Brasília – Na mesma semana em que a Presidente Dilma Rousseff, depois de uma sucessão de idas e vindas e desmentidos, anunciou a extinção da SEPPIR (passará a integrar um Ministério da Cidadania junto com a Secretaria das Mulheres) a Relatora Especial das Nações Unidas sobre Questões de Minorias, Rita Izsák, disse que a população negra brasileira “é a mais ameaçada pela crise econômica” e que pobreza no Brasil “tem cor”.
Segundo a Relatora, na entrevista concedida à BBC Brasil, os negros brasileiros querem resultados imediatos nas políticas de igualdade que foram adotadas nos últimos anos e que “as pessoas estão muito impacientes”.
No Relatório apresentado na última quinta-feira, Izsák apontou a falta de representatividade de negros em posições públicas e privadas e disse que o país pode fracassar em capitalizar os avanços feitos até agora se não houver diálogo e confiança. “O tecido social é muito frágil”, acrescentou encerrando a missão oficial de 11 dias, que incluiu visitas a cidades na Bahia, Rio e S. Paulo.
Húngara de nascimento, a relatora ecoou a posição oficial do movimento negro atrelado ao Estado e de setores da academia de que “a mídia precisa expor mais modelos negros para romper o ciclo de marginalização, e que a exposição de negros na TV é, geralmente, relacionada à violência e à criminalidade”. “Infelizmente, não há modelos positivos”.
No relatório que apresentou, ela concluiu que “há muitas boas leis para proteger os direitos das minorias. “No entanto, elas exigem medidas mais imediatas que possam se manifestar em mudanças reais em suas vidas”, sublinhou.
Violência
Para Izsák, a guerra às drogas embute a prática sistemática da violência contra os negros brasileiros. “É uma questão muito complicada. A guerra às drogas é uma fonte de violência contra brasileiros negros. A taxa de homicídios no Brasil é estimada em 56 mil pessoas por ano (), e há estimativa que 75% das vítimas sejam negros. Trata-se de algo preocupante. Especialmente se considerarmos que negros são 75% da população carcerária", enfatizou.
Izsák, contudo, perguntada sobre se considera o Brasil um país racista, ponderou. “Há pessoas racistas, mas há também progressistas, como em todo o lugar. Mas eu não diria que o Brasl é um país racista. Acho que uma das questões aqui é a concentração do poder político, econômico e midiático nas mãos de algumas pessoas. E, entre eles, encontramos muitos que não acreditam no potencial de negros. Não é que a maioria dos brasileiros seja racista, eu duvido disso", finalizou.