Em 10 anos a violência contra as brasileiras negras aumento, enquanto reduziram os números referentes às mulheres brancas.
Os dados estão no Mapa da Violência 2015, produzido pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais e com apoio da ONU.
De acordo com a informação oficial, 46.186 mulheres no país foram assassinadas entre os anos 2003 e 2013.
Desse total, 25.637 eram negras, ou seja, 55%.
Os homicídios contra as mulheres brancas no período foram 17.500, o equivalente a 37% do total.
Nesses 10 anos, a taxa de homicídios de mulheres negras e pardas cresceu 19,5%, enquanto a taxa de homicídios contra mulheres brancas caiu 11,9%.
Em média, 11 mulheres foram assassinadas no Brasil todos os dias.
Os dados estão no Mapa da Violência 2015 apontam o Brasil como o quinto país mais violento para mulheres num ranking de 83 nações que usam dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Conforme a pesquisa, em 2003, a taxa de homicídios de mulheres negras no Brasil era de 4,5 para cada 100 mil habitantes.
Dez anos depois, essa taxa subiu para 5,4/100 mil habitantes.
Por outro lado, houve uma queda na violência contra as mulheres brancas.
As taxas reduziram de 3,6/100 mil habitantes em 2003 para 3,2/100 mil habitantes em 2013.
O estudo ainda mostra que em média no último ano no Brasil, 405 mulheres receberam por dia atendimento médico na rede pública de saúde porque sofreram algum tipo de agressão.
Em 2013, 4800 mulheres brasileiras foram assassinadas no país.
A estimativa é que metade delas foi morta por alguém próximo da família.
Em 1/3 dos casos, os autores das agressões eram parceiros ou maridos das vítimas.
O sociólogo e coordenador desse estudo, Julio Jacobo explica porque as mulheres brasileiras sofrem a com a violência.
“Basicamente porque há um enorme processo de recrudecimento no Brasil do sexismo e machismo. O Brasil ainda é um país muito patriarcalista e os movimentos das mulheres nos últimos anos voltaram-se para medidas protetivas. Neste momento, medidas conservadoras surgem contra as mulheres em várias áreas do desenvolvimento social brasileiro. Há então um retrocesso nas conquistas que tiveram nos últimos anos e até mesmo na área dos direitos das crianças. Isso marca uma reação para barrar essas conquistas das mulheres inclusive a Lei Maria da Penha”, disse.
Julio Jacobo ainda destaca que a diferença entre as mortes de mulheres negras e brancas é resultado de pelo menos três fatores: a impunidade, a falta de investimento do Estado e a cultura ainda existente de que a mulher é submissa e não pode fazer suas escolhas.
“Há uma desvalorização da mulher e uma supervalorização do homem na relação familiar. Ainda temos uma estrutura patriarcal. A mulher assume vários papeis subordinados, como cuidar dos filhos e do marido”, afirma Jacobo .
Para os próximos anos, o sociólogo não vê boas perspectivas para as mulheres brasileiras, uma vez que o governo ainda está longe de encontrar soluções para acabar com essa violência.
“Diria que sim até que possa ser barrado todo esse processo conservador para que essas conquistas das mulheres possam avançar. O Estado precisa incrementar políticas que beneficiem as mulheres em curto prazo. Há um contingenciamento de programas sociais e faltam recursos financeiros para investimentos. Torço para que esses resultados apareçam nos próximos anos, mas não vejo muitas perspectivas”, conclui.
Nas comparações feitas entre os estados brasileiros, o Mapa da Violência ainda mostra que a maior taxa de homicídios contra mulheres negras em 2013 ocorreu no Estado do Espírito Santo (11,1 homicídios/100 mil habitantes).
Já São Paulo teve a menor taxa, 2,7 homicídios/100 mil habitantes.
Em relação às mulheres brancas, Rondônia foi o Estado mais violento em 2013.
A taxa de homicídios chegou a 6,4/100 mil habitantes.
Ainda conforme o estudo, o Estado de Roraima foi o mais seguro nesse período, com uma taxa zero. Voz da América