Dakar - Um antigo preso do regime de Hissène Habré(na foto), que foi encarregue de enterrar os seus companheiros mortos, disse segunda-feira na audiência do julgamento do ex-presidente tchadiano, de ter a esperança de vê-lo um dia "responsabilizado pelos seus actos".
Depois de ter a responsabilidade de ser cozinheiro da prisão, tornou-se também um coveiro, explicou o presidente da Associação das Vítimas dos Crimes do Regime de Hissène Habré (AVCRHH), Clément Abaifouta, no reinício do julgamento, após uma pausa de uma semana.
"Cavamos um metro e eles disseram que isso é o suficiente”, eles não precisavam ser vistos. Depois de voltarmos para os locais de detenção", disse, acrescentando que esta tarefa macabra foi repetida diariamente", dois ou três, dependendo do ritmo das pessoas que morriam".
"As pessoas morreram de edema, disenteria, irritações da pele, coisas que poderiam curar. Quando vinham a procura as 17horas, era para torturá-las", disse Clément Abaifouta, detido por quase quatro anos sob suspeita de pertencer à rebelião.
Segundo Clément Abaifouta, as mortes podiam subir entre 20,30 e até 40, mas o mínimo era de 10 por dia", precisou em resposta a perguntas dos advogados nomeados pelo tribunal para a defesa, que o conseguiram reconhecer o sofrimento devido os "lapsos de memória".
"Na prisão, quando não se tem força moral, a pessoa torna-se louco... Era necessário construir uma moral. Tínhamos um objectivo, esse objectivo era o de ver Habré responsabilizado pelos seus actos", disse.
"Aqui estamos hoje, o dia em que estávamos a espera há 25 anos", disse o presidente da AVCRHH.
Detido há dois anos no Senegal, tendo fugido em Dezembro de 1990 depois de ser derrubado pelo actual presidente Tchad, Idriss Deby Itno, Hissène Habré foi acusado por "crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crimes de tortura".
Ele tem comparecido desde 20 de Julho perante as Câmaras Africanas Extraordinárias (CAE), um tribunal criado em virtude de um acordo entre o Senegal e a União Africana (UA), que o acusa e no qual ele recusa de falar e de se defender.
A repressão sob regime Habré (1980-1982) fez pelo menos 40 mil mortos, segundo as estimativas de uma comissão de inquérito tchadiana.
Ele pode apanhar até prisão perpétua. Fonte: Aqui