Mário Motta, Lisboa IN PG
Aniversário tenebroso da polícia política que assassinou e torturou portugueses. Vigiava e reprimia os que se afoitassem em querer liberdade, democracia, justiça. Famílias inteiras foram devassadas e muitos portugueses assassinados. Nomes grados da intelectualidade lusa, militares de carreira das forças armadas de Portugal, modestos trabalhadores, homens e mulheres ativistas, antifascistas, sofreram anos nas masmorras da PIDE ou nelas morreram, por vontade de um regime salazarista apoiado pela igreja, por famílias capitalistas como os Melo, Champalimaud, Espírito Santo e outros das mesmas fornadas vampíricas que, com Salazar e seus ministros, dividiam entre si onde e como roubar e explorar em Portugal e nas ex-colónias.
Há 70 anos foi, então, criada a PIDE, que se disse ter sido extinta em Abril de 1974… Mas eles andam por aí. Todos dessa camarilha, assim como os Melo, os Champalimaud, os Espírito Santo. Os do costume. Esses e outros da mesma tempera de ladrões esclavagistas. 70 anos, aniversário macabro e repleto de crimes contra a democracia, contra os Direitos Humanos, contra os portugueses. Como agora, nesta psdeudo-democracia. Porque eles andam ainda por aí. Alguns até graças a eleitores. Dizem que até em Belém, disfarçados (mal) de democratas.
Que eleitores! Que vergonha! (MM/PG)
PIDE criada há 70 anos
22 de outubro de 2015. Faz hoje 70 anos que nasceu a Polícia Internacional e de Defesa do Estado. A 22 de outubro de 1945 o Decreto-Lei n.º 35 046 dava "corpo" à PIDE, que foi braço direito do regime e responsável por várias detenções.
Um odor estranho despertou a atenção de Jorge Carvalho, a 24 de abril de 1974. "Perguntei o que se passava. Disseram-me que era uma queimada". No dia seguinte a agitação era mais evidente. "Continuavam portas e abrir e fechar. Os guardas prisionais andavam de lado para lado...". A noite de 25 de Abril foi alucinante. "Fumei um volume de tabaco. A meio da noite acordei ao ouvir um barulho. 'Morte à PIDE e a quem a apoiar'. Pensei que estava louco. Não pode ser..."
O relato é de Jorge Carvalho, que tinha, na época, tinha vinte e poucos anos. Foi detido, pela primeira vez, pela PIDE em 1971. A 2 de Abril de 74 foi preso pela última vez e foi o último a ser libertado após a queda do regime.
Nas mãos da PIDE, no Porto, foi isolado e torturado. A tortura da estátua(ficar de pé, sem poder fazer qualquer tipo de movimento, durante vários dias) foi a mais de difícil de sobreviver. "Foi muito difícil", confessa.
Uma vez, quando a tortura já ia no terceiro ou quarto dia, Jorge Carvalho teve sorte. "Brilhantina", o pior agente da PIDE com quem se cruzou estava ausente. "Olho para trás e vejo um PIDE, novo ainda, a escorrer água completamente. Eu pedi para ir ao quarto de banho. Ele deixou-me ir e aí deu para descansar".
A liberdade foi festejada na rua e Jorge Carvalho continua a festejá-la, porque deve-lhe a felicidade, diz. Lamenta, apenas que o passado não tenha, agora, espaço no lugar onde esteve detido, e onde funciona actualmente o Museu Militar do Porto.
"Se há uma maquete sobre o 31 de Janeiro feita por militares , por que é que não tem nada alusivo ao 25 de Abril? E quem passa cá fora lê que ali é o Museu Militar... Não diz que foi uma prisão política".
As memórias com mais de 40 anos permanecem presentes, tal como o ideal de vida que Jorge Carvalho mantém. "Vamos continuar a lutar, porque viver é lutar e a vida é combate".
Sónia Santos Silva – TSF