O Jornal de Angola, publicou, no dia 12 de Outubro, um artigo intitulado “clarificação necessária”, em jeito de contra-ataque às declarações ligadas às investigações judiciais feitas em Portugal à elite política daquele país africano.
O cronista tentava desembaraçar-se daquilo que foi dos maiores fiascos da paródia do exército angolano em África. O caso constitui ainda um pesadelo na classe política angolana. O pânico terá levado, portanto, o articulista a tomar o atrevimento de comparar o atual estado das relações entre Angola e Portugal, com a aviltante afinidade desse país com a Guiné-Bissau, dizendo: “(…) Portugal tem um papel fundamental na CPLP. Mas se está reduzido a um protectorado, como afirma o senhor vice-primeiro-ministro Paulo Portas e muitos outros políticos portugueses, não tem capacidade para assumir as suas responsabilidades na comunidade dos países que falam a Língua Portuguesa.
Está pior do que a Guiné-Bissau, apesar de tudo um Estado soberano. E corre o risco de ter um estatuto político muito próximo da “aspirante” Guiné Equatorial.”
É assim: Angola está com dois pés na CPLP e não está em nenhum lado. Dito de outro modo: a elite angolana “hipotecou” sua alma à CPLP. Luanda a olho da elite política ainda é Nova Lisboa.
A ausência de estratégia para a integração económica, por exemplo, de Angola no espaço regional africano a que se comprometeu pertencer, é a evidência da sua alienação cultural. É uma espécie de gosto entre muitos dissabores, ou seja, Portugal no meio da floresta! Custa ao articulista do Jornal Angola entender a Geopolítica como a relação binária, ou congruência, entre demasiados grupos, sobrepostos, de estratégias adotadas pelos estados para administrarem seus territórios. Para o entendimento expresso no Jornal de Angola, a união económica e política de estados independentes, situados tento em Africa como na Asia, na América-Latina ou na Europa, é sinónimo da situação de protetorado. Pois, para o citado jornal, só não existe situação de protetorado na CPLP. Vejam lá…
É deveras estranho o patriotismo da elite política que o jornal defende. Os tempos mudaram, mas eles continuam a procura de “paraísos fiscais” pelo mundo fora. Guiné-Bissau era o “El Dourado” concebido para a lavagem e branqueamento de capitais. Depois veio Portugal, o lugar apropriado para lavar e esconder “dinheiro sujo”. O mundo ficou só a olhar para as trivialidades e desbaratamento do erário público cometidas pelas altas figuras públicas. Eles não geram riqueza e escondem o dinheiro fora do país.
Eles não se importam que o mundo tenha, inclusive, alterado profundamente o conceito de “sigilo bancário”. Quem não sabe que antigamente o conceito servia de capa para se cometerem muitos crimes, especialmente crimes transnacionais de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo?
O Presidente José Eduardo dos Santos justificou a situação dizendo que “ Há quem pense que o crescimento e desenvolvimento social a diferentes velocidades de vários segmentos sociais seja uma politica deliberada para perpetuar a injustiça social.
Não é assim. Este é apenas um fenómeno inerente a este período de transição, em que a Nação precisa de empresários e investidores privados nacionais fortes e eficientes para impulsionar a criação de mais riqueza e emprego.”
Depois rematou: “Só com Portugal as coisas não estão bem. Tem surgido incompreensões ao nível da cúpula e o clima político actual reinante nas relações, não aconselha a construção da parceria estratégica antes anunciada!” O que na realidade acontece, é que não se sabe se são pessoas bem formadas que cumprem com as suas responsabilidades enquanto cidadãos em Angola, mas que vestem e falam bem, e são detentores de altos cargos, incluindo Ministros, Deputados, Juízes, médicos, presidentes e administradores de Bancos, consultores, etc., transportando dinheiro em malas, caixas de sapatos, contentores, barcos, aviões fretados, etc. É desta “anarquistas e apátridas” que o mundo de hoje está preocupado. E não é porque se criou a imagem de que o “homem africano” rico é corrupto ou suspeito de corrupção…
Tendo-se desembocado o assunto no “fim da parceria estratégica com Portugal”, Abel Chivukuvuku, disse:
"Eu já comentei no passado sobre a natureza da relação Angola-Portugal, que considero uma relação imatura, porque temos níveis diferentes de desenvolvimento democrático e nem sempre percebemos que esse nível diferente de desenvolvimento democrático cria essas diferenças".
E acrescentou o político: "Nós aqui podemos criticar como quisermos o Passos Coelho, não afeta as relações entre Angola e Portugal, lá, se se critica o José Eduardo, afeta as relações". Concluiu: trata-se de uma "relação imatura que precisa de crescer, que precisa de ganhar estatura para que todos esses pequenos cíclicos problemas de interpretação não sejam um travão ao próprio processo democrático e às relações entre os dois países".