A Guiné-Bissau vai ter umas "eleições Gucci", ironizou hoje o representante especial da ONU José Ramos-Horta, ao revelar que os parceiros internacionais aceitaram um orçamento inflacionado para desbloquear o processo.
"É um orçamento de
quase 20 milhões de dólares (14,5 milhões de euros), quando se podia fazê-lo
por 10-12 milhões (7-9 milhões de euros)", admitiu hoje, durante uma
mesa-redonda no Instituto Real de Relações Internacionais, conhecido por
Chatham House, em Londres.
O valor, disse o antigo
presidente de Timor-Leste e prémio Nobel da Paz, foi acordado para pôr fim a
uma discussão sobre "orçamentos altamente inflacionados" que se
prolongava desde junho.
Porém, no mês passado,
Ramos-Horta sentou-se à mesa com representantes de vários parceiros,
nomeadamente a França e a União Europeia e propôs: "Vamos render-nos,
senão não saímos daqui".
O representante
especial do secretário-geral da ONU para a Guiné-Bissau usou o nome de uma
marca de roupa e acessórios de luxo para ironizar sobre a questão.
"Com 20 milhões de
dólares têm de ser umas eleições Gucci. Terão de comprar t-shirts da Gucci, mas
genuínas e não chinesas, e relógios Gucci para todos. É por isso que custará 20
milhões de dólares", gracejou.
A maioria do dinheiro
está mobilizada, sendo Nigéria e Timor-Leste os dois principais, cada um com
seis milhões de dólares (4,3 milhões de euros), mas referiu que algumas das
promessas de apoio ainda terão de ser materializadas.
Se forem reunidos todos
os fundos prometido pelos países, salientou, algum do dinheiro em excesso será
aplicado em situações de emergência nas áreas da saúde e educação.
José Ramos-Horta
apontou fevereiro ou março de 2014 "o mais tardar" para a realização
de eleições, em vez de 24 de novembro, como chegou a estar definido no acordo
que instituiu um primeiro-ministro e o Presidente interinos após o golpe de
Estado militar de abril de 2012.
Além do impasse sobre o
orçamento, lamentou a demora na escolha do sistema de voto, que o Presidente
Serifo Nhamadjo pretendia inicialmente que tivesse tecnologia biométrica.
"Aparentemente,
ele esteve em consultas que demoraram até agosto e só então nos foi dito que
não seria o biométrico, mas aquele que a ONU aconselhou, um sistema manual
avançado que é suficientemente bom, seguro e transparente", sublinhou.
Ramos-Horta deu conta
dos esforços junto dos políticos para acordarem na formação de um Governo
inclusivo, com representantes dos principais partidos.
Porém, esta solução só
poderá resultar se forem eleitos "dois indivíduos extraordinários - um
Presidente que deve ser conciliatório e reconciliados e construtor de pontes e
é preciso um primeiro-ministro que seja um gestor excecional de Governo e de
pessoas".
O representante da ONU
está também já a pensar no período pós-eleições e na necessidade de a
comunidade internacional, incluindo instituições como a União Africana e o
Banco Mundial, pensarem num programa de três a cinco anos "para
reconstruir o Estado".
O antigo dirigente
timorense defendeu que deve ser definida uma estratégia para modernizar,
nomeadamente, o Ministério das Finanças, o banco central, o setor das pescas,
as alfândegas, a agricultura, ou a extração de minério.
"Se a comunidade
internacional não tiver visão e determinação, seis meses ou um ano depois das
eleições o país pode estar na bancarrota", advertiu.