domingo, 7 de fevereiro de 2016

SÉRIE ESPECIAL: RACISMO EM PORTUGUÊS:SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

Não podiam ser chefes. Não queriam ser escravos

São Tomé e Príncipe tem o peso de um tempo em que os casais mistos eram proibidos – homens negros a quem os pais brancos não quiseram dar o apelido, mulheres mestiças que viveram toda a vida amantizadas. A miscigenação fazia-se na clandestinidade.
Um dia, a mãe de Isaura Carvalho decidiu, à revelia dos avós, ir viver com o homem por quem se apaixonara. Ela, negra, era a única filha. O avô não queria que vivesse como amante de um português branco, destino mais que provável para um casal misto naquele tempo. Mas os pais de Isaura “bateram de frente” um no outro e apaixonaram-se. Nessa altura não era permitido socialmente em São Tomé e Príncipe um branco e uma negra casarem-se, constituírem família, deixarem descendência mestiça.

Isaura Carvalho (n. 1957) lembra-se das cartas que a avó portuguesa escrevia ao seu filho dizendo que “não queria uma preta na família”. Aos netos — ela, Isaura Carvalho, e os sete irmãos — a família paterna chamava “os mulatitos”. Havia até uma tia de Viseu que propôs ao pai de Isaura enviar uma das suas filhas para a “ensinar a ser costureira”. “A minha mãe esperneou”, lembra a historiadora e uma das fundadoras da Fundação Cacau, o mais dinâmico espaço cultural de São Tomé e Príncipe. Cada vez que chegava uma carta da metrópole, o pai de Isaura Carvalho tentava escondê-la para a mulher não perceber que ela, negra, “era sempre o objecto da rejeição”. Leia mais no publico.pt