sábado, 28 de março de 2015

QUANDO O AMOR PASSA PELAS DIVERSAS LÍNGUAS AFRICANAS

 
Os escritores africanos são muitas vezes confrontados com «linhas vermelhas», que aparentemente não devem ser ultrapassadas. Falamos de temas, de linguagem ou do tom que devem ser torneados e que estão bem patentes no imaginário coletivo dos artistas. Isto acontece com frequência nas regiões a oeste do continente. No entanto, nos últimos tempos é possível encontrar autores que extravasam essas linhas e afirmam a sua liberdade artística para as ignorar.
 
A recente publicação Valentine’s Day Anthology 2015 é a prova dessa legitima transgressão. Com o selo nigeriano da editora Ankara Press, o objetivo passou por reunir alguns dos autores mais populares do continente,ao lado dos mais promissores e convidá-los a escrever sobre histórias românticas, em línguas africanas, e colocar o resultado disponível a todo o mundo. Assim foi.
 
Este «cocktail» literário vai muito para além da esfera artística. Para comemorar o seu lançamento, Bibi Bakare-Yusuf, o editor responsável por esta obra, explicou que o objetivo da iniciativa passava por mostrar as «nuances» da literatura romântica africana em diferentes idiomas.  O editor vai mais longe e sublinha que «está na hora de quebrar algumas barreiras e estereótipos de género e procurar a diversão ao mesmo tempo com estes temas», acrescentando que se procura «dar ar fresco àquilo que são os hábitos de leitura dos cidadãos africanos».
 
Cabeça de cartaz desta antologia, o queniano Binyavanga Wainain tem a companhia de mais seis autores. Apesar de alguns ainda passarem despercebidos aos olhos do grande público, o currículo fala por eles, que já contam com alguns prémios e publicações internacionais. Falamos do nigeriano Chuma Nwokolo, que é também advogado e ativista no seu país, e do escritor liberiano Jande Golakai Hawa, cujo primeiro romance conseguiu tornar-se numa das grandes promessas do continente e ambicionar alguns prémios mais respeitados no meio. Ainda da Nigéria, Sarah Ladipo Manyika, autora de um romance que fez sucesso no Reino Unido em 2008, e Toni Kan, que cultivou o conto e a poesia no país com o tema da sensualidade. Da Costa do Marfim, Edwige-Renée Dro, que atraiu o interesse dos festivais internacionais através das suas publicações em revistas digitais, e por fim o jornalista nigeriano Abubakar Adam Ibrahim, que ganhou já alguns prémios, e que é reconhecido por ser um regular finalista do prestigiado prémio Caine.
 
A qualidade na escrita nem se coloca em causa, mas o objetivo da obra era ir mais longe, com contos que estão a quebrar a seleção de estereótipos da literatura romântica. Com uma prosa adoçada e acutilante, são esplanadas no papel histórias de amor como adultérios, amor à primeira vista ou que se desenvolvem em clubes africanos.
 
Com histórias puramente africanas, o contexto, as personagens e a línguas não deixam qualquer tipo de dúvidas. Outra das «linhas vermelhas» superadas pelos autores da antologia tem precisamente a ver com a língua. O livro não está apenas em inglês, tendo já sido traduzido para francês e outros idiomas usados no continente, como Pidgin, Kiswahili, Igbo, Yoruba, Hausa ou Kpelee.
 
A obra Valentine’s Day Anthology 2015 é, acima de tudo, uma amostra da diversidade africana, mas também do dinamismo e da criatividade dos seus autores. Está disponível gratuitamente na internet, mas o objetivo é atingir outras plataformas digitais. Fonte: Aqui