domingo, 27 de agosto de 2017

GANHAR A GUERRA, PERDER A PAZ

Ponto a reter: "A coligação vai ganhar a guerra, mas o Mundo vai perder a paz... para sempre!" Palavras premonitórias de Arafat
 
Rapazitos manipulados por terroristas a sério usam armas inesperadas.
 
Beirute Oriental, Setembro 1982. Repórteres ocidentais bebericam uísque no bar do hotel. É quase meio-dia. Um americano entaramelado levanta-se. "Vou ali à guerra e ainda venho almoçar..." Do lado ocidental da cidade, a guerra é a sério. Destruição e morte pelas esquinas. Dias depois, falangistas libaneses tolerados por Israel massacram uns três mil palestinianos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, ali perto.
 
Netanya, Israel, 3 Março 2001. À conversa numa esplanada, Daniel, judeu sul--africano, aponta jovens que passam e explica-se com ironia demolidora. "Aqui somos todos informadores da Mossad. É uma questão de sobrevivência!" Em Israel, em Beirute ou em Gaza, o ódio é uma espécie de droga. Daniel sabe disso. "O ódio ajuda a viver, e não se pode sobreviver sem ele!" No dia seguinte, ali perto, um palestiniano faz-se explodir. 4 mortos, muitos feridos. O Hamas reivindica. Os olhos dos israelitas com que nos cruzamos nesse dia, mais do que ódio, revelam desconfiança, tensão e atenção.
 
Sharm el-Sheik, Egipto, 20 Julho 2005. Sara, israelita, é tradutora de russo no Hotel Ghazala, repleto de turistas estrangeiros. Sara é optimista. "Isto está muito bem guardado! Não há perigo nenhum..." Os olhos de árabes e egípcios que nos servem chá ostentam desconfiança, tensão e atenção. Dois dias depois, sete explosões provocam 90 mortos e 150 feridos. O Ghazala cai como castelo de cartas. Sara fica ferida. A Al-Qaeda reivindica.
 
Maputo, Moçambique, Agosto 2006. Bebe-se uma coca-cola com Ibrahim, amigo muçulmano, à porta do seu prédio. Passam homens e mulheres com trajes islâmicos. "Ibrahim! Qualquer dia a Al-Qaeda chega aqui a Maputo..." Ibrahim indigna-se. "Não! Aqui é tudo malta porreira! O pior são esses miúdos que só querem a Internet..."
 
Quinze anos antes, Janeiro 1991, uma coligação militar ocidental aprovada pela ONU inicia os bombardeamentos ao Iraque de Saddam Hussein. Em Bagdad, o líder da OLP, Yasser Arafat, dá entrevista ao ‘Jornal de Notícias’. "A coligação vai ganhar a guerra, mas o Mundo vai perder a paz... para sempre!" Palavras premonitórias de Arafat - terrorista para uns, Nobel da Paz para outros (recebe o prémio em 1994, com Peres e Rabin). Em poucos meses, Saddam é enforcado, Kadhafi linchado. Todo o Mundo (não só o islâmico) passa a campo de batalha sem rei nem roque. Depois das Intifadas, das bombas sofisticadas e do 11 de Setembro, rapazitos manipulados por terroristas a sério usam armas inesperadas - facas, carros, bilhas de gás. Ibrahim já tinha explicado. "Não é só por Alá, por ódio e pelas virgens que vão encontrar lá no Céu!" Então? "Aos 18 anos, ninguém tem medo de morrer! Aos 18 anos, ganham-se todas as guerras!"

Texto escrito na
antiga ortografia 
 
 
Fonte: cm