domingo, 14 de fevereiro de 2016

Reportagem: CENTRO DE PRÓTESE DE QUELÉLÉ – “BOMBEIRO” DE DOENTES DE TROMBOSE

Paciente durante a sessão de tratamento de Acupuntura (método de tratamento chinesa)
O aumento de casos de acidente vascular cerebral (trombose) está a constituir um desafio enorme ao sistema nacional de Saúde Pública e em particular para os técnicos de Centro de Recuperação e Reabilitação Motora. Regista-se cada dia no país casos de doentes de acidente vascular celebrar (trombose) que deixa as autoridades sanitárias de mãos atadas e sem uma solução à vista, em termos de tratamento e cura eficiente da doença, razão pela qual a maioria das vítimas recorre às curas tradicionais e espirituais.
 
Ainda de acordo com o especialista de saúde, a maioria dos pacientes com hipertensão arterial apresentam insuficiências cardíacas, que são provocadas, na maioria dos casos, pelo estilo de vida levada pelas pessoas, e isso pode favorecer as condições de alto risco para padecer da doença de trombose.
 
Centro de Prótese, como é conhecido pelos guineenses, é o único centro que cuida de reabilitação das pessoas atingidas pela trombose, está situada no Bairro de Quelélé (periferias de Bissau).
 
Neste momento, centro depara-se com várias dificuldades a começar pela superlotação do seu espaço, insuficiência de técnicos com formação específica na área, falta de piscina de natação para casos de recuperação, falta de rampa de treino para quem precisa de exercício de reabilitação física.
 
Sobre a sua situação do centro, uma equipa de reportagem do semanário “O Democrata”, deslocou-se ao local, para se inteirar da real situação de funcionamento desta instituição que é tida como o “Bombeiro” de doentes de trombose, dado que consegue salvar vidas dos doentes, ou seja, ajuda de que maneira na recuperação das pessoas atingidas por AVC.
 
OFICIAIS MILITARES APODERAM-SE DO ESPAÇO DO CENTRO
 
Uma das dificuldades do centro tem a ver com a situação do espaço para abrir mais serviços técnicos que poderiam ajudar facilmente na recuperação de doentes, dado que o existente e que outrora pertencia ao perímetro do centro é ocupado agora por oficiais militares e alguns particulares que aí construíram casas.
 
Segundo informações apuradas pelo repórter do Jornal “O Democrata”, a ocupação do terreno de centro começou depois do Conflito- Político e militar de 07 de Junho de 1998, em que os oficias decidiram ocupar parte do centro para construir casas.
 
As residências construídas para receber pacientes provenientes do interior do país e sem família em Bissau, foram igualmente ocupadas por militares que, de acordo com as informações, alegam que o edifício e o próprio centro pertence ao ministério da Defesa Nacional e não ao ministério da Saúde Pública.
 
SERVIÇO DE FISIOTERAPIA DO CENTRO ATENDEU MAIS DE MIL PACIENTES EM 2015
 
O serviço de fisioterapia do centro atendeu, para efeitos de tratamento através de exercícios físicos e massagem em 2015, 1.929 (mil e novecentos vinte e nove pacientes). Entretanto, o número de pacientes que recorrerem aos serviços, superou os dados de 2014, que foram estimados em 1.474 (mil e quatrocentos setenta e quatro).
 
Ainda de acordo com as estatísticas, a maior parte dos pacientes recebidos no centro é de idades compreendidas entre 30 e 40 anos, que são considerados de primeiro grupo. Enquanto o segundo grupo é constituído por idosos, ou seja, pessoas com mais de 50 anos de idade.
 
Um número considerável de pacientes acaba por desistir do tratamento devido a dificuldades financeiras para custear o transporte de casa para o centro e vice-versa. Tendo em conta a desistência do tratamento por pacientes, o centro a não dispõe do número exacto de pessoas que recorrem ao tratamento no mesmo.
 
PACIENTES PAGAM DOIS MIL FRANCOS CFA DIÁRIOS PARA A SESSÃO DE EXERCÍCIO
 
O serviço de fisioterapia do centro dispõe apenas de quatro técnicos formados na área e os restantes são simplesmente pessoas recrutadas e com vontade de assistir os doentes sob a orientação dos técnicos. Essa situação, de acordo com as informações, é uma das grandes dificuldades desta instituição, sobretudo no concernente a resposta eficaz do serviço solicitado pelos pacientes.
 
A sala do ginásio tem a capacidade para acolher entre 15 a 20 pacientes para a sessão de exercício, mas tendo em conta a procura do serviço leva muito mais do que a sua capacidade normal. Esta situação dificulta os técnicos em temos de orientação dos exercícios.
 
O preço praticado para o exercício aos pacientes estima-se em dois mil Francos CFA diários, sendo os mais executados pelos doentes são: a massagem corporal, correcção de marcha e mobilidade.
 
PACIENTES PEDEM AO EXECUTIVO PARA DAR APOIO TÉCNICO E FINANCEIRO AO CENTRO
 
Não obstante as dificuldades de ordem materiais e de recursos humanos, Centro de Recuperação e Reabilitação Motora   tem registado sucessos no tratamento de pacientes afectados por Acidente Vascular Cerebral.
 
