terça-feira, 4 de março de 2014

A RÚSSIA APRENDEU COM A AMÉRICA



Os Estados Unidos não vão combater a Rússia. A NATO também não. A União Europeia ainda menos. Porquê? Têm medo. A não ser que os seus líderes estejam loucos. Por isso, a Rússia pode violar o direito internacional.

E então? A segunda invasão dos Estados Unidos da América ao Iraque violou o direito internacional: George W. Bush alegou na altura a "legítima defesa preventiva" por, supostamente, Saddam ter armas de destruição maciça que poderiam atingir a América. Se houvesse provas disso, a base jurídica para lançar o ataque estava encontrada.

Essas provas não existiam. Apesar do parecer contrário do Conselho de Segurança da ONU (e até da França e da Alemanha) as tropas americanas avançaram. Isto está contado e recontado. A contagem dos mortos, no entanto, está por fazer: estima-se entre 100 mil e 500 mil pessoas.

Nesse dia 20 de março de 2003 voltámos ao tempo em que bastava a vontade de um príncipe para ser declarada uma guerra internacional. A civilização andou para trás.

Vladimir Putin, o presidente russo, tem tiques de príncipe, mas quando John Kerry, o chefe da diplomacia americana, o acusa de comportamento do século XIX por enviar tropas para a Crimeia está a omitir o precedente que legitimou um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas a invadir outro país sem base jurídica válida. Esse precedente proveio dos gabinetes da Casa Branca.

As retaliações económicas e a queda nas bolsas para a Rússia serão nuvens passageiras. Na Ucrânia o poder político é frágil, de legitimidade duvidosa e, ainda por cima, corre para os braços de um empréstimo do FMI que lhe vai proibir qualquer veleidade bélica. Se, mesmo assim, houver guerra na Crimeia, o mundo ocidental ficará a assistir à mortandade, a comentar, a condenar e, cinicamente, a comercializar armas.

Os príncipes dos países mais poderosos do mundo não precisam saber direito internacional.