Fonte: http://port.pravda.ru
Ensaio introdutório à política externa americana e suas ações para com a União Soviética (no passado) e a Rússia (atualmente)
Fred Leite Siqueira Campos (professor e pesquisador da UFSC)
Beatriz Marcondes de Azevedo (pós-doutoranda da UFSC)
Sérgio Roberto Gouveia Lopes (egresso do curso de Relações Internacionais da UFSC)
Os principais formuladores da política externa dos Estados Unidos, durante os últimos anos da Segunda Guerra Mundial e, posteriormente, na Guerra Fria, estipularam diretrizes à ação do seu país no cenário do pós-guerra. Dentre esses cenários, o principal, em torno do qual giravam todos os demais, dizia respeito à União Soviética. Além disso, convencionou-se, entre os estudiosos do tema, denominar de "estratégia de contenção", o conjunto de políticas e ações levadas a cabo pelos Estados Unidos contra a potência socialista. Esse agregado de políticas seria guiado, principalmente, pelo artigo "The Sources of Soviet Conduct", escrito pelo diplomata estadunidense George Kennan, em 1947, e pelo documento "NSC-68" redigido pelo Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, em 1950.
Mas, mesmo com o fim da Guerra Fria e da bipolaridade no sistema internacional, esse conjunto de estratégias e políticas teve continuidade e, apesar da mudança de cenário, sua lógica essencial parece não ter mudado. As disposições táticas e as diretrizes de política externa dos Estados Unidos para a Europa Oriental e países da extinta União Soviética possuem traços semelhantes àqueles da antiga "estratégia de contenção", dessa vez tendo como alvo a Federação Russa. Apesar da mudança sistêmica, a política externa dos Estados Unidos naquela região demonstra profunda semelhança com as teorizações geopolíticas do período anterior (DUGIN, 2014).
Em relação à política externa dos Estados Unidos, na Guerra Fria, é possível afirmar que no seu início, os americanos buscavam compreender a natureza da ameaça soviética e, para tal, o documento "NSC 68" foi um dos primeiros e mais importantes instrumentos para o entendimento das motivações sobre as decisões tomadas pelos norte-americanos sobre essa questão (WELLS, 1979).
O documento começa com uma breve reflexão sobre o período anterior àquele no qual era escrito. Na sequência, faz-se uma distinção entre o propósito precípuo dos Estados Unidos e a configuração fundamental do Kremlin. Neste sentido, diz-se que o objetivo essencial da potência norte-americana é descrito como o de assegurar a segurança e vitalidade da "sociedade livre" e da dignidade do indivíduo. Além disso, defende-se a ideia de que os Estados Unidos estão determinados a defender as "liberdades individuais, criar as condições para que floresça o sistema democrático" e, se necessário, lutar para defender esse estilo de vida. Sendo assim, se a luta se delineava nesses parâmetros, caberia então aos Estados Unidos se colocarem na posição de liderança mundial, ajudando outros povos do "mundo livre" no desenvolvimento de capacidade militar e moral para que seja resguardada a segurança nacional norte-americana e para que a União Soviética tomasse conhecimento da "falsidade de suas crenças" e se acomodasse ao sistema internacional, convivendo de forma pacífica com os demais países e abandonando os seus desígnios. O documento revela, ainda, que a política externa norte-americana não objetivava a subjugação do povo russo, o que poderia fazê-lo apoiar ainda mais o "governo que os oprimia", mas, auxiliá-lo a conseguir uma nova chance de seguir rumos diferentes na sua comunidade nacional.
Ao prosseguir na estratégia delineada para os Estados Unidos, o documento propõe o fortalecimento econômico e defensivo da Europa Ocidental e, sobretudo, da Grã-Bretanha. Assim, seria de suma importância que os aliados ou potenciais aliados dos americanos não caíssem em condições de neutralidade, o que potencializaria o perigo do domínio soviético. Entende-se que se isso viesse a acontecer com a Alemanha, as consequências para a Europa e, posteriormente para os Estados Unidos, seriam catastróficas. Em relação à Ásia, seria recomendado o fortalecimento dos governos "moderados" daquele continente e, também, o fortalecimento social, das instituições e economias para que os recursos materiais e humanos daquela região pudessem ser melhor utilizados.
Assim, resumindo-se a prática da política externa dos Estados Unidos (no passado e atualmente), têm-se os seguintes pontos: a defesa dos valores da "democracia e liberdade do indivíduo contra o totalitarismo"; o auxílio dos Estados Unidos ao desenvolvimento militar, econômico e moral do "mundo livre"; a insuficiência da vitória militar; a necessidade de reeducar os povos segundo os valores Ocidentais, para que a União Soviética (no passado) e a Rússia (atualmente) não se expandisse; o fortalecimento da Europa Ocidental, especialmente Reino Unido e Alemanha, já que, se o país germânico se tornasse neutro ou aliado da União Soviética (Rússia), essa teria predominância na Europa, produzindo uma "grande catástrofe" à segurança nacional norte-americana.
REFERÊNCIAS:
DUGIN, Aleksandr. (2014). A Geopolítica da Rússia Contemporânea. São Paulo: Versila.
WELLS, Samuel. F. (1979). Sounding the Tocsin: NSC 68 and the Soviet Threat. International Security, 4(2), 116-158. Doi:10.2307/2626746.
