terça-feira, 23 de junho de 2015

OS PRÓXIMOS DEZ PONTOS FORTES DE ÁFRICA, SEGUNDO O MAIL & GUARDIAN AFRICA

A Stratfor publicou recentemente as suas sempre esperadas Previsões para a Década, onde destaca projetos políticos e económicos de todo o mundo a ter em conta nos próximos dez anos. Os analistas veem o mundo em 2025 como um lugar bem mais «fraturado», perigoso e caótico, com a Rússia a colapsar, o poder dos EUA em declínio e o progresso rápido da China estagnado. Mas, para África, nem uma previsão: as únicas referências ao continente são sobre a África do Norte, relativamente ao contexto do Médio Oriente, e a África Oriental, que poderá adotar parte das políticas de exportação chinesas, nomeadamente quanto a salários baixos e a uma força de trabalho extensa.
 
No entanto, o Mail & Guardian Africa decidiu completar o trabalho da Stratfor, e faz a sua própria previsão das possíveis tendências de África para os próximos dez anos, que irão definir o futuro do continente e a sua relação com o mundo.
 
1. Um deserto mais «verde» e até com pastos
 
Aindas que as mudanças climáticas se associem a eventos climatéricos extremos, o oposto também se verifica. Algumas zonas muito secas e quentes estão a tornar-se mais húmidas. Isto nota-se sobretudo em zonas do Saara, nomeadamente no norte do Sudão, no sudoeste do Egito, na zona do Saara Ocidental e em algumas partes da região do Sahel. Na última década, estas áreas estão a ficar mais verdes, e os pastores falam de erva, plantas e até árvores em zonas que dantes eram apenas de areia.
 
2. A tão necessária juventude africana
 
É um tema sempre focado, mas o impacto da demografia em África nos dias de hoje e nas próximas décadas parece ainda não ter sido totalmente analisado. A população está a envelhecer um pouco por todo o mundo, e por isso chegará a altura em que a África subsaariana terá a missão de responder à necessidade que existe em termos de trabalho. A emigração deverá seguir mais para norte, para empregos nos serviços e na indústria mas também na área militar.
 
3. O impacto político fora de portas
 
Os emigrantes africanos de segunda e terceira geração desempenham um papel cada vez mais notório, um pouco por todo o Ocidente, em termos de carreiras políticas. Por um lado, há os protestos dos mais pobres, que dirigem a atenção de todo o mundo para um dado ponto (recordem-se as manifestações nos arredores pobres de Paris). Por outro, há o lado rico, que leva os jovens afrodescendentes a entrarem para partidos políticos dos países onde vivem e a disputarem até cargos de destaque.
 
4. Os sucessores da China A China
 
está quase nos limites do seu crescimento e desta era de trabalho barato. Hoje em dia há países com ordenados mais baixos, que deverão herdar o modelo de crescimento chinês. A Stratfor identifica dezasseis países nestas condições, a que chama os «16 Pós-China». Entre eles estão, de África, Etiópia, Uganda, Quénia e Tanzânia, que juntos perfazem uma população de 220 milhões de pessoas – dois terços dela com menos de 30 anos.
 
5. O fim dos trabalhos rotineiros e repetitivos…
 
Mas o modelo etíope, por exemplo, também não durará para sempre. Nos próximos dez anos, a indústria vai sofisticar-se, e o velho modelo do «operário» vai desaparecer. Um estudo recente da Universidade de Oxford sobre o futuro do emprego diz que as ocupações intensivas e rotineiras vão desaparecer dos locais de trabalho, sendo esses empregos substituídos por máquinas.
 
6. … e a permanência dos trabalhos intelectuais e de desenvolvimento
 
Por outro lado, os trabalhos que correm menores riscos de serem eliminados são os mais intelectuais e menos técnicos. Por um lado, aqueles que envolvem persuasão, negociação e cuidados, e também professores, educadores de infância, trabalhadores sociais, formadores e terapeutas; por outro lado, trabalhos altamente especializados, criativos e inovadores, como engenheiros, informáticos, arquitetos, músicos, escritores ou realizadores. Até trabalhos como planeadores de eventos ou responsáveis de Relações Públicas parecem estar seguros.
 
7. O domínio egípcio dos mares
 
O extremo poder do Egito em termos militares (em termo de número de efetivos ou de qualidade de equipamentos, por exemplo) dá-lhe boa margem para ultrapassar, neste aspeto, toda a África. O foco deste país deverá estar nos próximos anos no Mar Vermelho, por um lado, e no Oceano Índico, por outro. Ao mesmo tempo, espera-se uma aposta no reforço do poder militar.
 
8. A energia solar
 
Vive-se uma época inédita em termos de energias renováveis. E, para África, a última boa notícia veio da americana Tesla, que vai construir uma poderosa bateria de iões de lítio que armazenará energia solar e eólica por muito mais tempo do que aquele que até aqui se conseguia assegurar. A Tesla’s Powerwall, com outros grandes projetos já anunciados, vai permitir ao continente africano começar realmente a explorar todo o seu potencial em termos de energia solar, e muitos milhões de pessoas passarão diretamente da vida sem qualquer energia para casas totalmente «movidas» a energias renováveis.
 
9. A tecnologia dos «espaços em branco»
 
As empresas de internet estão a testar serviços de televisão com «espaços brancos» - isto é, espaço vago no espectro das frequências analógicas que pode ser usado para levar acesso wireless de banda larga a ainda mais pessoas – ao contrário dos serviços Wi-Fi convencionais, que abrangem áreas pequenas, como uma casa ou um edifício. A Microsoft 4Afrika Initiative é um projeto-piloto de «espaços em branco» sediado no Quénia, que leva internet a muita gente através deste sistema. Projetos semelhantes estão a ser desenvolvidos no Gana, na África do Sul e na Tanzânia.
 
10. A queda da Nigéria
 
A Nigéria ultrapassou a África do Sul em 2014 enquanto maior economia do continente. Mas há falhas estruturais muito profundas, que farão o seu crescimento desaparecer em breve. O país deverá cair nas estatísticas, em grande parte devido às suas limitações energéticas. Muitas empresas insistem no fabrico totalmente manual, por exemplo, porque não há energia que lhes permita manter máquinas em funcionamento. E, se não surgirem reformas radicais, a Nigéria não conseguirá funcionar como uma economia moderna. Fonte: Aqui