sexta-feira, 20 de outubro de 2017

FAMÍLIA GUPTA E PRESIDENTE ZUMA NA MIRA DO FBI

Südafrika - Ajay und Atul Gupta bei Pressekonferenz (Imago)
Os irmãos Ajay e Atul Gupta
A extensão dos crimes cometidos pelos dois irmãos de raízes indianas e pelo próprio Presidente da África do Sul levou a comunidade internacional a dizer que o país foi "capturado".

O cerco ao redor dos Gupta está cada dia mais fechado. A poderosa família de origem indiana, que domina os negócios na África do Sul, agora está na mira do FBI.

Além das escandalosas acusações de que o Presidente Jacob Zuma esteja a favorecer as atividades empresariais dos dois irmãos, o FBI está a investigar sobretudo fluxos de caixas suspeitos, enviados pelos Gupta diretamente da África do Sul para Dubai e para os Estados Unidos.

Os desdobramentos do caso no Reino Unido


Após o Financial Times publicar matéria nesta quinta-feira (19), na qual o ministro das Finanças pede aos reguladores bancários que investiguem possíveis laços dos credores com as famílias Gupta e Zuma, a Autoridade de Conduta Financeira da Grã-Bretanha (FCA, na singlês em inglês), procurou os bancos HSBC e Standard Chartered para averiguar se tais afirmaçes são de fato verídicas.

O Standard Chartered disse que não pode comentar detalhes das transações de seus clientes, mas acrescentou que "depois uma investigação interna, as contas em questão foram encerradas no início de 2014 ". O HSBC não quis prestar esclarecimento sobre o assunto.

Peter Hain, do Partido Trabalhista, enviou uma carta oficial, da Câmara dos Comuns do Reino Unido, ao ministro das Relações Exteriores britânico, Philip Hammond. Hain solicita que Hammond garanta às autoridades responsáveis pela aplicação da lei e às agências reguladoras do país que investiguem as acusações até o fim. No ofício de duas páginas, ele também pede que o ministro intervenha junto a todas as instituições financeiras do Reino Unido para que elas revejam sua exposição naquilo que concerne os negócios da família Gupta.

Presidente da África do Sul, Jacob Zuma

Um país "capturado” pelo crime

Em paralelo, o Presidente sul-africano Zuma, já começou a "queimar”, ou ainda, a se livrar de ministros e grandes empresários que teriam ajudado a família Gupta a "capturar” o país. O termo capturar vem sendo utilizado pela comunidade internacional devido à extensão dos danos que essa organização criminosa está a causar na África do Sul.

O Presidente Jacob Zuma não foi somente conivente com a família em questão. Segundo um relatório publicado por um  Consórcio de Jornalistas Africanos, baseado no Panama Papers, ele é um dos principais envolvidos nos crimes de corrupção contra seu próprio país.  

Nos Estados Unidos, o FBI ampliou as investigações sobre Ashish e Amol Gupta. Os dois têm cidadania norte-americana e também são sobrinhos de Atul e Ajay Gupta, que vivem em África do Sul. Os americanos suspeitam de que milhões de dólares tenham sido lavados através de contas bancárias ligadas aos Gupta.

Na África do Sul, o deputado Floyd Shivambu questionou o presidente do Senado, Cyril Ramaphosa, sobre a razão pela qual as empresas vinculadas aos Gupta não estarem a ser investigadas por suposto envolvimento em corrupção. "Porquê o Governo não fez nada sobre os 500 milhões pagos à Trillion Capital? Porquê não há uma  auditoria? Vocês têm medo dos Gupta?”, inquiriu Shivambu.

Südafrika Cyril Ramaphosa in Johannesburg (picture-alliance/Photoshot)
Cyril Ramaphosa

Ramaphosa, que contrariou Zuma em uma série de questões, incluindo a reformulação do gabinete, e que agora está a tentar assumir o controle sobre Zuma, deu uma resposta bem clara: "Qualquer valor pago indevidamente deve ser devolvido. E deve ser devolvido imediatamente. Aqueles que estão por trás da distribuição de todo esse dinheiro devem ser responsabilizados.”

"Tudo não passa de difamação”

As investigações do FBI ocorrem num momento em que uma série de e-mails vazados na África do Sul revelam que os Gupta tiveram influência indevida sobre o presidente Zuma, seus ministros e de empresas semi-estatais, lucrando com isso milhões de dólares. O Presidente sul-africano refutou todas as alegações. E a família Gupta também descreveu as acusações como uma campanha política de difamação contra ela.

Ivor Chipkin, do Instituto de Pesquisas Públicas da Universidade de Witwatersrand, disse que existe apenas uma solução para a captura do Estado: "Se tratarmos o que está a acontecer simplesmente em termos de criminalidade, vamos chegar à solução da lei e da ordem: a solução policial. Prendam os Guptas, livrem-se de Zuma e de alguma forma teremos solucionado essa questão".

Fonte: DW África