sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Opinião: O FIM DO PAIGC OU DOS INTRIGUISTAS?

Filipe Benício Namada
Para qualquer bom analista da situação política e social da Guiné-Bissau, o que actualmente acontece neste país não lhe passará, despercebido, e, de nenhum modo ficará sem tirar suas ilações. No nosso simples ponto de vista tudo não passa de um sintoma, um prelúdio, ou seja, o anúncio de uma grande mudança necessária que se vislumbra, finalmente no horizonte, para breve. Uma mudança no interior do PAIGC, mas que provocará mudança no interior dos pequenos partidos transformados em seus satélites. Partimos muito simplesmente de um princípio natural, que diz que tudo o que tem começo tem fim.
 
E como o comportamento bizarro e vergonhoso de alguns dirigentes do PAIGC, hoje choca os Guineenses e alguns elementos das Comunidades internacionais que antes acreditavam nos seus verbalismos baratos que acusavam os Balantas (na Pessoa do Presidente Coumba Iala) e os Militares transformados de forma leviana em Bode expiatório, de todos os males da Nação guineense, por detrás de quem se escudavam. Hoje, importa lembrar a todos que tal comportamento teve o seu começo e terá forçosamente o seu fim.

Tanto o povo como a Nação guineense modernamente fundada pelo Amílcar Lopes Cabral em colaboração com os verdadeiros Combatentes da Liberdade da Pátria, muito particularmente os Camponeses, que ali concederam enormes sacrifícios e abnegação, estão hoje cansados e mesmo fartos de aturar tantos desmandos e tantas faltas de respeito ali praticados pelos pequenos grupitos de intriguistas que, a partir de um dado momento, invadiram e tomaram as rédeas da direcção do PAIGC.
 
Tudo que lhes obrigam sempre a engolir como um peixe pelo rabo. Sobretudo, porque os referidos intriguistas que depois não cansam de lhes lançar na cara, situações vergonhosas cujas consequências são os dissabores e insónias que continuamente perturbam a sua vida ao ponto de transformar esta grande obra «a Nação Guineense» pela qual deram a sua juventude, derramaram muito sangue, em espécie de bolo sem sal e sem açúcar, isto é, insosso próprio a ser deitado fora. O que é ainda bem mais triste e acabrunhante para estes homens e mulheres simples do nosso povo é de constatarem que alguns destes intriguistas são colegas seus que ontem participaram na edificação desta grande obra, mas que hoje também se deixaram reduzir a estes simples defensores da sua pança semelhando-se aos ruminantes.
 
Dizia Paulo Freire que «o amor e a indignação» são os dois factores fundamentais que nos incitam à produção de conhecimentos e à acção. O amor que nutrimos pelos outros seres humanos e pela natureza. E a profunda indignação que sentimos por este mundo perverso e malvado, em que vivemos. Aliás, esta máxima deixada pelo grande educador Paulo Freire, relativa aos dois factores incitativos da acção humana, podia muito simplesmente ser restringida à produção e à reprodução em geral, sem ser alargada a uma actividade particular assente sobre a produção de conhecimentos. Pois, é o trabalho e a criação o espelho deste amor pelos outros.
 
Falando da crise em Guiné-Bissau no preciso momento das chuvas, o que podemos constatar in loco, a este sujeito relativamente ao país em geral? Fala-se da crise que se assenta sobre a ausência de Governo que cobre um período de mais de 60 dias. Mas, para responder à nossa questão, verificamos algo de surpreendente mas que parece, à primeira vista, sem importância nenhuma. Este algo é relativo à esta crise, e, sobretudo, às suas consequências das quais se resultou a ausência de governo em todo este período acima citado.
 
Ora, parece-nos possível afirmar que a crise ficou circunscrita, pois, é particularmente Bissau e algumas regiões como Bafatá, Gabú, Cachéu…que manifestamente se sentiram atingidos pelo que enviaram pessoas a manifestar, exemplo de régulos à procura de soluções. Porém, absoluta maioria da população guineense, sobretudo os camponeses, nessas alturas, continuam labutando deixados a eles mesmos, depois de mais de 40 anos da independência nacional. Os homens e mulheres que continuam utilizando os meios tradicionais com que aprenderam a fazer a defesa da vida daqueles que amam contra tudo e contra todos. Sejam eles os factores da intempérie ou insólitos como aquele da água «doida» que acabou destruindo bolanhas e aldeias inteiras deixando tristezas e assolações, fosse mesmo na existência do Governo, nada teria mudado. Ou ainda sejam os numerosos ociosos exploradores pilhados em dezenas, através das estradas prontos a saltarem sobre o primeiro carro público que chega, transportando as mulheres camponesas trazendo meios de garantir a subsistência daqueles que amam, como azeite de palma, sacos de carvão, galinhas, cabras, porcos…para precisamente pilharem o quanto podem exigindo cobranças fraudulentas em nome de Estado, como se tratasse de produtos trazidos de país estrangeiro.
 
