sábado, 9 de junho de 2018

MULHERES DE BIGENE COMBATEM FOME COM HORTICULTURA

[REPORTAGEM] O projeto hortícola ‘Concó Bai’ – (combater a fome) do setor de Bigene trabalha na melhoria de vida das famílias desta localidade fronteiriça, no norte da Guiné-Bissau, há seis quilómetros do Senegal.
 
‘Concó Bai’ numa tradução livre quer dizer na língua mandinga – combater a fome. Esta organização das mulheres de Bigene tem atualmente 65 (sessenta e cinco) membros. Apenas um homem faz parte do grupo, neste caso João Diamantino Gibril Baldé, o seu porta-voz e igualmente animador.
 
‘Concó Bai’ fundado em 2015 com vista a facilitar os trabalhos das mães horticultoras do setor de Bigene, neste momento tem um campo com 61m² (sessenta e um) metros quadrados, um espaço que já se apresenta pequeno pelas demandas das gentes da comunidade local que quer aderir ao projeto.

A direção é composta por mulheres, desde presidente, vice-presidente, secretária e tesoureira, mas todas elas contam com apoio do porta-voz do projeto João Diamantino Gibril Baldé, uma pessoa com larga experiência na animação e gestão de pequenos projetos.
 
As 46 mulheres fixaram uma quota mensal de 250 (duzentos e cinquenta) francos CFA e uma contribuição semanal de 100 (cem) francos, como forma de manter a estabilidade económica do projeto.
 
‘Concó Bai’ não se limita apenas ao combate à fome, mas também está determinada a lutar contra o analfabetismo no seio da comunidade das mulheres horticultoras. Para isso, a organização aguarda um financiamento para iniciar a alfabetização das mulheres.
 
A vontade de ler e de escrever não falta a estas mulheres. A título do exemplo, as associadas de ‘Concó Bai’ já tinham investido seus dinheiros numa aula noturna de alfabetização, mas a iniciativa foi interrompida devido aos custos. Para tal, a organização recorria às lanternas para iluminar as salas de aula, mas os custos elevados obrigaram-lhes a encerrar as portas.
 
O porta-voz do grupo disse ao semanário O Democrata que as mulheres estão ansiosas para ver a iniciativa de alfabetização ser uma realidade no seio do projeto – Concó Bai. A organização revela que recebeu uma promessa da parte da presidente do Comité Nacional para o Abandono das Práticas Tradicionais e Nefastas à saúde da mulher e criança (CNAPTN), Fatumata Djau Baldé, que prometeu oferecer um painel solar para garantir a iluminação nas salas durante as aulas de alfabetização.
 
SOGIBA APOIA MULHERES DE ‘CONCÓ BAI’
 
Atualmente, o projeto conta com o apoio da organização não-governamental espanhola SOGIBA, que prometeu a vedação do espaço de 61m² com grelhas de aço e na construção de dois poços que servirão para a irrigação dos canteiros hortícolas.
 
Apesar dos poços abertos no campo hortícola, as mulheres queixam-se de dificuldades em água para irrigação. Neste particular, O Democrata soube que a entidade contratada para construir o poço é que não cumpriu o acordado com a organização não-governamental espanhola, por isso, o poço não atingiu a profundidade desejada.
 
O campo hortícola apoiado pela Sogiba foi construído em 2017 para receber 64 mulheres horticultoras, mas atualmente está cercado também por pequenos cercados com ramos de palmeira, propriedade de outras mulheres que não conseguem espaço no interior.
 
Sogiba apoia ainda na manutenção dos mesmos poços desde que foram construídos no campo hortícola do projeto ‘Concó Bai’. Foram lá enviados equipas de manutenção duas vezes.
 
O porta-voz e animador do grupo sublinha ainda que há uma necessidade de aumentar a profundidade dos dois poços com vista a facilitar ainda mais o trabalho das mães horticultoras.
 
Solicitado a pronunciar-se sobre algumas pragas que danificam as variedades hortícolas, João Diamantino Gibril Baldé lamenta a situação de danos que estão a verificar-se no campo, sublinhando que tiveram prejuízos na produção. Garantiu por outro lado que a sua organização está a lutar contra essas pragas.
 
“Sogiba aconselhou-nos a não usarmos inseticidas nas plantas. É este conselho que estamos a seguir. Neste momento, usamos tabaco, piripiri, cascas de árvores. Recorremos às soluções tradicionais que Sogiba nos mostrou para não prejudicar a saúde das pessoas que posteriormente vão consumir os produtos do nosso campo”, explicou.
 
No campo hortícola de ‘Concó Bai’ nunca utilizamos adobos químicos, mas adobos orgânicos, ou seja, as palhas de arroz.
 
‘CONCÓ BAI’ PRETENDE ALARGAR SEU CAMPO HORTÍCOLA
 
João Diamantino Gibril Baldé disse que ‘Concó Bai’ pretende alargar seu espaço para 200m² (duzentos) metros quadrados, tendo em conta que na lista de espera estão inscritas mais de 160 (cento e sessenta) novas mulheres com vontade de aderir a iniciativa.
 
Ainda existe espaço para ampliar o campo, mas ‘Concó Bai’ espera por um financiamento com vista a vedar os 200m² para permitir a inclusão das 160 mulheres que ainda estão de fora do campo já construído em 2017.
 
O espaço que ‘Concó Bai’ está a utilizar pertence ao Comité do Estado do setor de Bigene. Ou seja, para os nativos de Bigene o campo hortícola fica situado na chamada Campo de Granja do Estado onde estão plantadas mangueiras, no bairro de Central.
 
O grupo ‘Concó Bai’ produz tomate, repolho, beringela, piripiri, cebola, cenoura e demais produtos hortícolas. A maior parte da produção serve para abastecer o pequeno mercado de Bigene, e os ganhos servem para as mães pagarem os estudos dos filhos, as quotas e alguma poupança e as rendas.
 
João Diamantino Gibril Baldé avançou que algumas pessoas deslocam-se de Farim para comprar produtos às mulheres do campo de ‘Concó Bai’.
 
As mulheres têm 8 (oito) canteiros cada, espaço que já manifestaram a desejo de alargar para permiti-las aumentar a sua produção. Este ano a luta é contra as pragas. Esta é a primeira praga que afeta as produtoras de ‘Concó Bai’.
 
O porta-voz de ‘Concó Bai’ acredita que o seu projeto vem diminuir bastante a pobreza no setor de Bigene, porque as mães conseguem pagar as propinas de mais de cinco dos seus filhos, sobretudo, na Escola ‘Bons Amigos’.
 
 
 
Por: Sene Camará
Foto: SC
@ OD maio de 2018