A Revolução de Outubro de 1917 foi celebrada durante décadas como o momento em que o bolchevismo iniciou a luta que o levaria ao poder na Rússia. Mas foi também o culminar de um longo caminho feito de revoluções frustradas que acabariam com uma dinastia secular e transformariam toda uma sociedade.
O cenário era digno de uma história de encantar, com um salão repleto de príncipes e de princesas e um palácio rodeado de fontes e de jardins. Era o palco do maior baile de que havia memória na Rússia e destinava-se a comemorar o 290º aniversário dos Romanovs, a dinastia fundadora de um império que se espalhava por três continentes e se autoproclamava defensora da cristandade ortodoxa. A ocasião também servia para mostrar a magnificência de uma monarquia que se via a si mesma como a herdeira do Império Romano e de um monarca que tentava deixar a sua marca na história. Nicolau II não se poupou a gastos e enviou emissários aos quatro cantos do império com os convites que endereçou à nata da aristocracia russa: deveriam apresentar-se na sua residência oficial, o Palácio de Inverno, onde estava a ser preparado um banquete digno de reis.
No dia 21 de fevereiro de 1903, os 390 eleitos foram recebidos com pompa e circunstância num palácio que por momentos parecia ter retrocedido no tempo. Os ilustres convidados vinham vestidos à moda do século XVII, como se estivessem a chegar à corte de Mikhail, o fundador da dinastia, e uma longa fila de charretes era recebida por uma guarda vestida a rigor e um batalhão de criados mobilizados para o evento. Os homens envergavam longos cafetãs e usavam chapéus de pele, as mulheres vestidos tradicionais com extensos bordados e o kokoshnik, um chapéu que permitia tapar todo o cabelo e era adornado com as melhores joias de família. Nicolau II usou o brocado dourado que pertencera ao czar Alexey Mikhailovich, e Alexandra Feodorovna o vestido da esposa, a imperatriz Maria Ilinichna. O vestido estava decorado com cetim de prata, pérolas e esmeraldas, e ao pescoço trazia um colar escolhido por Carl Fabergé, o famoso joalheiro que criou os ovos que têm o seu nome e eram o presente mais cobiçado da corte russa. O baile prolongou-se durante dois dias no meio de uma opulência que surpreendeu uma Europa a caminho da recessão, mas foi nas ruas de São Petersburgo que causou maior impacto e se tornou alvo dos mais acesos comentários.
A alegria e a riqueza do Peterhof contrastavam com a tensão e a pobreza que se vivia em São Petersburgo, a capital do império que ficava a apenas alguns quilómetros de distância do Palácio de Inverno e era perfeitamente visível a partir das suas torres apalaçadas. São Petersburgo era o grande centro urbano e cultural de um país essencialmente rural, atraindo não só uma burguesia frustrada com a estratificação da sociedade, mas também um proletariado cada vez mais radicalizado. O resto do país era um mar de pobreza pontilhado por pequenas ilhas de opulência. A aristocracia vivia encerrada nos seus palácios e coutadas de caça, detinha quase toda a terra arável e dominava o exército, o qual era uma fiel réplica da sociedade russa. Os cargos de oficiais eram destinados aos jovens aristocratas e o povo limitava-se a fornecer os soldados que morriam nas longínquas guerras do império. Apesar de a servidão ter terminado em meados do século XIX, os mujiques, termo pelo qual eram conhecidos os camponeses russos, continuavam a viver na pobreza mais abjeta e as suas vidas em pouco se diferenciavam das existências feudais dos seus antepassados. As 100 mil famílias nobres dominavam o topo de uma pirâmide formada por mais de 150 milhões de súbditos condenados a servir, e muitos começavam a olhar para a monarquia como uma mera instituição destinada a perpetuar o statu quo.
