quarta-feira, 30 de outubro de 2013

GUINÉ-BISSAU TERÁ "ELEIÇÕES GUCCI"


A Guiné-Bissau vai ter umas "eleições Gucci", ironizou hoje o representante especial da ONU José Ramos-Horta, ao revelar que os parceiros internacionais aceitaram um orçamento inflacionado para desbloquear o processo.
Representante da ONU diz que Guiné-Bissau terá
"É um orçamento de quase 20 milhões de dólares (14,5 milhões de euros), quando se podia fazê-lo por 10-12 milhões (7-9 milhões de euros)", admitiu hoje, durante uma mesa-redonda no Instituto Real de Relações Internacionais, conhecido por Chatham House, em Londres.
O valor, disse o antigo presidente de Timor-Leste e prémio Nobel da Paz, foi acordado para pôr fim a uma discussão sobre "orçamentos altamente inflacionados" que se prolongava desde junho.
Porém, no mês passado, Ramos-Horta sentou-se à mesa com representantes de vários parceiros, nomeadamente a França e a União Europeia e propôs: "Vamos render-nos, senão não saímos daqui".
O representante especial do secretário-geral da ONU para a Guiné-Bissau usou o nome de uma marca de roupa e acessórios de luxo para ironizar sobre a questão.
"Com 20 milhões de dólares têm de ser umas eleições Gucci. Terão de comprar t-shirts da Gucci, mas genuínas e não chinesas, e relógios Gucci para todos. É por isso que custará 20 milhões de dólares", gracejou.
A maioria do dinheiro está mobilizada, sendo Nigéria e Timor-Leste os dois principais, cada um com seis milhões de dólares (4,3 milhões de euros), mas referiu que algumas das promessas de apoio ainda terão de ser materializadas.
Se forem reunidos todos os fundos prometido pelos países, salientou, algum do dinheiro em excesso será aplicado em situações de emergência nas áreas da saúde e educação.
José Ramos-Horta apontou fevereiro ou março de 2014 "o mais tardar" para a realização de eleições, em vez de 24 de novembro, como chegou a estar definido no acordo que instituiu um primeiro-ministro e o Presidente interinos após o golpe de Estado militar de abril de 2012.
Além do impasse sobre o orçamento, lamentou a demora na escolha do sistema de voto, que o Presidente Serifo Nhamadjo pretendia inicialmente que tivesse tecnologia biométrica.
"Aparentemente, ele esteve em consultas que demoraram até agosto e só então nos foi dito que não seria o biométrico, mas aquele que a ONU aconselhou, um sistema manual avançado que é suficientemente bom, seguro e transparente", sublinhou.
Ramos-Horta deu conta dos esforços junto dos políticos para acordarem na formação de um Governo inclusivo, com representantes dos principais partidos.
Porém, esta solução só poderá resultar se forem eleitos "dois indivíduos extraordinários - um Presidente que deve ser conciliatório e reconciliados e construtor de pontes e é preciso um primeiro-ministro que seja um gestor excecional de Governo e de pessoas".
O representante da ONU está também já a pensar no período pós-eleições e na necessidade de a comunidade internacional, incluindo instituições como a União Africana e o Banco Mundial, pensarem num programa de três a cinco anos "para reconstruir o Estado".
O antigo dirigente timorense defendeu que deve ser definida uma estratégia para modernizar, nomeadamente, o Ministério das Finanças, o banco central, o setor das pescas, as alfândegas, a agricultura, ou a extração de minério.

"Se a comunidade internacional não tiver visão e determinação, seis meses ou um ano depois das eleições o país pode estar na bancarrota", advertiu.