Chimoio - Uma iniciativa de uma organização não-governamental em Manica, centro de Moçambique, permitiu resgatar oito raparigas em casamentos prematuros este ano, a maioria arranjados por parentes e líderes religiosos das vítimas.
No ano passado, 15 raparigas foram recuperadas, a viver maritalmente com homens polígamos, pela Lemusica (Levanta Mulher e Siga o seu Caminho), uma organização não-governamental (ONG) que apoia vítimas de violência sexual e doméstica na província de Manica.
"A situação dos casamentos prematuros está estacionária, mas é preocupante", declarou à Lusa Cecília Ernesto, oficial de programas na área da rapariga na Lemusica, considerou que a ganância por uma "vida fácil" leva várias famílias a venderem as suas filhas menores a homens mais velhos.
A ONG criou, desde 2006, Clubes de Raparigas, que trabalham com grupos de escuta e denúncia, constituídos por chefes de família, matriarcas e líderes comunitários, junto das comunidades e escolas, cuja missão é descobrir casos de abuso sexual, violência doméstica de menores e casamentos prematuros.
Os grupos têm sido o "escape" para as vítimas denunciarem os casos.
Em Outubro, uma rapariga de 14 anos procurou abrigo na Lemusica, quando era forçada pelos pais a regressar a casa do noivo, depois de ter fugido do pretendente, de 35 anos.
A rapariga só conseguiu o "divórcio" quando foi devolvido ao noivo um saco de arroz, cinco litros de óleo, dois copos e pratos de esmalte, duas caixas de refrescos, um garrafão de vinho e 3.000 meticais (62,5 euros), que a família da moça tinha recebido como dote tradicional - o chamado "lobolo".
Num outro caso, em Julho, uma rapariga de 12 anos, que tinha sido entregue para um casamento com um homem de 40 anos em Chigodole (distrito de Vanduzi).
Segundo Cecília Ernesto, as raparigas foram entregues porque os pais queriam uma vida boa de borla, ela também teve o casamento rompido, para dar lugar à sua reintegração social e educacional.
"O primeiro trabalho que fazemos é reintegrar as raparigas na escola e damos apoio social para o seu enquadramento nas famílias e comunidades", explicou Cecília, sublinhando ser fundamental dar "um seguimento rigoroso a cada caso, porque após mediação (por vezes litigiosa) há famílias que devolvem a rapariga aos noivos".
Os últimos dados divulgados pelo UNICEF indicam que Moçambique tem uma média nacional de 48% de raparigas que se casam antes dos 18 anos e 14% antes dos 15.
Em relação à África Austral, Moçambique situa-se em segundo lugar, apenas atrás do Malawi.
O casamento prematuro é um dos problemas mais graves de desenvolvimento humano em Moçambique, mas ainda é largamente ignorado no âmbito dos desafios de desenvolvimento que o país persegue requerendo por isso uma maior atenção dos decisores políticos, alerta o UNICEF.
O casamento antes dos 18 anos é particularmente elevado nas províncias do Niassa e Cabo Delgado (norte) e Manica (centro). Fonte: Aqui