O líder da Renamo, principal partido da oposição moçambicana, Afonso Dhlakama, acusou "radicais da Frelimo" de terem assassinado o constitucionalista moçambicano Gilles Cistac, alegando que se sentiram "chocados e incomodados" com as teses defendidas pelo jurista.
"Eu quero acreditar que os radicais da Frelimo sentiram-se chocados e incomodados com o facto de [Gilles Cistac] estar a defender um caso do povo moçambicano", afirmou Dhlakama, na terça-feira, após um comício na província de Niassa, citado hoje na imprensa local.
Para o líder do principal partido da oposição, o jurista foi morto por ter defendido uma posição que acolhe constitucionalmente a exigência da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana).
"Quero lamentar a morte daquele homem, não quero acusar ninguém, mas também não restam dúvidas que a morte dele se deveu ao seu posicionamento, quando nós da Renamo, após as eleições, começámos a reclamar da fraude que houve", declarou Afonso Dhlakama.
Gilles Cistac defendeu recentemente que a Constituição moçambicana prevê a criação de províncias autónomas, ao preconizar a hipótese de criação de municípios de escalão superior às cidades, tese que deu força à exigência da Renamo de governar nas províncias em que ganhou nas eleições gerais de 15 de outubro do ano passado.
O constitucionalista foi assassinado a tiro na terça-feira de manhã por desconhecidos, à saída de um café no centro de Maputo.
Cistac foi transportado ainda com vida para o Hospital Central de Maputo, onde acabou por morrer cerca das 13:00 locais (11:00 em Lisboa).
A polícia disse que segue a pista de quatro suspeitos, três negros e um branco, e que foi este último quem abriu fogo contra Cistac.
Na semana passada, o académico anunciou que ia processar um homem que, através da rede social Facebook e com o pseudónimo Calado Kalashnikov, acusou Cistac de ser um espião francês que obteve a nacionalidade moçambicana de forma fraudulenta.
Gilles Cistac, de origem francesa, era um dos principais especialistas em assuntos constitucionais de Moçambique e, em várias ocasiões, manifestou opiniões jurídicas contrárias aos interesses do Governo e da Frelimo, partido no poder.
O Governo moçambicano considerou o atentado "um ato macabro" e espera que os autores sejam "exemplarmente punidos", enquanto a Renamo afirmou que o académico foi vítima de "perseguição política" motivada pelas suas posições recentes, e o MDM (Movimento Democrático de Moçambique) declarou que se tratou de um assassínio por encomenda.
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