domingo, 8 de novembro de 2015

ANGOLA: HOUVE INDEPENDÊNCIA MAS NÃO DESCOLONIZAÇÃO DAS MENTES

Série Especial:Racismo em português, Angola
40 anos depois da independência, as tensões raciais ainda estão à flor da pele: vê-se no discurso, nas filas de espera, na competição pelos lugares de chefia. “O privilégio branco é visível também em Angola”

A igreja da Sagrada Família, em Luanda, é um dos monumentos mais conhecidos da cidade. Projectada pelos arquitectos Sabino Correia e Sousa Mendes, foi inaugurada em 1964, num bairro movimentado, Maculusso.

Na estrada e no passeio atravessa-se uma pequena amostra da população da Angola de hoje: um jovem com roupa desportiva, um militar, uma candongueira, um engravatado. Centenas de pessoas passam por ali, a pé ou de carro, e é provável que muitas já nem notem um mural vermelho onde se conta, a escrito e a desenho, “a história do MPLA pela juventude”.

Frases como “escravidão camponesa” alinham-se a amarelo. Seguindo, então, a história, podemos ler: “Para os angolanos sempre o pior trabalho”. “Exploração” e “colonialismo”. Um homem negro com uma venda nos olhos e outra venda na boca foi desenhado a preto e branco, assim como uns contentores com Lisboa e Portugal escritos a preto. A sequência de imagens e palavras não é necessariamente esta, mas a mensagem que nasce da associação entre elas é óbvia — a exploração da terra e do povo pelos colonos portugueses.

Passados 40 anos da independência, o legado colonial em Angola não se sente apenas na arquitectura da cidade. O discurso que se lê nos murais está, também, nas palavras dos angolanos na rua. Das fracturas que o colonialismo deixou, nas relações raciais, há marcas que o tempo não apagou nem apagará tão cedo — marcas mais evidentes para uns do que para outros, marcas mais associadas ao colonialismo por uns do que por outros. Ler a reportagem completa