um
afilhado de Sissoko apresentar-se como alguém contra a corrupção ou contra o
narcotráfico? Sissoko foi o presidente que mais viajou no mundo. Isto acontece
porque ele é proprietário de uma empresa de jactos privados? Há alguém naquele
país que ainda não saiba que Sissoko é um dos maiores traficantes de droga da
costa ocidental da África?
A
apreensão de aeronaves no aeroporto Osvaldo Vieira, vindas da Venezuela, é
prova evidente disso. Portanto, este ponto do discurso é vago e sem qualquer
ligação do ponto de vista substancial. Outra incoerência, Ilídio Vieira Té
acumula funções públicas, supostamente como Primeiro-Ministro talvez de Biombo,
e simultaneamente como Ministro das Finanças. Isto também é permitido na
Guiné-Bissau?
2.
Não sei se a Faculdade de Direito de Bissau ensina a unidade curricular chamada
a Organização Judiciária. Se existe, então este sujeito aprendeu-a muito mal,
ou simplesmente não aprendeu absolutamente nada durante seu estudo. Ele diz que
existe um pacote de alterações legislativas, mas como o parlamento não está a
funcionar, o Ministério Público tem de arranjar outra forma de o fazer. Esta
afirmação, vinda de alguém que afirma ter sido nomeado PGR, que estudou
direito, é simplesmente inconcebível. Paradoxalmente, afirmou que considera a
hierarquia como linha vermelha e falou de produtividade e respeito pela
legalidade. Mas esquece que foi nomeado por um decreto inexistente. É um
impostor que se convenceu de que é PGR. Por outro lado, o mesmo regime golpista
publicou um panfleto onde diz ter destituído o Conselho Superior do Ministério
Público, concentrando todos os poderes numa única pessoa, este mesmo indivíduo.
Nem numa sociedade de animais seria admitida tamanha estupidez. Com isto, não
se pode falar de respeito pela hierarquia nem pela legalidade. Aliás, não se
esqueçam que neste momento não existe a Constituição da República no país.
3.
Como disse antes, irrita-me ver pessoas chamarem intelectual a este sujeito.
Nem consegue explicar, em poucos minutos, as funções básicas de um PGR.
Suponhamos que ele fosse realmente PGR. Ao assumir a função, a palavra de ordem
deveria ser o regresso à legalidade constitucional (a defesa da legalidade
democrática). Esta é uma das funções mais nobres do cargo. Há dias, o mesmo
regime golpista divulgou um documento que eu chamo de panfleto, onde afirma
querer criar um conselho qualquer para iniciar uma revisão constitucional. O
país vive uma situação de conflito, praticamente um estado de excepção. Não se
fala em revisão constitucional nestas circunstâncias. Isto é o básico no
Direito Constitucional logo no primeiro semestre do primeiro ano.
Neste
exato momento, há cidadãos sequestrados de forma arbitrária, sem qualquer
processo judicial, há mais de duas semanas, ultrapassando todos os prazos de
prisão preventiva, isto se estivéssemos perante um processo, o que nem é o
caso. Ele não se pronunciou sobre estes cidadãos, apesar de se assumir como
defensor da legalidade. Pergunto: onde está a tão falada intelectualidade deste
sujeito?
4.
Para terminar, deixo uma opinião e um pedido à Faculdade de Direito de Bissau.
Eliminem a unidade curricular de Ciências Políticas. Sinceramente, não vejo a
utilidade de continuar a leccioná-la, sobretudo para estudantes do primeiro
ano. Ensina uma visão tão politizada que muitos, quando assumem cargos
jurídicos, acabam por produzir atos mais políticos do que jurídicos. Para
piorar, o regente da referida cadeira é José Paulo Semedo. Acham que assim
estão a formar juristas com rigor técnico ou políticos sem qualquer senso
crítico sobre o que é ser jurista? Algumas cadeiras por si só já têm componente
política suficiente. Qual é a necessidade de uma disciplina específica de
Ciência Política? Provavelmente, José Paulo foi professor deste jovem.
Pessoas
como José Paulo Semedo e o jovem tribalista e pseudo-intelectual aqui na imagem
deviam ser afastados da faculdade. No caso de José Paulo, não apenas pela falta
de rigor e preparação necessários para leccionar, nem só pela fraca utilidade
da cadeira, mas também porque são golpistas. A Faculdade de Direito deve
preservar o seu prestígio e credibilidade.
Por
Samuel Yofa Nambera