Numa altura em que a Europa Ocidental vivia o pico da industrialização, a Rússia parecia um anacronismo saído dos livros de história e na imprensa ocidental era regularmente descrita como o “império com pés de barro”. O seu exército era uma massa composta por mujiques mal treinados e liderados por oficiais que continuavam a seguir doutrinas antiquadas, a industrialização era lenta, mas estava a criar um proletariado cada vez mais reivindicativo, e o Estado era uma imensa máquina burocrática incapaz de se modernizar. Nicolau II, apesar das muitas fantasias que albergava, tinha noção dos muitos desafios que o país enfrentava e dos perigos que se avizinhavam, mas não conseguia afastar-se do rumo que o colocava em choque com as aspirações de um povo que começava a aspirar por uma Rússia diferente. Quando se despediu dos seus convidados no Palácio de Inverno, fê-lo sem imaginar que aquele seria o último baile dos Romanovs e o principio de um final trágico.
A revolta de 1905
Ainda não tinha passado um ano após o baile quando o império russo enfrentou o poder de um adversário em ascensão. O Japão tinha acabado de passar por um acelerado processo de modernização que implicou ocidentalizar a sua sociedade e industrializar a sua economia, e, como qualquer império daquela época, tinha como objetivo expandir o seu território e criar uma rede de colónias que dessem azo às suas ambições imperialistas. No início do século XX, já pouco restava por colonizar numa Ásia retalhada entre as potências europeias e os Estados Unidos, restando apenas uma China em decadência acelerada que já não se conseguia defender dos seus inimigos. Tanto a Rússia como o Japão viram ali uma oportunidade, lançando-se numa corrida pelos despojos que colocou os dois impérios em rota de colisão. A 8 de fevereiro de 1904, e sem prévia declaração de guerra, uma esquadra nipónica lançou um ataque-surpresa contra a frota russa ancorada em Port Arthur, enquanto em terra era lançada uma ofensiva sobre a Manchúria. A guerra apanhou Nicolau II de surpresa, porque confiava na superioridade numérica do seu exército como elemento de dissuasão suficiente para deter os japoneses, e os primeiros meses do conflito confirmaram o que muitos temiam: apesar de toda a bravura, a Frota do Pacífico foi aniquilada e o exército russo teve de abandonar Port Arthur. O conflito levou à mobilização de centenas de milhares de camponeses e ao aumento generalizado dos impostos, gerando uma onda de insatisfação que se tornou explosiva à medida que chegavam as notícias das derrotas sofridas no Extremo Oriente.
Foi neste cenário de crescente anarquia que a oposição ao governo monárquico foi ganhando força. De um lado estavam os liberais que procuravam impor um cunho reformista à governação e estavam dispostos a negociar com o czar, do outro estavam os revolucionários que tinham uma visão muito distinta para o futuro da Rússia e que, apesar da cisão interna que dividia as suas fileiras entre mencheviques (minoritários) e bolcheviques (maioritários), conseguiu aproveitar o clima de instabilidade para expandir a sua influência e ganhar adeptos. A situação tinha todos os condimentos para acabar mal, um temor que se tornou realidade quando um grupo de operários fabris se reuniu no centro de São Petersburgo e foi crescendo até se transformar numa multidão de manifestantes que marchavam na direção do Palácio de Inverno enquanto entoavam o cântico ‘Spasi, Gospodi, lyudi Tvoya’, (Deus, salva o teu povo). Foi no dia 22 de janeiro de 1905, e o seu protesto destinava-se a chamar a atenção do czar para a difícil situação em que viviam, mas acabou por atrair a polícia que abriu fogo sobre os manifestantes. O tiroteio indiscriminado causou um milhar de vítimas entre mortos e feridos, incluindo um dos seus dois líderes, o padre Georgy Gapon, que ficou ferido, tendo escapado incólume um revolucionário cujo nome não tardaria a tornar-se famoso, Vladimir Lenine.
