domingo, 3 de dezembro de 2017

Crise Política e Parlamentar: CEDEAO REÚNE-SE COM ATORES POLÍTICOS GUINEENSES PARA AVALIAR “ACORDOS DE BISSAU E DE CONAKRY”


 
A Missão Interministerial da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) que se encontra no país desde sexta-feira, reuniu-se ontem, 2 de novembro 2017, com os atores políticos e titulares de órgãos de soberania para avaliar os “Acordos de Bissau e de Conakry”, visando encontrar soluções sobre a crise política que assola a Guiné-Bissau há dois anos.
 
A delegação da CEDEAO chefiada pelo ministro togolês de Negócios Estrangeiros, Cooperação Internacional e Integração Africana, Robert Dussey, encontrou-se primeiramente com o Presidente José Mário Vaz, para o explicar do objeto da vinda de missão. Depois reuniu-se com o presidente da Assembleia Nacional Popular, Cipriano Cassamá, bem como o Primeiro-ministro, Umaro Sissoco Embaló, com o intuito de encorajá-los na busca da paz e estabilidade para a Guiné-Bissau.

Após encontros mantidos com os titulares de órgãos de soberania, a missão reuniu-se separadamente com os responsáveis do PAIGC, do PRS, dos 15 deputados expulsos do PAIGC.
 
A missão realizou uma reunião conjunta com os líderes da União para Mudança, do PCD e do PND.
 
E por último recebeu o coletivo das mulheres facilitadoras do entendimento entre os políticos guineenses.
 
Segundo o chefe da missão, Robert Dussey, a missão está no país com o propósito de avaliar os acordos de Bissau e de Conakry, como também encorajar todos os atores políticos no sentido de encontrarem um consenso o mais rápido possível.
 
PAIGC PEDE A CEDEAO QUE PRESSIONE PRESIDENTE JOMAV PARA CUMPRIR ACORDO DE CONAKRY
 
Carlos Correia, primeiro vice-presidente do PAIGC, pediu a delegação da CEDEAO para exigir o Chefe de Estado da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, o cumprimento do Acordo de Conakry.
 
Lembrou ainda na sua declaração aos jornalistas que o seu partido não tem problema, mas tudo está nas mãos do Presidente da República, que segundo ele, deslocou-se até a vizinha Guiné-Conakry para pedir a mediação, depois recusou cumprir com os acordos assinados para o fim da crise.
 
“Os restantes pontos do acordo [de Conakry] podem ser aplicados apenas quando o Presidente da República der os primeiros passos, que passa pela nomeação de Augusto Olivais, como o nome de consenso alcançado em Conakry”, defendeu.
 
O político diz duvidar da capacidade da CEDEAO para a resolução da crise guineense e advertiu que a situação pode agravar-se se não for encontrada solução que, no seu entender, passaria pelo cumprimento do acordo de Conakry.
 
PRS SUSTENTA QUE O ACORDO DE CONAKRY ESTÁ A SER CUMPRIDA E ÚNICO BLOQUEIO É FECHO DE ANP
 
Para o representante do Partido da Renovação Social, Sola N΄Quilim Na Bitchita, a situação que se vive na Guiné-Bissau não tem outro caminho se não por via do diálogo que envolve todos os guineenses.
 
“Estamos disponíveis a ajudar na procura de soluções que permitam o país sair da situação em que se encontra. Analisamos ainda o acordo de Conakry e vimos que está a ser cumprido e a única coisa que continua a bloquear o acordo é o fecho do Parlamento. O acordo pede ainda a reintegração de 15 deputados expulsos do PAIGC, que deveria acontecer há muito tempo”, notou.
 
 
 
 
GRUPO 15 PEDE CUMPRIMENTO INTEGRAL DO ACORDO DE CONAKRY
 
O Coordenador do grupo dos 15 deputados expulsos do PAIGC, Braima Camará, disse ao O Democrata que a reunião visa a procura de uma solução para a crise guineense.
 
“Garantimos a missão que se depender apenas de nós, não haveria esse problema. Nós sempre demonstramos a boa fé e bom senso. Convidamos a outra parte para dar o mesmo sinal inequívoco, a fim de demostrar que a Guiné-Bissau, enquanto país está acima do PAIGC, do grupo dos 15 e acima de todos interesses pessoais, institucionais e quaisquer outras organizações”, assegurou.
 
Camará avançou que o grupo pediu igualmente o cumprimento integral do “Acordo de Conakry”, que passa pela reintegração efectiva e sem condição alguma do grupo dos 15.
 
“A partir da reintegração no partido, passamos a depender dos princípios estatutários do partido. A CEDEAO ficou absolutamente convencida. Contamos a missão que a única pessoa que cumpriu o acordo até agora é o Presidente da República, José Mário Vaz”, notou.
 
PCD ACUSA O SENEGAL DE IMPEDIR O CUMPRIMENTO DO ACORDO DE CONAKRY
 
Vicente Fernandes, presidente do Partido da Convergência Democrática (PCD), acusou o governo senegalês de impedir o cumprimento do Acordo de Conakry, que visa pôr fim a crise política da Guiné-Bissau. Acrescenta ainda que fez saber à missão que a CEDEAO tem que acabar com as suas “visitas turísticas”, porque os guineenses já estão cansados destas constantes viagens dos elementos da CEDEAO que tentam de certa forma cumprir com agenda política de Presidente José Mário Vaz.
 
“Para demostrar a inverdade e a falsidade de representante senegalês que diz que a CEDEAO não pode resolver os problemas dos guineenses. Eu disse-lhe que quando a CEDEAO, interessou-se em resolver o problema da Gâmbia e tomaram o engajamento de empossar o Presidente gambiano na República do Senegal”, notou.
 
“UM” RESPONSABILIZA JOMAV PELO INCUMPRIMENTO DO ACORDO DE CONAKRY
 
O presidente da União para Mudança, Agnelo Augusto Regala, disse que do ponto de vista do seu partido o Acordo do Conakry está no ponto zero, não foi mexida nenhuma palha no sentido da sua implementação por falta de vontade daquele que tem o poder de nomear, que é o Presidente da República que continua a apostar num primeiro-ministro inconstitucional.
 
Defende neste particular que o instrumento mais válido para a estabilização do país é a implementação do “Acordo de Conakry” que prevê um roteiro que permitirá os guineenses constituir um governo, bem como fazer um programa, orçamento e a realização de conferências nacionais que permitam fazer as revisões constitucionais.
 
PND DEFENDE APLICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
 
Para o presidente do Partido da Nova Democracia (PND), Mamadu Iaia Djaló, o Chefe de Estado guineense podia coordenar uma acção de concertação com todos os partidos políticos, a fim de conseguir uma solução viável sobre a crise do país.
 
“Temos dois instrumentos importantes e o primeiro é a nossa Constituição. Não podemos pôr de lado a nossa Constituição. Vamos as eleições livres, justas e transparentes, e um governo será sempre da emanação da Assembleia Nacional Popular”, assegurou.
 
Por: Assana Sambú
Fotos: Marcelo Na Ritche