Rui Peralta, Luanda IN PG
Existe um pequeno país, com menos de 7 milhões de habitantes, situado no Continente Africano, mais especificamente no Corno de África, entre as latitudes 12º e 18º N e as longitudes 36º e 44º E, banhado pelo Mar Vermelho a Nordeste e a Este, fronteira terrestre com o Sudão a Oeste, a Etiópia, a Sul e o Djibouti a Sudeste. A Eritreia – como se denomina este pequeno país – é responsável por cerca de 12% do total dos que procuram uma vida melhor na Europa. Nos últimos 10 anos mais de 365 mil eritreus (cerva de 5% da população) fugiram do país.
A Eritreia não é propriamente um modelo de desenvolvimento, mas antes um exemplo do que um Estado não deve ser. Encontra-se no lugar 177 no Índice de Desenvolvimento Humano e para a maioria dos seus cidadãos é uma extensão do Inferno, governado pelo general Isaías Afwerki, no Poder desde 1991, um herói da guerra da independência, travada contra a Etiópia entre 1962 e 1993, um conflito de mais de 3 décadas.
Afwerki governa com punho firme e coloca a Nação etíope sob um estado permanente de paranoia, sem direitos constitucionais nem eleições. A sociedade eritreia é uma sociedade militarizada, cujos cidadãos iniciam-se aos 15 anos nas lides militares e sujeitos a um serviço militar de 30 anos. A tortura é norma e a mão-de-obra é semiescrava (sob o termo de “mobilização”) nos empreendimentos estatais, no sector mineiro e nas obras de infraestrutura.
Execuções extrajudiciais (e judiciais) compõem este panorama, próprio de um Estado Policial e claro o Partido único, neste caso a Frente Popular para a Democracia e Justiça, um contrassenso que não é Frente, nem Popular, ou muito menos Democrática, nem tampouco mobilizada para a Justiça. Neste universo concentracionário os que tentam abandonar o país são considerados traidores, podendo ser mortos a atravessar a fronteira, segundo as normas governamentais.
No país existe uma discreta presença israelita, que abastece de material bélico e equipamento militar o regime eritreu, a troco das bases para controlo e monitorização do Mar Vermelho e do Estreito de Bab-al-Mandeb. Cerca de 4 mil pessoas por mês fogem do país, em direcção ao Sudão e á Etiópia. O Objectivo é a Europa e em particular a Suécia, o único país que prioriza a imigração eritreia. Em Israel habitam cerca de 90 mil eritreus, vitimas dos “progroms” da extrema-direita sionista e formam, nos últimos meses, o grupo mais numeroso – depois dos sírios – que desde a Líbia chegaram a Lampedusa, embora centenas se tenham afogado no Mediterrâneo. Segundo a ONU em 2014 foram registadas cerca de 50 mil pedidos de asilo por parte de cidadãos eritreus em mais de 40 países europeus.
Mas estes tormentos não ficam por aqui. Em Kasala, que é a primeira cidade do Sudão mais próxima da fronteira com a Eritreia, um terço dos refugiados são sequestrados por traficantes sudaneses, que os transladam para o deserto do Sinai, onde são vendidos a bandos que negoceiam os resgates com os familiares. Segundo diversos relatórios da ONU e de ONG`s egípcias e israelitas, os sequestrados são torturados e sujeitos a violações e amputação de dedos e/ou membros. Os seus resgates rondam os 5 mil USD por pessoa. A rede sudanesa que negoceia com estes bandos do Sinais é geralmente constituída por polícias, parceiros dos Rashaida uma tribo de Beduínos nómadas do Nilo, que vivem ancestralmente da pastorícia e do contrabando.
Nos últimos meses, têm-se registado ataques aos campos de refugiados da ONU na área de Kasala e de al-Shagarab, no Sudão, com o objectivo de efectuar mais sequestros, para serem vendidos no Iémen e na Líbia. Um guarda-fronteira sudanês receberá cerca de 100 USD por cada sequestrado. Existe, ainda, na Etiópia, no campo de refugiados de Mav Ayni, um bando que se especializou em adolescentes, com ligações a militares eritreus.
Perseguidos, esfomeados, humilhados e torturados no seu país e nos países vizinhos, afogados no Mediterrâneo, os eritreus agonizam. Sob a sua agonia foi construído um muro de silêncio. Está na hora de o quebrar…