[REPORTAGEM] O Centro de Saúde do setor de Bigene, do Tipo C, está há 44 anos sem salas de internamento para doentes, sem água canalizada, sem ambulância e com falta de pessoal técnico para responder às demandas da população do setor estimada em 15.372 (quinze mil trezentos setenta e dois) habitantes.
O centro tem três técnicos: uma parteira, um enfermeiro do curso geral e um técnico de laboratório e um funcionário para os serviços gerais (auxiliar de serviços).
Bigene, um setor situado na linha da fronteira entre a Guiné Bissau e o Senegal, fica a 108 quilómetros da capital Bissau. É uma localidade quase isolada do resto do país e vulnerável em termos de segurança, tendo várias vias clandestinas que ligam os territórios senegalês e guineense.
Além de uma via rodoviária de 33 quilómetros em péssimas condições que liga o setor a seção de Ingoré, cujo hospital é tido como alternativa em caso de necessidade de evacuação de doentes ou grávidas a partir de Bigene, por falta de uma ambulância em funcionamento, recorre-se à missão católica, a pessoas particulares ou aos moto-taxistas.
ZINHA CLAMA POR NOVA AMBULÂNCIA PARA A EVACUAÇÃO DE DOENTES
Numa entrevista ao jornal O Democrata, a parteira e responsável pela área sanitária de Bigene, Regaldina Maria Pereira Martins (Zinha), confessou que a maior dificuldade que o centro enfrenta tem a ver com a falta de meios de transporte. Apesar disso, os profissionais do centro não ficaram de braços cruzados desde a paralisação da única ambulância existente no centro, uma oferta do falecido político e natural de Bigene, Baciro Dabó.
Algumas organizações não-governamentais que trabalham em parceria com o centro de já solicitaram um levantamento dos reais problemas da ambulância para poderem avaliar se é possível ou não ajudar na sua recuperação. O Democrata soube que a Associação de Filhos e Amigos de Bigene Unido (AFABU) também perspetiva ajudar na reabilitação do carro parado no centro há alguns anos.
“Aqui às vezes, quando temos uma grávida que necessita de evacuação no período da noite, torna-se muito difícil. Se for no período do dia, muitas vezes recorremos ao Padre da Igreja Católica para ajudar na evacuação. Aqui evacuamos os casos críticos, dada a limitação do nosso centro. Quando recorremos a particulares, os familiares são obrigados a pagar a lotação completa da viatura”, lamentou Martins que trabalha há doze anos no centro.
Regaldina Maria Pereira Martins diz ainda que além de serem custosos os carros particulares, também não oferecem condições adequadas. Nestas circunstâncias é muito arriscado evacuar grávidas e doentes por uma estrada esburacada. No caso de grávidas, em caso de evacuação, a organização não-governamental EMI reembolsa o valor investido no processo de evacuação.
CENTRO DE SAÚDE DE BIGENE AGUARDA POR NOVOS TÉCNICOS
Os profissionais do centro de Bigene esperam receber mais técnicos, após as novas colocações do pessoal sanitário pelo Ministério da Saúde Pública.
A falta de pessoal técnico faz com que Regaldina Maria Pereira Martins goze apenas 15 dias de férias por ano, para não piorar ainda mais a situação do centro no que refere ao pessoal técnico.Esta responsável diz que se a população aceitasse aderir em massa ao centro de saúde, o atual ficaria fora das suas capacidades. Porém, acrescentou que a população local raras vezes recorre ao centro.
Para Zinha, a pouca afluência em parte tem a ver com a distância entre as aldeias e a sede setorial onde fica o centro de saúde.
Bigene tem 8 eixos de unidade de saúde de base ou comunitária, nomeadamente, nas aldeias de Sindina, Sambuia, Malbuloto, Barro, Faradjanto, Buburi, Samodje e Quisif. Essas localidades recebem os técnicos de saúde de Bigene uma vez por mês, no âmbito de uma estratégia avançada de saúde.
Na altura da realização desta reportagem, a diarreia era a patologia predominante no centro, mas a responsável sanitária garantiu que estava a diminuir.
O Centro funciona sem água canalizada. Para facilitar os trabalhos e na manutenção de higiene no centro, os profissionais trabalham com água que os auxiliares de serviço catam de uma bomba de uma escola vizinha. Zinha diz que desde a sua chega até a realização desta reportagem sempre trabalhou com “água de fora”. O centro funcionou sempre sem água canalizada, mas com auxílio das mulheres que procuram “água de fora”.
O centro conta com iluminação por painéis solares, uma oferta do projeto que instalou os candeeiros solares por todo o país.
Em relação a prevalência do vírus da Sida nas grávidas, Zinha sublinha que diminuiu bastante, assinalando que nos últimos meses não detetaram nenhum caso.
Aconselha a população em geral, particularmente as mulheres, para aderirem ao centro de saúde para o bem-estar delas e dos filhos. Contudo, admite que há uma melhoria, fruto dos trabalhos com ASC – Agentes de Saúde Comunitária.