Se é na verdade que a referida crise de Estado, que se vive em Guiné-Bissau, e que resultou na falta de Governo a mais de 60 dias, ficou circunscrita numa restrita porção do território a tal ponto que a maioria da população ficou se marimbando dela, isto seria uma prova evidente de que, tanto o povo que jubilou com a proclamação de Estado Guineense, e, sobretudo com a independência, como toda a população que abraçou a existência do primeiro Governo do Francisco Mendes, estariam hoje muito indignados com tantas injustiças e poucas vergonhas. Em consequência, estariam prontos a viverem, de novo, como no passado colonial, sem forçosamente responderem a um regime governamental. Esta constatação objectiva é bem grave, pois feita num país independente há 41 anos. O que terá sido feito deste alto sentido ou consciência popular manifeste em Madina do Boé e que está na origem da proclamação do Estado Embrionário de Luiz Cabral e do Francisco Té? Uma alta consciência de povo que alguns sociólogos designaram de «necessidade de Estado». Perguntamos em qual país de mundo seria hoje possível de verificar uma tal situação, que priva à população de Governo durante um período superior aos 60 dias, sem haver problemas? Somente em Guiné-Bissau, onde se vive um dualismo sócio -político constituído por duas Nações paralelas: Uma dita moderna virada para a defesa dos interesses exógenos sob manipulação dos intriguistas do PAIGC e de algumas ONG’s e sob protecção de algumas ditas Comunidades Internacionais em defesa dos seus sagrados interesses; outra dita tradicional deixada a deriva e explorada ao máximo, ainda mais do que durante o período colonial sem nenhum exagero.
 
Claro que para deixarmos mais transparente este dualismo sócio – político de que acima referimos, vale a pena voltarmos sobre os intriguistas do PAIGC para demonstrar que é o fim deles que se vislumbra no horizonte.
 
Com a independência da Guiné-Bissau, como o Estado Embrionário de Luiz Cabral e do Francisco Té tinha organizado o país e posto um controlo cerrado sobre «Rex, ou seja, a coisa pública», foi fácil de ficar-se a saber que nenhum guineense, na altura, podia-se considerar afortunado, pois todos nós estávamos com os bolsos rotos, a tal ponto que não houve ninguém para comprar algumas casas postas a venda. É com a destruição do Estado Embrionário, que alguns anos depois, apareceram os intriguistas com os bolsos cheios que invadiram o PAIGC e destruíram a ideologia nacionalista revolucionária para implantarem a sua própria ideologia de «castas tribais» assente sobre mentiras, medo de controlo, vida fácil, ociosidade, brincadeiras sujas, jogos, boa vai ela…como se transformaram, ao mesmo tempo, em proprietários de terras, empresários, donos de transportes públicos, Ministros, Secretários de Estados, Directores gerais, Doutores e Engenheiros…Mas, o que é bem triste em tudo isso, é que roubaram terras aos camponeses que não são aproveitadas devidamente, alguns se dizem empresários conseguindo levantar enormes somas nas finanças, na base de mentiras e de cumplicidades, porque nem um escritório sequer conseguem manter, e, muitos daqueles que se fazem designar Doutores e Engenheiros, tudo não passa de falsidades baseadas nos certificados de estágios e não nos devidos diplomas universitários. São pessoas deste estirpe moral e espiritual de pior espécie que fizeram do PAIGC e do País o que hoje neles se vive infelizmente.
 
Paralelamente ao programa do Partido e do Governo, elaboram os seus próprios programas ocultos, pois só sabem actuar na obscuridade da mesma maneira que as corujas e animais de rapina, para melhor defenderem os seus interesses pessoais com base na corrupção. Daí a razão porque ao contrário daqueles cidadãos que aprenderam a viver com os seus esforços, sacrifícios e trabalho, estes intriguistas com as suas Castas tribais, vivem longe de amor e da indignação contra as injustiças e outros males. Porque as suas acções são nutridas por sentimentos destrutivos como o atroz individualismo, a intolerância perante a voz discordante ou face a diversidade. Com a exoneração do Governo de Eng. Domingos S. Pereira, ouvimos inventarem um novo Bode expiatório atribuído aos «Ignorantes muçulmanos que também querem o poder» diziam alguns dos intriguistas. Eles apontam logo o dedo a alguém, pois são sempre os «puros» que sabem de tudo e podem tudo. Por isso, eles recorrem imediatamente às ameaças, às perseguições e às execuções arbitrárias. Tudo quanto este povo conheceu durante os regimes sucessivos do PAIGC. Por isso, dizemos hoje que basta dos intriguistas e das castas tribais, e pensamos que os próprios verdadeiros militantes do PAIGC chegaram a esta mesma conclusão de que chegou a hora para pôr fim das intrigas, injustiças, matanças e corrupções, pondo fora todos os intriguistas que são bem conhecidos.
 
Prof: Filipe Benício Namada