quinta-feira, 16 de novembro de 2017

ZIMBABUÉ: PODE O EX-VICE EMMERSON MNANGAGWA TORNAR-SE O PRÓXIMO PRESIDENTE?

Emmerson Mnangagwa Politiker aus Simbabwe (Getty Images/AFP/A. Joe)
Analistas apontam ex-número dois do Zimbabué como o provável sucessor de Robert Mugabe, numa altura em que o futuro do país continua a ser uma incógnita, após intervenção militar. Comunidade internacional apela à calma.

O Zimbabué enfrenta um futuro incerto, desde a intervenção das Forças Armadas, na noite da passada terça-feira (14.11). Os militares alegam manter sob custódia o Presidente Robert Mugabe, e sua esposa, Grace, e garantem que não se trata de um golpe de Estado.

As reacções da comunidade internacional continuam a chegar. Em entrevista exclusiva à DW África em Bona, na Alemanha, onde participa na Conferência do Clima da ONU, o presidente da União Africana, Alpha Condé, condenou o golpe militar no Zimbabué e afirmou que espera falar com Mugabe em breve. "Nós, na União Africana, somos contra qualquer tomada de poder pela força. Emiti um comunicado convidando o Exército a regressar aos quartéis e à ordem constitucional. É claro que apoiamos o Governo legítimo do Zimbabué", frisou o chefe de Estado da Guiné-Conakry. "A União Africana acredita que a sucessão do Presidente Mugabe será democrática".


Também o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, apelou à calma e à moderação no país. Estados Unidos, Venezuela, Portugal, Reino Unido, União Europeia e Amnistia Internacional já pediram também uma resolução pacífica da crise.

No Zimbabué, o chefe da ala juvenil da ZANU-PF, partido no poder, pediu desculpas públicas na televisão estatal aos militares. Kudzai Chipanga referiu-se a declarações feitas na passada terça-feira, em que acusou o chefe do Exército, General Constantino Chiwenga, de desrespeitar a Constituição.

"Aceite as minhas desculpas em nome da liga juvenil e em meu nome. Ainda somos jovens. Aprendemos com os nossos erros e, com este grande erro, aprendemos muito”, afirmou.

A destituição do vice-Presidente do país, Emmerson Mnangagwa, é apontada como o gatilho da ação dos militares. Para muitos zimbabueanos, Mnangagwa volta agora a ser visto como o possível sucessor de Mugabe. Com 75 anos, o antigo vice-Presidente tem desempenhado um papel importante na política do Zimbabué há décadas - à sombra do Presidente Robert Mugabe - embora também, por vezes, em desacordo com o chefe de Estado.

"Mnangagwa tem estado ao lado de Mugabe há 50 anos. Foi considerado um solucionador, um agente de Mugabe", explica Derek Matyszak, analista do Instituto de Estudos de Segurança (ISS) na África do Sul.

"O Crocodilo”

No Zimbabué, Mnangagwa é conhecido como "O Crocodilo” - uma referência ao seu carácter implacável e discreto.

Tal como Mugabe, entrou na vida política como um ativista nas décadas de luta contra a minoria branca na sua terra natal, na altura, a colónia britânica da Rodésia do Sul. Mnangagwa juntou-se à União Nacional Africana do Zimbábue (ZANU) na luta contra o Governo do primeiro-ministro Ian Smith. Mais tarde, a rebelde ZANU tornar-se-ia o atual partido no poder do Zimbabué, o ZANU-PF.

Em 1965, Smith declarou unilateralmente a independência da Rodésia da Grã-Bretanha e estabeleceu um sistema de domínio da minoria branca. Mnangagwa, que recebeu formação militar no Egito e na China, liderou um grupo de combatentes chamado Grupo Crocodilo que levava a cabo atos de sabotagem contra o regime de Ian Smith.



O então vice-Presidente Emmerson Mnangagwa e o chefe de Estado Robert Mugabe na cerimónia de tomada de posse, em 2014, em Harare.


Mnangagwa foi preso em 1965 e condenado à morte, mas sua sentença foi comutada para dez anos de prisão devido à sua idade jovem. Chegou a passar mais algum tempo na prisão, mais tarde, por vezes compartilhando uma cela com Robert Mugabe.

Emmerson Mnangagwa estudou Direito na vizinha Zâmbia. Depois da independência do Zimbabué, em 1980, foi nomeado ministro da Segurança Nacional, posteriormente servindo como ministro das Finanças e da Defesa, bem como presidente do Parlamento.

Famoso pela repressão violenta

Mnangagwa ganhou notoriedade por alegadamente dirigir a controversa operação "Gukurahundi", na década de 1980, em que soldados de elite treinados na Coreia do Norte atacaram dissidentes do Governo pertencentes ao grupo étnico Ndebele. Cerca de 20 mil pessoas foram mortas.

"Ele é considerado extremamente implacável, perspicaz e calculista e muitas pessoas relacionam Mnangagwa com o medo e o temor. Não é, de todo, um indivíduo democrático. As pessoas não devem ter ilusões quanto à hipótese de Mugabe ser substituído por alguém com boas credenciais democráticas”, considera Derek Matyszak.

No passado, o ex-vice-Presidente foi considerado um potencial sucessor de Mugabe, mas foi expulso do cargo de secretário da administração do ZANU-PF em 2004.

No entanto, quatro anos depois, Mugabe trouxe Mnangagwa de volta para servir como o principal agente eleitoral durante a sua nova candidatura presidencial. Na sequência das eleições, Emmerson Mnangagwa foi alvo de sanções dos Estados Unidos e da União Europeia e acusado por grupos de direitos humanos de liderar uma repressão brutal contra a oposição política. Mas continuou nas boas graças do Governo de Mugabe, onde ocupou posições de destaque. Em 2014, substituiu a vice-presidente Joyce Mujuru e foi novamente considerado um potencial sucessor de Mugabe.


Emmerson Mnangagwa, Robert Mugabe e Grace Mugabe
Grace VS Emmerson

Matyszak aponta esses altos e baixos do passado entre Mugabe e Mnangagwa como uma evidência da sua parceria estratégica: "A relação entre os dois aparentava ser mais de conveniência mútua do que de amizade”, disse o analista em entrevista à DW.

A relação com Mugabe voltou a azedar quando Mnangagwa e a mulher do Presidente, Grace Mugabe, entraram em competição pela sucessão presidencial. Grace Mugabe levou a cabo uma agressiva campanha de pressão contra o antigo aliado do seu marido, que acusou de tentativa de golpe. Os apoiantes de Mnangagwa, por sua vez, acusaram Grace de de ter tentado envenená-lo.

A 6 de novembro, Mugabe demitiu Mnangagwa do cargo de vice-presidente. "Ele estava a consultar feiticeiros para descobrir quando é que eu iria morrer", disse Mugabe a uma multidão num comício, dias após a demissão. O ministro da Informação de Mugabe, Simon Khaya Moyo, também veio a público declarar que o ex-vice-Presidente era desleal.

"Pensar-se-ia que se tinha formado algum vínculo entre eles, mas a forma como Mugabe estava preparado para demitir Mnangagwa sugere que Mugabe não tem qualquer sentido de lealdade para com Mnangagwa”, diz o analista do ISS.

Depois de ser demitido, Mnangagwa disparou contra Mugabe, dizendo ao Presidente que o partido no poder, ZANU-PF, não era " propriedade pessoal sua e da sua esposa".

De acordo com os média, Mnangagwa fugiu do paíspara a vizinha África do Sul. O seu paradeiro permanece incerto.

Fonte: DW África