segunda-feira, 20 de novembro de 2017

GRUPO NETOS DE BANDIM CELEBRA DEZASSETE ANOS DE DIPLOMACIA CULTURAL

[REPORTAGEM] O grupo cultural guineense, ‘Netos de Bandim’, celebra os 17 (dezassete) anos de cultura, diplomacia cultural e promoção da imagem positiva da Guiné-Bissau além-fronteiras. Em Janeiro deste ano, 2017, tornou-se membro do ‘Festival Internacional de Dança’.

Na data do seu 17° aniversário a 12 de Novembro 2017, o grupo inaugurou o seu escritório funcional no bairro de Bandim, periferias da capital Bissau.

Os equipamentos do referido escritório, segundo os responsáveis do grupo, foram doados pelo projeto – Casa de Oportunidade, financiado pela União Europeia, através de Projeto de Apoio dos Atores Não Estatais (UE-PAANE) por intermédio do Instituto Padre António Vieira (IPAV), no quadro de realização da primeira Edição de Academia ‘UBUNTU na Guiné Bissau’.


Criado no dia 12 de Novembro do ano 2000 e batizado com o nome de Grupo Cultural “Netos de Bandim” tem como finalidade de criar um ambiente de integração sociocultural para as crianças e jovens do bairro de Bandim, no contexto pós guerra civil de 7 de junho de 1998.

“Este núcleo tinha como principal objectivo a integração social de crianças de jovens (grupos de riscos advindos da situação de pobreza vivida pela generalidade das famílias do bairro de Bandim), oferecendo-lhes um espaço de convívio e partilha de boas práticas de cidadania através da música e da dança. Deste então o grupo reúne-se diariamente nas instalações da escola comunitária da Zona-5 no bairro de Bandim-1 (que ruiu durante as chuvas de 2010)”, lê-se numa nota do historial do grupo enviada à redação do jornal O Democrata.

Sob coordenação do ativista cultural, Ector Diogenes Cassamá (Negado), o grupo cresceu ao longo dos anos, ganhando grande notoriedade na divulgação da música tradicional e da dança tradicional da Guiné-Bissau a nível nacional e internacional. Por outro lado o grupo introduziu os componentes de teatro e poesia como forma de transmitir a sua mensagem.

Hoje, a maioria das crianças que constituíram a estrutura inicial do grupo já são jovens e adultos que assumem responsabilidades organizacionais dentro do grupo, mas os  ‘Netos de Bandim’ conta com a participação de jovens de toda a cidade de Bissau.

Os responsáveis do grupo cultural de momento no país elegeram como prioridade: continuar a ser aquela organização que luta pela prevenção e combate à exclusão social entre as crianças e jovens, integrando a necessidade de salvaguarda, valorização, e divulgação do património cultural guineense.

NETOS DE BANDIM COMBATE EXCLUSÃO SOCIAL NA GUINÉ-BISSAU

Os ‘Netos de Bandim’ lutam pelo combate à exclusão social, através de apoio sociocultural e económico direcionado às crianças, jovens e suas famílias, podendo assim dividir as sua actividades em dois pólos.

Todas as atividades desenvolvidas no seio do grupo têm uma grande componente educacional no sentido de garantir as boas práticas de cidadania. Exemplo disso é a forma como a maioria das crianças tratam Ector Diógenes Cassamá como um “Encarregado de Educação”. E os pais das crianças confiam nele a responsabilidade de agente educacional.

A elevada responsabilidade do grupo obrigou aos responsáveis a arranjar um médico [amigo do grupo], que se disponibilizou para consultar qualquer criança sempre que for necessário e acompanhá-la no processo de recuperação. Quando a família não tem meios financeiros, o grupo suporta os custos do tratamento. O grupo promove entre os jovens os temas relacionados com a saúde sexual e reprodutiva, encaminhando-os para as consultas de planeamento familiar nos centros de saúde mais próximos, principalmente Centro de Saúde de Bandim e do bairro vizinho, Belém.

Para integrar-se no grupo Netos de Bandim como membro, é preciso que o candidato seja uma criança ou jovem e tem tem que ser estudante, ou seja, tem que estar a frequentar a escolar. Neste particular, os responsáveis do grupo, cientes das dificuldades económicas vividas pelas famílias, garantem o suporte económico para que as crianças mais desfavorecidas, membros do grupo, possam frequentar à escola.

O grupo exige das crianças e jovens a apresentarem bons resultados escolares para que possam participar nos espetáculos culturais. Para apoiar os jovens que já estão numa fase mais avançada do seu percurso académico, está-se a criar um programa de apadrinhamento dos estudos universitários, algo que já acontece com alguns estudantes.

Ainda no capítulo da educação, o grupo desenvolve um curso de alfabetização para os pais e encarregados de educação dos seus membros e para a comunidade onde a escola está inserida.

NETOS DE BANDIM APOSTA NA CULTURA PARA CONSTRUIR A PAZ

O grupo elegeu a ‘Salvaguarda, valorização, e a divulgação do património cultural guineense como principal veiculo para a construção da paz na Guiné-Bissau e no mundo’ como lema.

Ao longo dos seu dezassete anos de existência o grupo promoveu vários intercâmbios entre grupos culturais de Bissau, como também com as comunidades mais rurais para aprofundar o conhecimento sobre a expressão de vários grupos étnicos que compõem o mosaico cultural guineense.

“Acreditamos que para desmitificar as diferenças e dissolver os conflitos étnicos, é necessário que as crianças aprendam os significados das expressões próprias de cada etnia e as assuma com um sentimento de pertença e orgulho, pois fazem parte da identidade cultural de todos os guineenses”, informa o documento enviado a redação do semanário O Democrata.