O massacre, que ficou conhecido como o “Domingo Sangrento”, deitou por terra as esperanças de muitos russos que ainda acreditavam que o czar os iria ouvir e liderar a mudança da sociedade. O czar era a figura central da monarquia, o “paizinho” que representava a pátria e pelo qual deviam morrer em combate, mas Nicolau II não só pareceu indiferente aos que morreram a tentar dirigir-lhe um pedido de ajuda, como também não terá compreendido a importância daquele acontecimento para o seu próprio futuro. Ao anotar no seu diário as ocorrências do dia, dedicou algumas frases ao massacre sem se alongar em análises: “Que dia complicado! Houve grandes desordens em Petersburgo porque os operários queriam ser recebidos no Palácio de Inverno. A tropa teve de disparar e houve muitos mortos e feridos.” Registada a parte complicada, voltou a concentrar-se na sua rotina familiar. “A mamã veio visitar-nos à hora da missa. Jantámos em família. Passeei com o Miguel. A mamã vai ficar connosco esta noite.”
Apesar da forma lacónica como Nicolau II descreveu o “Domingo Sangrento”, os seus efeitos iriam dar azo ao aumento exponencial das greves operárias e das convulsões entre os mujiques que ansiavam por uma reforma agrária. No mês seguinte, a guerra no Extremo Oriente voltou a causar dissabores ao imperador, quando a guarnição de Mukden foi atacada por um poderoso exército nipónico que lhe causou cerca de 90 mil baixas e a obrigou a bater em retirada. Três meses mais tarde foi a vez de a armada russa ser dizimada em Tsushima e a Rússia ver goradas quaisquer esperanças de ganhar a guerra. A humilhação foi dupla, não só tinha sido derrotada em terra e no mar por uma potência oriental, como via desabar os seus planos coloniais no Extremo Oriente e tornava-se alvo de chacota das chancelarias europeias. O moral dos militares batia no fundo e o espírito de revolta começou a espalhar-se entre as suas fileiras. A 23 de junho, vários membros da tripulação do couraçado “Potemkine” exigiram ao seu comandante que fosse examinada a carne recebida a bordo, a qual tinha vermes e não estava em estado de ser consumida. O capitão Golikov decidiu responder com mão dura à ousadia dos marinheiros e ordenou a sua execução, acabando ele próprio diante do pelotão de fuzilamento quando a tripulação se amotinou, arriando a bandeira monárquica e hasteando a bandeira vermelha. A revolta alastrou rapidamente a outros navios da armada e até o luxuoso iate imperial se juntou aos revolucionários, o que fomentou uma revolução em terra e levou à formação de vários sovietes. Moscovo caiu nas mãos dos revoltosos perante o espanto de Nicolau II, que voltou a valer-se do seu diário para desabafar: “Isto contado ninguém acredita!”. Contudo, e apesar de alguns sucessos iniciais, a revolta acabou ser contida e os rebeldes foram derrotados. Moscovo tombou ao fim de dez dias de combates intensos, e após estabilizar a situação interna o governo ficou finalmente livre para negociar um armistício com o Japão, que foi assinado a 5 de setembro.
O caminho até à Revolução de Outubro
A revolução tinha sido esmagada e a Rússia estava de novo em paz com o Japão, mas era notório que algo tinha de mudar para tudo continuar na mesma, e por isso o czar aceitou a instauração de um regime constitucional bicamarário que prometia uma vaga reformista capaz de aplacar as tensões que tinham levado à revolta. As mudanças eram superficiais e não parecem ter alterado o comportamento de Nicolau II, nem tão pouco daqueles que o rodeavam. A mãe do imperador, que não hesitava em referir-se aos opositores da monarquia como “aqueles porcos” que queriam as suas terras, era apologista da linha dura e opunha-se a qualquer cedência política, tanto aos liberais como aos radicais. O seu pensamento ficou claramente expresso numa carta que endereçou ao filho, onde o aconselhou a manter-se firme e a não abrir mão das terras e dos privilégios da família imperial: “Não se pode pensar sequer em tocar nos direitos privados do imperador e da sua família. Se cedêssemos um só copeque estaríamos a cometer o mais irreparável erro histórico. Todo o futuro depende disso.”