Este facto foi testemunhado por uma vítima das, Paula da Silva, de 45 anos de idade, mãe de três filhos, que contou a nossa reportagem que logo depois de ser atingida pela doença, não conseguia fazer nada sem ajuda das pessoas, tendo chegado a pensar que jamais recuperaria das mazelas por forma a retomar as suas actividades normais.
 
Paula da Silva explicou com uma voz trémula que conseguiu  recuperar  da doença graças a intervenção dos técnicos do Centro, que lhes apoiaram psicologicamente e no tratamento, durante  o período de um ano em que durou o seu tratamento. Contou ainda que graças ao tratamento que recebeu agora consegue andar sem ajuda de ninguém.
 
Reconheceu no entanto, que o centro se depara com dificuldade de várias ordem, por isso aproveitou o nosso semanário para apelar ao governo no sentido de criar mais condições ao centro em termos materiais de trabalho, a fim de fazer o seu trabalho.
 
Um outro paciente de 27 anos de idade, que escusou-se de revelar o nome, pediu o executivo no sentido de prestar muita atenção ao centro, tendo em conta o trabalho de salvar vidas das pessoas que tem feito. Acrescentou ainda que na sua opinião deve ser criadas condições ao centro para acolher os pacientes provenientes do interior.
 
“Apanhei essa doença no ano passado, mas consegui recuperar graças ao tratamento do centro, por isso apelo as pessoas de optarem pelo tratamento do centro em vez de recorrer ao tratamento tradicional, que muitas vezes acabam por ficar ainda mais pior”, notou o jovem.
 
JOÃO KENNEDY RECONHECE FALTA DE CAPACIDADE DE ATENDIMENTO DO CENTRO
 
O director do Centro, João Kennedy de Pina Araújo, reconheceu na entrevista à nossa reportagem que o aumento de casos de doentes de AVC está a ter consequências directas no centro, dado que não dispõem de capacidade de atendimento em termos técnicos e de pessoal para dar uma resposta satisfatória.
 
Revelou que diariamente os técnicos do centro atendem mais de 60 pacientes provenientes de diferentes bairros da capital e inclusive os que vêm das regiões, que segundo ele, acabam por abandonar o tratamento devido a falta de espaço para residirem bem como de meios financeiros para pagar o transporte diário.
 
“Sabemos que há um número significativo de pessoas do interior que precisam do centro para o tratamento, mas que infelizmente não têm a informação sobre a existência do centro e do seu serviço. Há aqueles que têm informação sobre o serviço do centro, mas infelizmente preferem recorrer o tratamento tradicional, então muitas dessas pessoas não conseguem recuperar-se e por último recorrem ao centro. E muitas vezes essas pessoas chegam em situação cansada e isso nos dificulta e muito”, explicou.
 
Assegurou que o centro tem equipamentos técnicos básicos para fazer recuperação de qualquer cidadão atingido pela doença. Contudo, lamentou a falta de espaço para ampliação, ou seja, a criação de outros serviços que poderiam ajudar facilmente na recuperação de doentes.
 
ESTILO DE VIDA LEVADO PELAS PESSOAS FAVORECE RISCOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
 
Entretanto, a nossa reportagem contactou um especialista de saúde para falar das causas do AVC (trombose) e as medidas que se podem adoptar para a sua prevenção.
 
Quinhi Nantote que igualmente exerce a função de director-geral do Hospital Militar Principal, explicou à nossa reportagem que a maioria dos pacientes com hipertensão arterial apresentam insuficiência cardíaca, que de acordo com ele, são provocadas na maioria dos casos pelo estilo de vida levado pelas pessoas.
 
“O estilo de vida levado pelos individuos favorece as condições de alto risco para padecer da referida doença. Este estilo de vida leva as pessoas a acumular o colesterol, especificamente no coração, limitando o seu normal funcionamento. Um coração com essas condições facilmente padece de outras aritimias que podem levar ao desprendimento de um êmbolo, que pode ser uma partícula, um coágulo ou gordura acumulada, que no seu trânsito de circulação pode entupir uma artéria e fazer o indivíduo apresentar um quadro de trombose, sobretudo provocado por fibrilação auricular”, explicou o especialista.
 
Assegurou ainda que as diabetes são igualmente um dos factores de risco graves para doenças cardiovasculares, uma vez que são associadas à hipertensão, como também facilita a acumulação de colesterol nos obesos.
 
“Na Guiné-Bissau, a falta da procura de centros de saúde por parte dos pacientes levou ao aumento da patologia da doença e da sua gravidade”, notou o médico que, entretanto, sustentou que os pacientes só procuram os centros médicos, quando se encontram na fase mais avançada da doença.
 
Aproveitou a ocasiãao para aconselhar à população e principalmente aos da faixa etária de 35 anos de idade para cima, no sentido de procurarem conhecer o seu estado de saúde.
“O metódo mais ideal de prevenção da doença é conhecer o seu estado de saúde, sobretudo quando estiver nos 35 anos de idade ou mais. Fazendo a determinação da pressão arterial, principalmente quando está a ganhar peso”, conclui.
 
De referir que o Centro de Recuperação Reabilitação Motora começou a funcionar na década de 1990, mas parou durante o Conflito Político Militar de 1998. Foi reconstruído em 2011 com o apoio da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), tendo sido equipado pela Cruz Vermelha Internacional.
 
Por: Tiano Badjana/Alcene Sidibé