O embaixador da Guiné-Bissau em Cabo Verde defendeu ontem, dia 23,, na Cidade da Praia, que, embora não seja obrigatório, Cabo Verde poderia prestar “alguma solidariedade” aos ex-combatentes pela liberdade das duas pátrias que residem naquele país.
M'Bala Alfredo Fernandes falava à Inforpress, no âmbito das comemorações do dia dos Combatentes da Liberdade da Pátria, celebrado a 23 de Janeiro, na Guiné-Bissau.
Na Cidade da Praia, a Embaixada daquele “país irmão” promoveu uma “conversa aberta” e almoço de confraternização, com pratos típicos guineenses, na sede da Associação dos Combatentes da Liberdade da Pátria (ACOLP).
“O fardo histórico daqueles que estão ainda mutilados, órfãos de guerras, etc… quase a maioria está na Guiné-Bissau. É bom reflectir o que nós os outros podemos fazer para com aqueles que ainda estão lá em outras condições”, disse.
Por isso, o diploma entende que o Estado cabo-verdiano poderia ser também solidário para com os combatentes que estão na Guiné-Bissau. “A luta foi dura. Sendo um país irmão, nos poderia prestar alguma solidariedade”, ajuntou.
Entretanto, M´Bala Alfredo Fernandes relembrou que, tanto a Guiné como Cabo Verde são países independentes, pelo que não se pode dizer a ninguém para prestar atenção, mas que sim, “seja solidário aos que também deram as suas vidas e a sua juventude para a independência dos dois países”.
Esta solidariedade poderá ser prestada, segundo esta fonte, de acordo com a disponibilidade de Cabo Verde.
“Compreendemos que Cabo Verde é um país com parcos recursos”, pontuou o embaixador para quem as autoridades cabo-verdianas poderiam fazer jornadas de reflexão, excursões turísticas, trazer os antigos combatentes, pelo menos aqueles que lutaram na “zona zero”, da Guiné para conhecerem o desenvolvimento do arquipélago e levarem os combatentes de Cabo Verde para revisitar a Guiné.
“Isto já é prestar uma solidariedade para com aqueles que lutaram para a independência”, disse este interlocutor, reconhecendo, entretanto, que “Cabo Verde não tem essa obrigação”.
Segundo disse M´Bala Alfredo Fernandes, os combatentes pela liberdade da pátria na Guiné-Bissau têm uma situação “um pouco diferente” do enquadramento que Cabo Verde tem para com os seus combatentes da liberdade da pátria.
“Quero com isto dizer que a guerra de 7 de Julho e as crises cíclicas que o país conheceu fez com que nós não tenhamos um plano claro e explícito que foi cumprindo ao longo dos tempos”, ajuntou.
Este responsável informou ainda que há um plano sobre os antigos combatentes, um ministério dos antigos combatentes da pátria e também uma associação, mas só que, quer a pensão, como os privilégios, “ainda não se pode comparar com os que estão em Cabo Verde usufruem”.
Sobre o evento realizado em parceria com a Associação dos Combatentes da Liberdade da Pátria, M´Bala Alfredo Fernandes disse que foi um almoço de conversa aberta simbólica que visou celebrar “na base da amizade” o Dia dos Combatentes de Liberdade da Pátria.
“É neste âmbito, imbuído desta razão histórica que fez com que a Embaixada contactasse com a direcção da Associação do Combatentes da Liberdade da Pátria (ACOLP), na pessoa do seu presidente, Carlos Reis, e dizer que nós não queremos deixar passar esse dia em branco porque é um dia de reflexão”, explicou o diplomata completando que, para a Guiné-Bissau, Janeiro é um mês de reflexão.
Por isso, entende aquele embaixador que “não seria bom” que esta data fosse celebrada na Guiné enquanto que há em Cabo Verde combatentes da liberdade da Pátria, “heróis da guerra” ainda vivos sem extrapolar e exportar “este sentimento de pertença histórica para também com eles”.
“Temos que resgatar a nossa história comum. Isso constitui o nosso desafio. A Guiné e Cabo Verde tem uma relação antes da formação de qualquer movimento nacionalista. São relações de consanguinidade que vêm da história. Por isso, nós temos de ter carinho um com o outro”, defendeu.