Ensaio introdutório à política externa americana e suas ações para com a União Soviética (no passado) e a Rússia (atualmente)
Fred Leite Siqueira Campos (professor e pesquisador da UFSC)
Beatriz Marcondes de Azevedo (pós-doutoranda da UFSC)
Sérgio Roberto Gouveia Lopes (egresso do curso de Relações Internacionais da UFSC)
Os principais formuladores da política externa dos Estados Unidos, durante os últimos anos da Segunda Guerra Mundial e, posteriormente, na Guerra Fria, estipularam diretrizes à ação do seu país no cenário do pós-guerra. Dentre esses cenários, o principal, em torno do qual giravam todos os demais, dizia respeito à União Soviética. Além disso, convencionou-se, entre os estudiosos do tema, denominar de "estratégia de contenção", o conjunto de políticas e ações levadas a cabo pelos Estados Unidos contra a potência socialista. Esse agregado de políticas seria guiado, principalmente, pelo artigo "The Sources of Soviet Conduct", escrito pelo diplomata estadunidense George Kennan, em 1947, e pelo documento "NSC-68" redigido pelo Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, em 1950.
Mas, mesmo com o fim da Guerra Fria e da bipolaridade no sistema internacional, esse conjunto de estratégias e políticas teve continuidade e, apesar da mudança de cenário, sua lógica essencial parece não ter mudado. As disposições táticas e as diretrizes de política externa dos Estados Unidos para a Europa Oriental e países da extinta União Soviética possuem traços semelhantes àqueles da antiga "estratégia de contenção", dessa vez tendo como alvo a Federação Russa. Apesar da mudança sistêmica, a política externa dos Estados Unidos naquela região demonstra profunda semelhança com as teorizações geopolíticas do período anterior (DUGIN, 2014).
Em relação à política externa dos Estados Unidos, na Guerra Fria, é possível afirmar que no seu início, os americanos buscavam compreender a natureza da ameaça soviética e, para tal, o documento "NSC 68" foi um dos primeiros e mais importantes instrumentos para o entendimento das motivações sobre as decisões tomadas pelos norte-americanos sobre essa questão (WELLS, 1979).
O documento começa com uma breve reflexão sobre o período anterior àquele no qual era escrito. Na sequência, faz-se uma distinção entre o propósito precípuo dos Estados Unidos e a configuração fundamental do Kremlin. Neste sentido, diz-se que o objetivo essencial da potência norte-americana é descrito como o de assegurar a segurança e vitalidade da "sociedade livre" e da dignidade do indivíduo. Além disso, defende-se a ideia de que os Estados Unidos estão determinados a defender as "liberdades individuais, criar as condições para que floresça o sistema democrático" e, se necessário, lutar para defender esse estilo de vida. Sendo assim, se a luta se delineava nesses parâmetros, caberia então aos Estados Unidos se colocarem na posição de liderança mundial, ajudando outros povos do "mundo livre" no desenvolvimento de capacidade militar e moral para que seja resguardada a segurança nacional norte-americana e para que a União Soviética tomasse conhecimento da "falsidade de suas crenças" e se acomodasse ao sistema internacional, convivendo de forma pacífica com os demais países e abandonando os seus desígnios. O documento revela, ainda, que a política externa norte-americana não objetivava a subjugação do povo russo, o que poderia fazê-lo apoiar ainda mais o "governo que os oprimia", mas, auxiliá-lo a conseguir uma nova chance de seguir rumos diferentes na sua comunidade nacional.
Ao prosseguir na estratégia delineada para os Estados Unidos, o documento propõe o fortalecimento econômico e defensivo da Europa Ocidental e, sobretudo, da Grã-Bretanha. Assim, seria de suma importância que os aliados ou potenciais aliados dos americanos não caíssem em condições de neutralidade, o que potencializaria o perigo do domínio soviético. Entende-se que se isso viesse a acontecer com a Alemanha, as consequências para a Europa e, posteriormente para os Estados Unidos, seriam catastróficas. Em relação à Ásia, seria recomendado o fortalecimento dos governos "moderados" daquele continente e, também, o fortalecimento social, das instituições e economias para que os recursos materiais e humanos daquela região pudessem ser melhor utilizados.
Assim, resumindo-se a prática da política externa dos Estados Unidos (no passado e atualmente), têm-se os seguintes pontos: a defesa dos valores da "democracia e liberdade do indivíduo contra o totalitarismo"; o auxílio dos Estados Unidos ao desenvolvimento militar, econômico e moral do "mundo livre"; a insuficiência da vitória militar; a necessidade de reeducar os povos segundo os valores Ocidentais, para que a União Soviética (no passado) e a Rússia (atualmente) não se expandisse; o fortalecimento da Europa Ocidental, especialmente Reino Unido e Alemanha, já que, se o país germânico se tornasse neutro ou aliado da União Soviética (Rússia), essa teria predominância na Europa, produzindo uma "grande catástrofe" à segurança nacional norte-americana.
REFERÊNCIAS:
DUGIN, Aleksandr. (2014). A Geopolítica da Rússia Contemporânea. São Paulo: Versila.
WELLS, Samuel. F. (1979). Sounding the Tocsin: NSC 68 and the Soviet Threat. International Security, 4(2), 116-158. Doi:10.2307/2626746.