domingo, 21 de fevereiro de 2016

Cultura: CARNAVAL 2016 TERMINA COM ONDAS DE CONTESTAÇÕES

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O grupo cultural Chão de Papel Varela e a Região de Biombo, segundo e terceiro classificados respectivamente, contestaram os resultados do desfile nacional do carnaval 2016, publicados pela Comissão Nacional Organizadora, da maior festa cultural do país.
 
A Região de Biombo, por exemplo, terceiro classificado a nível de grupos já ameaçou não participar do desfile nacional de carnaval do próximo ano e, consequentemente dos desfiles subsequentes, alegando irregularidades na classificação dos grupos concorrentes.
 
De acordo com o delegado da Regiao de Biombo, Ildo José Lima, o critério estabelecido para o desfile foi violado pela Comissão Nacional Organizadora do Carnaval, desobedecendo a originalidade definida pela própria comissão.
 
“Dentre as regras estabelecidas consta que os grupos deviam pautar mais pela inovação, criatividade, expressividade, originalidade e identidade, mas tudo isso acabou por falhar. A Região de Biombo ficou revoltada com actuaçao da comissão, sobretudo com a violação do regulamento interno que não permitia a participação de mais de cem pessoas num só grupo”, observa.
 
Segundo Ildo José Lima, lamentavelmente a Região de Biombo será forçada, no futuro, a organizar o seu próprio carnaval como sinal de repúdio às “irregularidades ocorridas” na classificação dos grupos.
 
O representante do grupo alega que a Região despendeu muito investimento a volta das actividades carnavalescas, pelo que reclama a compensação como forma de valorização do mesmo. Afirma, no entanto, que o grupo local não atingiu a classificação almejada, porque não havia na Comissão uma figura de influência que pudesse ajudar a colocá-lo na posição merecida.
 
“De 2009 a 2016, a Região de Biombo conseguiu apenas fazer parte do círculo dos melhores classificados. Onde está a originalidade da nossa cultura?”, questiona, lamentando a atitude da Comissão Nacional do Carnaval.
 
REAÇÃO DO GRUPO DO CHÃO DE PAPEL VARELA
 
Reagindo ao anúncio dos resultados, Inocêncio Gomes Correia, representante do Grupo Cultural Chão de Papel Varela alega que o seu grupo é o justo vencedor do carnaval, porque foi o único grupo que se apresentou ao desfile respeitando os critérios definidos pela comissão: Carnaval festa de N´Turudu.
 
Inocêncio Gomes Correia diz que estranhamente não compreende em que bases e critérios o corpo de jures do desfile nacional se baseou para atribuir ao grupo de Sintra a primeira posição na categoria de máscaras, uma vez que no desfile realizado ao nível dos grupos de Bissau, e que este grupo participou, Chão de Papel Varela ficou em primeiro lugar. E, fora com essas mesmas máscaras que Sintra se apresentou aos dois desfiles.
 
“Seria mais justo se tivessemos ficado em segundo lugar na categoria das máscaras do carnaval nacional, perdendo apenas o primeiro posto a favor de uma das regiões concorrentes. O que não pode ser, é ganhar primeiro lugar na categoria das máscaras ao nível do Sector Autónimo de Bissau e depois perdê-lo no desfile nacional a favor de Sintra, que já havia perdido connosco no anterior concurso, apresentando-se com tudo o que tinha.  É muito estranho! ”, lamenta.
 
Para Inocêncio Gomes Correia, o resultado da classificação do desfile nacional coloca em causa a capacidade dos jures do SAB. Insiste ainda que não tem dúvidas, o seu grupo apresentou-se no desfile conforme as normas da comissão.
 
NETOS DE BANDIM – CRITICA GRUPOS QUE CONTESTAM RESULTADOS
 
Por sua vez, o Coordenador do grupo vencedor do desfile carnavalesco, Hector Cassamá (Negado), diz que o prémio recebido reflete o esforço do grupo e, consequentemente é uma resposta ao facto do grupo ter abdicado do carnaval de 2015 para se preparar melhor para este ano.
 
Hector Cassamá espera ainda que o fundo conseguido vai permitir ao grupo dar um “passo gigantesco”, continuando a desenvolver o seu trabalho.
 
Reagindo às contestações dos grupos adversários, o responsável do grupo cultural “Netos de Bandim” chama a atenção para que o Carnaval não se resuma apenas a um simples espaço de desfile de trajes tradicionais, ou seja, um campo de dramatizações, mas sim um mega espetáculo para oferecer ao povo, e este poder estar cativado com o que lhe é apresentado.
 
“As pessoas acusam sempre sem fundamentos, mas nunca olham para suas acções. Será que a deflorestação não é um crime. Arrancar todos anos uma palmeira para o exibir no carnaval não é um crime. Se um grupo tiver que participar vinte anos consecutivos nos desfiles significa que vinte palmeiras serão arrancadas do solo. Como ficará a nossa floresta? As pessoas que estão a criticar têm que ter primeiro a consciência do que estão a críticar e saber distinguir uma simples passarela de um carnaval propriamente dito”, assinala Hector Cassamá.
 
Em entrevista ao Jornal  “O Democrata”, a Comissão Nacional Organizadora do desfile nacional, que foi liderada por António Spencer Embaló disse que tinha proposto aos grupos a assinatura de um termo de compromisso, em como aceitariam os resultados divulgados pela comissão organizadora do Carnaval. Assim sendo, e como contrapartida a Comissão decidiu abrir as mãos as inscrições, ou seja, abdicou de cobrar as mesmas aos grupos concorrentes.
 
O carnaval 2016 decorreu sob o lema: Resgate e Valorização da Nossa Cultura: Guiné-Bissau – Terra de N´turudu. O grupo Netos de Bandim ficou na primeira posição com um prêmio de oito milhões de francos Cfas. O grupo de Chão-de-Papel conseguiu o segundo lugar obtendo seis milhões de Ffrancos Cfas, e o terceiro classificado foi a Região de Biombo, arrecadando quatro milhões de Francos Cfas, respectivamente. Os resultados foram contestados por esses dois últimos grupos, alegando irregularidades e desvios às regras estabelecidas pela comissão, pelo colectivo de jures.
 
Por: Filomeno Sambú