segunda-feira, 18 de julho de 2016

Mercado de Bairro Militar: CMB VALORIZA MAIS O DINHEIRO GANHO DIARIAMENTE EM LUGAR DA SAÚDE DOS UTENTES

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O mercado central do Bairro Militar rende diariamente à Câmara Municipal de Bissau (CMB) cerca de 100.000 (cem mil francos CFA), mas continua a ser dos piores mercados da capital para adquirir produtos da primeira necessidade, tudo por falta da higiene. Além de representar um perigo enorme a saúde pública em geral, as vendedeiras estão expostas a doenças contagiosas, através das águas sujas que circulam no recinto do mercado, principalmente da zona da peixaria.

Os compradores ou clientes do referido mercado correm igualmente riscos de contraírem doenças.
“O Democrata” registou relatos de algumas pessoas que apontaram como consequência daquelas águas sujas, os danos provocados nos pés das bideras, pedindo a quem de direito que diligencie mecanismos no sentido de pavimentar o recinto do mercado em causa, oferecendo assim as melhores condições de higiene e devolvendo a saúde aos utentes daquele mercado.
O mercado de BM conta com quatro guardas privados que prestam serviços de segurança nocturna nas suas imediações e são pagos pela associação dos utentes.
Até a realização desta reportagem, o mercado do BM não tinha a colaboração da Polícia da Ordem Pública (POP), mas os membros da associação dos utentes afirmaram que enviaram um pedido neste sentido, à esquadra moderna sediada no mesmo bairro. E aguardam desde há muito tempo pela resposta daquela corporação policial.
Agentes da polícia prestam serviço pontual, apenas nos períodos das festas. Mas no entender dos utentes, há toda uma necessidade de ter uma assistência permanente por parte dos profissionais da POP.
Também os responsáveis da organização dos utentes do referido mercado dizem que solicitaram à CMB a cedência/construção de um espaço para que os agentes da POP possam prestar no futuro, um serviço permanente. O mercado de BM já registou vários assaltos a luz do dia devido a ausência de segurança no local.
MERCADO DE BM COM DIFICULDADES NO DOMÍNIO DE SANEAMENTO
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O presidente da Associação dos Utentes do Mercado de Bairro Militar (AUM-BM), Fodé Culubali, explicou a equipa da reportagem do Jornal “O Democrata” que o referido mercado enfrenta enormes dificuldades no que se refere ao saneamento, acrescentando que tem a consciência que os outros mercados têm o mesmo problema.
“A capital Bissau, no seu todo tem problema de saneamento básico, porque a Câmara Municipal de Bissau não consegue satisfazer todas as necessidades concernentes ao saneamento da capital guineense”, disse Culubali.
Disse que criaram a organização dos utentes em 2013 com vista a complementar as tarefas da autoridade camararia de Bissau, dinamizando o funcionamento do mercado.
Fodé, que pratica actividade comercial no mesmo mercado há mais de 20 anos, disse que durante alguns anos desde a sua fundação, o mercado de BM funcionou sempre com grandes problemas devido a ausência de uma organização que representa os beneficiários daquele espaço comercial, citando dificuldades como por exemplo, a falta de água potável, casas de banho e assistências em caso de roubo ou dano dos bens dos utentes.
“Havia uma casa de banho que estava fechada há nove anos, mas graças a organização dos utentes deste mercado reabrimo-la, agora funciona em pleno, mas dantes os utentes eram obrigados a recorrer as casas vizinhas do mercado para satisfazerem as suas necessidades. Por isso, como cidadãos, entendemos que devíamos organizar no sentido de melhorar o sistema de funcionamento do nosso mercado”, explicou.
A organização conta actualmente com 644 (seiscentos quarenta e quatro) membros entre os quais 397 (trezentos noventa e sete) operam nos boutiques e 247 (duzentos quarenta e sete) são mulheres vendedeiras [bideras] que vendem legumes e alguns produtos da primeira necessidade no mercado.
Entre os associados, apenas os que pertencem às boutiques pagam quotas mensais num valor mínimo de 500 francos CFA. Os membros da direcção contribuem com 2.500 francos e as “bideras” que foram registadas pela organização mas ainda não pagam quotas.
MERCADO DO BAIRRO MILITAR TEM QUATRO TORNEIRAS
O mercado conta actualmente com quatro torneiras que fornecem água potável aos utentes. A instalação das referidas torneiras contou com o apoio financeiro do ex-ministro das obras públicas, Fernando Gomes.
Mesmo com água potável, o mercado daquele que é considerado um dos maiores bairros e o mais populoso da capital tem ainda deficiências no interior, assim como na parte externa que alberga as boutiques que cujos os telhados estão rentes a estrada principal do Bairro – na avenida da Nigéria.
Para o presidente dos utentes, não se pode falar em saúde ou na prevenção do vírus ébola nem no da cólera, sem pensar primeiramente em perspectivar um mercado e adoptá-lo de condições sanitárias aceitáveis.
De acordo com quele responsável, já apelaram várias vezes às autoridades competentes no sentido de melhorarem as condições daquele mercado que considerou ser o terceiro a nível de Bissau, mas segundo ele, até à data não receberam uma única resposta por parte de qualquer represente do Estado guineense.
A organização dos utentes é responsável pela mínima limpeza do mercado e a CMB apenas faz a remoção do lixo. O lixo é agrupado num espaço próximo das casas de banhos.
Mesmo com a preocupação em manter o mercado limpo, os moradores da zona da feira também não colaboram, aproveitando o mesmo espaço, onde nem o lixo do mercado cabe para deitar as suas sujeiras, facto esse lamentado pelos utentes. Tudo isso deve-se a demora da CMB em responder à uma solicitação da organização dos utentes no sentido de as autoridades camararias indicarem um local onde os lixos passarão a ser amontoados para a sua remoção.
“Os moradores não têm culpa, porque no fundo não têm onde deitar os seus lixos. Mas na verdade não podemos estar a tirar lixos das residências para o mercado. Claro que não podemos falar em prevenção do ébola ou cólera, porque não podemos estar debaixo do ar-condicionado, tendo o local onde os nossos produtos alimentares acomodados e vendidos numa situação desagradável em termos de saneamento. Ali não podemos falar de saúde. Será erróneo”, vincou Fodé Culubali.
COBERTURA DAS BARRACAS APRESENTA PERIGO PARA AS VIDAS DAS BIDERAS
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Além da sujidade visível no chão, as coberturas também são outros perigos para as vidas dos utentes e clientes que frequentam o mercado de Bairro Militar. Algumas coberturas de chapas de zinco nem chegaram a ser presas com pregos, foram simplesmente deitadas em cima das barracas para se protegerem do sol, porque da chuva nunca aquelas coberturas podem-lhes livrar de ficarem molhadas. Há o risco de contrair um corte, no caso da queda de alguma chapa de zinco.
O perigo aumenta sobretudo nesse período das chuvas, no qual faz-se sentir ventos fortes. Uma testemunha com vários anos no mercado do BM disse à nossa reportagem que, quando faz vento, os utentes entram numa corrida para se livrarem das chapas de zinco que voam nas imediações do mercado.
Fodé Culubali pediu a CMB que assuma a sua responsabilidade perante os mercados, criando condições aceitáveis para o seu funcionamento saudável. Lembrou que além da CMB, as finanças e o comércio também cobram taxas aos utentes, pelo que o engajamento do Estado na melhoria da condição dos mercados de Bissau é uma obrigação.
ASSOCIAÇÃO DOS UTENTES PROJECTA PAVIMENTAR O MERCADO
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A organização dos utentes tem um projecto para pavimentar o mercado e o custo foi estimado em quatro milhões e duzentos mil francos CFSA (4.200.000), de acordo com um levantamento feito por um técnico da área, mas o montante não engloba a remuneração do construtor.
AUMBM GARANTE SEGURANÇA DO MERCADO LOCAL


