O coordenador Nacional do Grupo dos 15 deputados dissidentes das fileiras do Partido Africano para Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Braima Camará, apelou aos elementos do grupo para que façam uma escolha clara entre a justiça e a ditadura, advertindo contudo, que é difícil mexer numa equipa que sempre ganha. O político lembrou ainda aos presentes que tanto o grupo que dirige [Grupo 15], como o Movimento de Apoio ao Presidente JOMAV e o Movimento Bothce Candé pertencem todos aos renovadores (PRS), porque e tal como disse, “estamos aqui por causa do PRS”.
Camará falava hoje, 09 de junho de 2018, para mais de 500 elementos do grupo provenientes das diferentes regiões do país e da diáspora, para participar na reunião denominada “Anel 101”, que decorre no espaço Paiã, em Bissau. A reunião visa debater abertamente o futuro do grupo. De acordo com as informações apuradas, os participantes analisarão a possibilidade da formação de um partido ou pela criação de um movimento que coligar-se-á com um partido a fim participar nas eleições legislativas agendadas para 18 de novembro do ano em curso.
O Coordenador do Grupo disse, no seu discurso de abertura da reunião, que foram expulsos das fileiras do PAIGC porque entenderam que a “democracia não é a lei do mais forte, não é o combate de muçulmanos contra cristãos nem um combate de brancos contra pretos ou de ricos contra pobres. A democracia é a defesa da verdade e o respeito pela diferença de opiniões”.
“ada será imposto à ninguém aqui. Portanto, saibam que estão aqui para opinar de uma forma soberana e responsável. A única coisa que vos peço é que não defendam o regresso a uma casa onde o presidente do partido é o dono do partido. Não podemos estar num partido onde o presidente é quem decide quem será candidato a presidência da República, quem será deputado e quem será governador. Não podemos estar num partido em que o líder defende o princípio da cultura: Quero, posso e mando, é meu e dito as regras”, exortou.
Assegurou que o grupo tem uma responsabilidade grande, por isso apelou aos elementos das diferentes estruturas a trabalharem afincadamente para dar uma lição de moral diferente no concernente à obediência da justiça e das instituições da República.
“Neste grupo, jamais iremos proteger alguém, a começar pelo Coordenador Nacional. No dia em que formos chamados a tribunal, vamos responder e estaremos dispostos a retirar a nossa imunidade para responder à justiça. Não se pode exercer a responsabilidade ou querer ser um titular de cargo público, recusando obedecer à justiça e alegando que é perseguição política. Estou disponível para responder perante a justiça a qualquer hora. E jamais vou refugiar-me na imunidade”, afirmou.
No seu discurso, Camará enalteceu o papel desempenhado pela comunidade internacional durante a crise política guineense, tendo assegurado que “em nenhum momento a comunidade internacional nos abandonou” sublinhando que, “naturalmente nenhum processo é perfeito”.
“Se houver a paz, a estabilidade, a democracia hoje, e a possibilidade de manobras dilatórias, de tentação de adulteração de resultados eleitorais, a comunidade internacional posicionar-se-á ao lado da verdade”. Camará defendeu de seguida que o recenseamento deve ser presencial, pessoal e local. “Temos que agradecer à comunidade internacional pela firmeza”, disse.
Em nome dos combatentes da liberdade da pátria, o coordenador-adjunto do Grupo 15, Luís Oliveira Sanca, afirmou na sua intervenção que o “presidente do PAIGC, Domingos Simões Pereira, jamais voltará a ser dirigente nesta terra”, porque fragilizou o partido com as expulsões e a suspensões.
“Estamos e estaremos sempre na linha de frente com os renovadores para esmagar politicamente o atual presidente do PAIGC com os seus comparsas”, assegurou o veterano de guerra que, entretanto, aproveitou a ocasião para apelar aos dirigentes, combatentes e aos militantes do partido libertador a se juntarem ao Grupo porque Simões Pereira não respeita o PAIGC.
O representante dos deputados do grupo, Adja Satu Camará Pinto, lembrou aos presentes que o grupo dos 15 tentou várias vezes fazer ouvir a sua voz a fim de mostrar que o PAIGC é um partido do centro democrático, onde se faz crítica abertamente.
“É um partido da esquerda e não da direita, mas acima de tudo que ouve a opinião das massas. Mas não nos foi possível fazer ouvir a nossa voz! Nesta luta, pretendemos mostrar aos militantes do PAIGC que as pessoas falharam com os nossos estatutos. Alguns dos nossos colegas ficaram pelo caminho”, referiu, para de seguida agradecer a todas as formações políticas e às estruturas do grupo que lhes apoiaram durante o processo.
Salienta-se que durante a abertura, observou-se um minuto de silêncio em memória de dois elementos do grupo falecidos, designadamente a dputada Isabel Buscardini e o deputado Tumane Mané, como também foram homenageados vários elementos do grupo que ficaram pelo caminho.
15 deputados do PAIGC foram expulsos das fileiras daquele partido depois de terem votado pela abstenção o programa do Governo liderado pelo Eng° Carlos Correia, defendido pela bancada parlamentar do partido, a 23 de dezembro de 2015.
Por: Assana Sambú
Foto: AS