O futuro incerto dos Romanovs acabou por ficar ainda mais comprometido quando o czar conheceu uma figura enigmática que se haveria de revelar extremamente controversa. Rasputine, um camponês semianalfabeto transformado em místico que se autodeclarara homem santo e “purificava” as mulheres através de contactos íntimos, o qual desenvolveu um forte poder de influência sobre a família imperial que fragilizou ainda mais a sua imagem pública. Nos anos que se seguiram, os governos liberais realizaram reformas que apenas adiaram a inevitável revolução. Uma reforma agrária permitiu a alguns camponeses a posse de pequenos terrenos e originou uma nova classe no meio rural, os kulaks, contudo a imensa maioria dos mujiques continuou sujeita às rendas abusivas da aristocracia russa, e apesar de operarem na clandestinidade, tanto os mencheviques como os bolcheviques continuavam a ganhar adeptos entre o campesinato e o proletariado industrial. Faltava apenas uma guerra para servir de rastilho como acontecera em 1905, e a oportunidade chegou em 1914, quando um assassínio na Sérvia pôs em curso uma série de acontecimentos que levariam à guerra generalizada. Em agosto desse ano, Nicolau II ordenou a mobilização do seu exército como resposta à tensão entre o Império Alemão e a França, não tardando muito a ser arrastado para um conflito que se acreditava estar terminado por altura do Natal. O exército russo avançou sobre a Prússia Oriental com a mesma confiança com que os alemães avançavam sobre a Flandres, acabando por sofrer a mesma desilusão que o Kaiser sofreu e um Natal amargo que fez recordar os dias da guerra com o Japão. Milhões de camponeses tiveram de abandonar os campos para uma rápida instrução militar a que se seguia o inferno das trincheiras, e a revolta voltou a espalhar-se pelo exército e pela armada de forma inexorável.
Após dois anos e meio de uma guerra que já tinha causado milhões de baixas ao exército russo, a economia estava à beira do colapso e a imagem da monarquia comprometida perante o povo russo. Muitos desconfiavam da exagerada influência que a imperatriz tinha sobre o marido, e quando o embaixador britânico perguntou a Nicolau II o que tinha em mente para voltar a ter a confiança da população, este respondeu-lhe de forma curiosa. “Que significa isso? Que tenho de reconquistar a confiança do meu povo, ou que ele tem de reconquistar a minha?” O diálogo passou-se em janeiro de 1917, e no mês seguinte a revolução estalou em Petrogrado, o nome “russificado” de São Petersburgo. Uma greve geral paralisou as fábricas no dia 25, a que se seguiu uma manifestação no dia seguinte que foi reprimida com centenas de mortos. Estalaram motins em várias unidades militares e desta vez ninguém quis lutar pela monarquia. Tanto os liberais como os radicais estiveram de acordo na implantação de uma República com um Governo Provisório liderado por Kerenski e a longa dinastia Romanov chegou ao fim.
A Revolução de Fevereiro de 1917 foi um mero preâmbulo da Revolução de Outubro de 1917. Há muito que os moderados tinham perdido o apoio das massas proletárias e dos mujiques, e os bolcheviques estavam finalmente prontos para sair da clandestinidade e para lançar a revolução que daria início à guerra de classes e transformaria toda a sociedade russa. A 7 de agosto, o general Kornilov ordenou ao 3º Corpo de Cavalaria que avançasse sobre Petrogrado e levasse a cabo uma purga, Kerensky viu o gesto como uma ameaça e deu ordem para que os arsenais entregassem armas ao Soviete local e a partir daí a situação descontrolou-se. Os soldados do 3º Corpo negaram-se a avançar e em outubro os bolcheviques capturaram vários membros do governo e passaram a controlar a cidade. Galvanizados pela vitória em Petrogrado, os revoltosos começaram a formar núcleos insurgentes por toda a Rússia e uma semana mais tarde Lenine exortou os bolcheviques a revoltarem-se contra o Governo Provisório, numa altura em que já contava com 40 mil soldados sob o seu comando e um número ainda maior de milicianos.
