domingo, 18 de dezembro de 2016

Crônica: ATO SEMINAL

otinta-age
Quis Deus que assim fosse. E, ao que tudo indica, assim há de continuar a ser.

E, como se sabe, Deus não criou o mundo num só dia; fê-lo em sete (7) dias, conforme reza a narrativa bíblica.
Disparates de todos os tipos, asneiras de todas as maneiras. Tudo por ambição exacerbada, e desmedida. Ora, em nome da Liberdade, ora em nome da estúpida crença de que somente eu é que posso mandar e/ou governar; pois sou a única pessoa que conhece o funcionamento da máquina do Estado que, por sinal, é uma máquina mortífera.
E os que não a conhecem? Os amantes da sabedoria, e apaixonados pela Ciência? Estarão eles a levar a vida de reles cidadãos, sem que, para isso, pudessem, por mínimo que fosse, endossar uma posição mais enérgica evitando o caos desnecessário; porém na iminência de acontecer?
Se da confusão nasce a luz, da luz da confusão nasce a perdição.

Preparemo-nos para mais um voo solo com o destino à rolo.
  1.  … E NO PRINCÍPIO ERA…
O senhor Rocco Pimenta que não entendia de política. Mas achava interessante aventurar-se nela. Pensara que política fosse um Parque de diversões, em que podia-se brincar à vontade, pondo quem ele quisesse, ofertando, do erário público, o que quisesse, enchendo sua conta bancária com donativos que recebia em nome do povo.
O que ele não combinou com Deus é que se Este lho permitiria fazer o que quisesse, já que julgava ser ele um predestinado ao cargo, teria sido arredado do poder há anos luz. Se soubéssemos que, uma vez no cargo, o Senhor Pimenta faria o que quisesse, pois o país, herdara de seus pais, os donos por direito dele – o país -, na medida em que considerava-nos, a todos nós, seus sequazes, o teríamos deixado com a sua latronice na câmara da Universidade Solitária.
Afinal, quando não se sabe fazer, é sempre bom que se pergunte a quem sabe para não fazer feio.
Algures quis encenar uma nova coreografia para o carnaval de 2015. Quis ele, e a comparsaria, sonhar com o arquétipo do voo pelos submundos dos irãs. Pois acredita o Sr. Pimenta que o seu irã é o mais douto da face da terra, o dos mais sábio e mais poderoso.
Fizera inutilmente uma Lista com nomes dos que devem ser abatidos pelo grande irã.
Não sabe é que está a repetir a velha e desatualizada tática de política tereko. Porque repete apenas o signo do fogo amigo, da violência que há de vir, do desmando que se quer implementar, institucionalizando a incompetência, encorajando a mediocridade, e, a bem da verdade, semeando no desenho macabro de controlar o país e a sua administração como se fossem empresas de sua família, ou de capitais estrangeiros, gerados no Coca Club.
Das chuvas amigas, nesta soturna solidão algumas veem falar-nos mantenha nesse sonhar aéreo com os pés, projetados para o espaço sideral. Se se não fizer nada corremos o risco de perdermos a asa, e com isso, teremos dificuldade em levantar altos voos quando, efetivamente, vier o instante de voar.
O tempo, o senhor do juízo e da razão, não nos perdoará. E, se não formos abençoados pelo sacramento do perdão, estamos condenados à miséria tanto física quanto espiritual. Quando assim acontecer é porque o Sr. Pimenta transformou-se na malagueta que causará úlcera no nosso estômago, causando, assim, a amargura nas nossas vidas.
  1.   DA CRENÇA…
A História não perdoa os homens e as mulheres da subcultura. Homens que, com a carta dos brancos nas mãos, fazem-se de sábios, ainda que lhes falte muita sapiência e inteligência, quer seja ela nata, quer seja ela inata.
Num país subdesenvolvido, como o nosso, certos erros crassos são toleráveis, mas a repetição deles, é deveras preocupante. Para não dizer intoleráveis, porém pode-se (e deve-se) todavia dizer que são insustentáveis.
Assim, da subcultura nos países em vias de desenvolvimento, muito embora ainda não chegamos a trilhar seus caminhos suntuosos, porém sinuosos, considera-se que viver de uma dinâmica de desgarre pode conduzir ao caos de frustrações, e por conseguinte, ao descalabro relativamente ao papel que os homens públicos poderão desempenhar. Como os que estão a desempenhá-los, no momento, estão a proceder, zanzando como as baratas tontas.