A organização dos utentes da feira de Bairro militar é responsável pela manutenção da segurança do mercado local, cobrando mensalmente uma senha de segurança aos proprietários de boutiques.
A receita da senha de segurança serve para pagar os honorários aos quatro guardas, assim como para compensar os danos das pessoas vítimas de roubos; havendo também um desconto proporcional nos salários dos guardas, se acontecer um furto no mercado.
“BIDERAS” DE BM: “CMB PREOCUPA-SE APENAS COM OS 150 FRANCOS DIÁRIOS”
Uma vendedeira do mercado do Bairro militar, Aminata, disse à nossa reportagem que a CMB preocupa-se apenas em cobrar os 150 francos CFA por pessoa.
“Nós é que fazemos a limpeza do mercado. Se não o fizermos o mercado fica sujo. E as nossas barracas estão em péssimas condições, quando chove ninguém consegue ficar tranquila, sobretudo quando há vento, corremos riscos de sermos atingidos pelas chapas de zinco das nossas improvisadas barracas”; disse a utente com mais de vinte anos naquele mercado de Bissau.
Aminata considera, no entanto, que os utentes são obrigadas a fazer limpezas sem esperar pela CMB, porque são eles que estão em risco de contrair doenças.
Os utentes pagam entre 25 a 50 francos para utilizar as casas de banho. O fundo destina-se para a manutenção das mesmas e compra de desinfectantes
– lexívia, creolina e sabão.
Para a vendedeira de peixe, Damiana Mango, não há condições no mercado do BM, apontando como exemplo, as suas barracas que não conseguem protegê-las da chuva e pediu ao Estado que preste atenção àquele mercado.
Por seu turno, a velha Djariatu Djau com mais de 20 anos a vender no mercado disse que desde há muitos anos que aquela feira não oferece condições de funcionamento, por culpa da CMB, sustentando que pagam diariamente as suas obrigações de 150 francos CFA.
“O mercado continua nas mesmas condições, péssimas como sempre. Nada mudou”, afirmou a velha, que considerou o negócio do mercado razoável. Na sua opinião, o presente ano é dos piores em termos de vendas. Djau apelou ao governo que reconstrua aquele mercado.
Outra veterana do mercado Feia Pinto disse que a CMB não faz nada para os utentes além de cobrar os 150 francos CFA/dia.
“Essas barracas são nossos esforços, essas mesas também são frutos dos nossos esforços. A CMB só sabe cobrar dinheiro. Mas queremos que assuma as suas responsabilidades, fazendo valer o seu direito de cobrar diariamente 150 francos CFA a cada utente do mercado, mas também infraestruturando o mercado”, Feia Pinto.
Feia revelou à nossa reportagem que as bideiras tinham pagado em 2004 um valor de 10 mil francos CFA a um agente da CMB com vista a pavimentação do mercado, mas isso nunca aconteceu, apenas levaram um tractor para planificar o espaço do mercado, mas nunca o mercado foi pavimentado e contínua na mesma situação.
O mercado de BM conta com cerca de 700 utentes, entre os proprietários dos boutiques, as bideiras e jovens vendedores sazionais, grosso dos quais actuam na zona onde vendem produtos hortícolas, carne, peixe e demais bens alimentares:
Por: Sene Camara
Foto: Marcelo N’canha Na Ritche