Neste sentido, os responsáveis do grupo garantiram que ‘é possível verificar que os vários elementos do grupo representam a essência de todo o mosaico multicultural da Guiné-Bissau, já que pertencem e divulgam os hábitos de folclore dos vários grupos étnicos do país’.

“Assim trabalhamos para promover a Paz na Guiné-Bissau, sensibilizando as comunidades para a beleza da diferença, divulgando o conhecimento sobre um Povo”.

O grupo dinamiza várias atividades neste âmbito incluindo teatros radiofónicos com sentido educacional, para a mudança de comportamentos sociais; colaboração com organizações não-governamentais na sensibilização comunitária. O grupo trabalhou varias vezes com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em programas de sensibilização para a paz nos quarteis militares do país.

NETOS DE BANDIM, VENCEDOPR DO FESTIVAL INTERNACIONAL EM 2010

Dezassete anos de êxitos, apesar de algumas dificuldades, o grupo foi vencedor de várias edições do Desfile Nacional do Carnaval da Guiné-Bissau. Em 2010 foi vencedor do Festival Cultural Internacional, em Kanila, na República da Gâmbia, onde competiu com grupos culturais oriundos de vários países da África Ocidental.

A internacionalização começou a ser consolidada, em 2011. O grupo foi convidado a participar nas festividades do carnaval em algumas cidades do Estado de São Paulo – Brasil. Dois anos depois, em 2013 iniciou-se no solo brasileiro um projeto cultural denominado Africanizando Marília, que visa promover a cultura africana e afro-brasileira por meio de intercâmbio cultural entre artistas e públicos da cidade de São Carlos, Marília e demais outras do interior de Estado de São Paulo, Brasil.

Neste evento, Africanizando Marília, o grupo ministrou palestras e workshops sobre a dança e percussão guineense, também apresentou um espetáculo sobre a diversidade étnica da Guiné-Bissau. Esteve ainda na segunda edição de Africanizando Marília que decorreu estre os dias 17 de outubro à 26 de novembro de 2014, em Marília, Campinas e nas outras cidades.

O grupo procura estabelecer uma comunicação transversal com a população guineense e não só, através da arte e da cultura, promovendo sessões de sensibilização, de intercâmbio, de manifestação e divulgação da criatividade em diferentes cenários socioculturais contribuindo assim para uma sociedade mais rica e pacífica, sem pôr de lado a promoção e divulgação da cultura nacional dentro e fora do território guineense.

“Criamos o espírito e a dinâmica cultural no seio das crianças, adolescentes, jovens e a população em geral. Também, proporcionamos momentos de intercâmbio entre as crianças de diferentes horizontes culturais, assim como organizamos e realizamos festivais culturais de diferentes grupos étnicos do país. Atuamos nas campanhas de sensibilizações sobre a Cultura da PAZ, IST/Sida, paludismo, cólera, etc, em colaboração com os parceiros. Em suma, promovemos a formação, a assistência social, o lazer, a tutela e a valorização de patrimónios históricos, tradicionais, artísticos e culturais”, explica-se ainda o mesmo documento.

Uma brilhante trajetória internacional: o grupo esteve em Cabo Verde (2011), no Senegal (2010, Dakar), Brasil (2011, 2013, 2014, 2015 e 2016), Portugal (2016, no Festival de Periferias em Sintra. Ainda esteve em solo luso duas vezes em 2017, nos meses de Março e Setembro nas comemoração da independência com a diáspora guineense em Lisboa. Atuou também este ano, 2017, em França e Espanha. Um dos pontos mais altos do grupo foi a sua inscrição, em janeiro deste ano, como membro no Festival Internacional de Dança.

NETOS DE BANDIM PRETENDE RESGATAR A CULTURA GUINEENSE

Recordamos aos leitores que em 2015, Negado revelou numa entrevista à equipa de reportagem do jornal O Democrata que o sonho do grupo é de um dia tornar-se numa instituição cultural com grande dimensão que possa trabalhar no resgate dos valores culturais da Guiné-Bissau que, na visão dos responsáveis da organização, já estão em fase de extinção ou do esquecimento. Resgatá-los, trazendo-as para o presente, para de seguida internacionalizá-los. Negado disse que é nessa ordem de ideia que a sua organização esta a esforçar-se, começando com os próprios meios a fazer turnés internacionais.

Todavia, acreditou que a nível internacional o grupo poderá conseguir um parceiro que o ajude a crescer ainda mais.

O grupo ‘Netos de Bandim’ pretende colocar a cultura guineense no alto nível no planeta, sendo ela a maior riqueza que o país tem, num ranking muito alto a nível internacional, apontando como prova a participação do grupo no festival de Kanilai. De entre os 14 países participantes, o grupo nacional saiu como vencedor daquele evento cultural oeste africano.

Para Ector Diógenes Cassamá, baseando no conceito da organização como é o caso do ‘Netos de Bandim’ – “o nosso objetivo é ver a nossa imagem além-fronteiras sempre transportando aquilo que de bom o país tem. Para também facilitar a vida do próprio grupo, pedimos ao Estado da Guiné-Bissau para custear, pelo menos, uma turné internacional, porque isso pode abrir-nos as portas para o mundo. Vai permitir ainda que o grupo seja conhecido a nível internacional, assim como poderemos atrair a atenção de vários investidores na área cultural.”

Este responsável cultural assegurou que se a organização que coordena fizesse uma turné internacional, através das parcerias que criaria, talvez quando houvesse eventos internacionais, as pessoas poderiam contactar os Netos de Bandim para participar. Talvez os parceiros poderiam custear as deslocações do grupo sem que o mesmo pedisse 100 (Cem) francos ao Estado.

Por: Sene Camará