Um cientista ugandês desenvolveu um teste de diagnóstico rápido capaz de detetar estirpes do ébola em menos de cinco minutos, mas está alegadamente a enfrentar problemas de financiamento das autoridades do seu país, de acordo com uma publicação ugandesa sobre ciência.
Num artigo intitulado África esquece os seus jovens cientistas por não investir nas suas inovações, Agnes Nanyonjo, investigadora do Instituto Karolinska, uma das maiores universidades médicas europeias, sedeada na Suécia, autora do texto, denuncia a suposta falta de apoio do governo ugandês para financiar a patente desta descoberta.
De acordo com Agnes Nanyonjo, desde 2008 que o cientista Misaki Wayengera tem vindo a desenvolver pesquisas para o teste, tendo nos últimos dois anos solicitado a patente junto da Organização Regional Africana da Propriedade Intelectual e da Organização Mundial da Propriedade Intelectual. As entidades levam, em média, respetivamente, um ou cinco anos para atribuir a patente.
«Na sua busca por um financiamento, Misaki Wayengera escreveu uma carta ao gabinete do Presidente (ugandês, Yoweri Museveni) a solicitar ajuda financeira. Não recebeu qualquer resposta durante dois anos. Quando finalmente recebeu, o gabinete do presidente reconheceu a importância da pesquisa para lidar com questões ligadas à biodefesa. No entanto, os seus pedidos posteriores para financiamento ficaram sem resposta», denuncia a investigadora do Instituto Karolinska.
Neste artigo sobre políticas públicas para a saúde, Agnes Nanyonjo conta que Misaki Wayengera decidiu contactar a organização Grand Challenges Canada, e que, em 2013, foi premiado com uma bolsa de 76 mil dólares. Mas a GCC estava disposta a dar-lhe um financiamento adicional de 776 mil dólares, caso houvesse um compromisso financeiro do governo ugandês para suportar a pesquisa – o que até agora não aconteceu, acrescenta Agnes Nanyonjo.
Após à eclosão do vírus do ébola, com a epidemia que surgiu na África Ocidental, no sul da Guiné-Conacri em dezembro de 2013, a organização canadiana atribuiu à equipa de investigação de Misaki Wayengera 1,15 milhões de dólares, valor que ajudou na pesquisa médica para fazer face à propagação da doença em alguns países africanos.
«A inovação pode impulsionar o crescimento económico. Mas é importante que os países em desenvolvimento apoiem produtos inovadores de saúde que são relevantes para o contexto local», considera Agnes Nanyonjo.
A investigadora do Karolinska defendeu ainda uma «maior responsabilidade» dos países africanos no financiamento dos setores de saúde e investimento na inovação e na propriedade intelectual. «Se o governo de Uganda está a ser sincero na sua retórica, as áreas de inovação e da saúde devem ser colocadas no topo da agenda das prioridades durante a alocação de recursos», lê-se no artigo publicado pelo jornal de ciência ugandês, The Conversation. «Deveria haver fundos locais de investigação e inovação, a fim de motivar os cientistas locais», conclui a pesquisadora do Instituto Karolinska, uma das mais prestigiadas instituições suecas, vocacionada para o ensino de ciências médicas. Fonte: Aqui