Um desfecho trágico
A Revolução de Outubro deu lugar a uma violenta guerra civil entre os bolcheviques (os Vermelhos) e uma oposição heterogénea que incluía democratas-liberais, conservadores e monárquicos (os Brancos). Muitos ainda acreditavam numa restauração monárquica que se revelasse fatal para o projeto comunista e garantisse uma intervenção mais musculada das potências ocidentais, uma ameaça que estava bem presente na mente de Lenine quando a família real ficou sob o seu controlo e foi transferida para Yekaterinburg, onde ficou a viver em isolamento total na Casa Ipatiev. A casa tinha uma paliçada interna com quatro metros de altura e outra externa ainda mais alta, as janelas estavam tapadas e a segurança era apertada, com guardas armados em todo o perímetro e posições com metralhadoras prontas a disparar. Os Romanovs foram proibidos de falar noutra língua exceto o russo, para evitar que pudessem falar entre si sem que os guardas os entendessem, e sempre que quisessem sair dos seus quartos tinham de tocar um sino. Esta situação durou três meses, período durante o qual a linha da frente se foi aproximando perigosamente de Yekaterinburg. Em meados de julho, a Legião Checa avançava na direção da cidade sem que as forças bolcheviques fossem capazes de a travar e havia o risco de conquistarem a cidade e libertarem a família imperial. Evacuar os Romanovs não resolvia o destino final a dar ao czar, e por isso organizou-se uma reunião em Moscovo que contou com a presença de Lenine, Sverdlov e Dzerzhinsky, e em que foi decidido executar toda a família.
Na noite de 16 para 17, os Romanovs foram acordados sob o pretexto de que iriam ser transferidos para um local mais seguro e após vestirem-se foram conduzidos para uma pequena sala na cave da casa. Yakov Yurovski era o comandante responsável pela guarda e não tardou a entrar seguido de um grupo de homens armados, lendo então a ordem que recebera dos seus superiores: “Nikolai Alexandrovich, devido ao facto de os seus familiares continuarem a atacar a Rússia Soviética, o Comité Executivo do Ural decidiu executá-lo”. Foi com estupefação que o antigo czar recebeu a terrível notícia, mas não houve tempo para muito mais. A imperatriz e a grande duquesa Olga tentaram abençoar-se sem sucesso e foram atingidas em pleno ato, ao mesmo tempo que Nicolau II era alvejado repetidamente e caía morto. O resto da família teve pior sorte. A princesa Maria foi atingida na coxa quanto tentava fugir e Alexandra na cabeça, mas o fumo da pólvora encheu rapidamente a sala e foi necessário arejar um pouco antes de prosseguir. Os gemidos tornavam claro que o tiroteio indiscriminado não tinha sido suficiente para matar todos e era evidente que estavam a fazer demasiado barulho e poderiam alertar a vizinhança. Faltava rematar os feridos e as crianças que nem sequer tinham sido feridas, pelo que o massacre passou a ser feito de forma mais metódica, mas não menos brutal.
A morte de Alexei foi particularmente grotesca. Um dos executores descarregou a sua arma no corpo do jovem herdeiro do trono sem que este morresse, de seguida foi esfaqueado, mas continuou a resistir, até que Yurovski decidiu acabar com aquela cena e desferiu-lhe um tiro na cabeça. De seguida foi a vez de as raparigas serem abatidas. Maria e Anastácia foram mortas a tiro enquanto Anna Demidova, uma criada da família, tentava defender-se com uma almofada e era esfaqueada até à morte. Quando tudo parecia terminado, Yurovski começou a tomar o pulso às suas vítimas enquanto um dos seus homens usava uma baioneta para garantir que ninguém sobreviveria, um temor que se tornou real quando uma das raparigas começou a chorar. Primeiro foi baionetada no peito e depois baleada na cabeça. Era o fim definitivo das esperanças monárquicas e menos um entrave implantação do comunismo na Rússia, primeiro passo para a reconstituição do império perdido através da formação da URSS. Apesar do sucesso da Revolução de Outubro, as décadas seguintes não trariam a paz e a justiça social ao povo russo. O terror estalinista começava a perfilar-se num horizonte sombrio e muitos milhões iriam perder a vida nas terríveis purgas dos anos 30.