Não são litros e litros de aguardentes, nem tão pouco quantidade infinitesimal de sangue de animais vertidos nos irãs e nas balobas, e até mesmo em esmolas nas mesquitas que nos tirarão deste atoleiro.
As mentes pífias, com espíritos pérfidos continuarão a ofertar-nos o quadro tenebroso neste canto lúgubre do planeta.
E o sorriso que deveria habitar nos nossos rostos, esvaiu-se. Pois não existe mais àquele sorriso tão necessário, pertinente e útil à nossa guineidade que possa, efetivamente, ocupar um lugar cimeiro no canto da esperança. Esperança essa num devir-outro profícuo à nossa nação – ou pelo menos àquela que almejamos construir um dia -, se as forças do mal assim nos permitirem.
Uma nação em que outras nações exógenas darão suas contribuições para o enriquecimento dela, e ao mesmo tempo traga contributos de nossa inserção no mundo contemporâneo.
Talvez, com isso, possamos nos livrar de constantes sobressaltos de um quadro histórico, fundado e afundado, em Boé, a 24 de setembro de 1973. Pareceu-me que, desde àquela data, o campo invadiu a cidade, especialmente no que tange à vida selvagem do campo.
São por estas e por outras razões que, lamentavelmente, ficamos desamparado da consciência crítica, a ponto de, continuamente, fazermos o mais do mesmo; e a mesmice da burrice, levou-nos a esta pobreza espiritual que influi, negativamente, na pobreza material. Física, portanto. Pois, tanto a química da transformação, e quanto a da mudança, já nos escapou. Há muito.
  1.   AO RAPTO ELETRÔNICO
Da inércia crescente somos campeões mundiais. Campeões mundiais nos Jogos Olímpicos da República Analfa, que serão editados no ano de 2 mil e nada.
E sobre as elites instaladas? Todas elas, política, económica e intelectual, todas elas exógenas à nossa preocupação, e à nossa realidade. São mãos de pessoas invisíveis, e de interesses escusos alheios aos nossos verdadeiros anseios.
Das elites instaladas neste solo pátrio, pode-se apenas preparar-se para o pior, e nunca esperar o melhor. Não é que se recusam a avançar na direção certa, não; não sabem mesmo o que fazer, nem como o fazer. Falta-lhes o SABER, o SABER FAZER, mas principalmente, o SABER SER.
Por isso, será do crescimento vegetativo da população que entornaremos o cálice da migração, que, uma vez dominados por estrangeiros; aí sim, é que a porca torcerá o rabo. E, com isso, não restará pedra sobre pedra.
Instalada a Internet e os satélites na órbita, a questão de fluxo de capitais cuja origem não se questiona, contanto que venha, e do fluxo dos eixos migratórios, acrescida, provavelmente, por importação de políticos doutras fações nos diferentes cantos do planeta, todos eles, em Bissau, e por extensão na Guiné-Bissau, aí sim, e mais uma vez, e talvez pela derradeira vez, seremos tangidos pela busca de oportunidade por um canto ao sol, e da oportunidade de trabalho, num canto na lua. Nova, cheia, Minguante, e Crescente.
  1.  E, À GUISA DA CONCLUSÃO, O PENSAMENTO CRÓNICO
Conselho de pai para filho:
– Meu filho, venha aprender com o pai, o ofício de pescador!
– Não, pai, quero estudar.
– Para quê, meu filho amado, se os que nunca andaram na escola é que vão dirigir o teu destino.
– Não, pai, isto vai mudar. Vai mudar, porque os imperativos e os desafios do mundo contemporâneo, forçarão as mudanças, quer se queira, quer não se queira. Acredite nisso, pai! E olha, não fique desanimado, nem perca a esperança.
– Filho, esperança, esta já perdi antes de vires ao mundo. Assisti a cada coisa aqui que nem vale a pena contar-te. Passaria horas a fio a narrar fatos tristonhos, e isto punha toda a tua esperança numa vala de lixo. A minha já morreu. Talvez me reste ainda uma obstinada fé no amanhã. Aliás, no teu amanhã. O meu desandou-se, de vez.
– Mesmo assim, pai, acredite, as coisas vão mudar, este estado de situação não vai continuar. Novos atores sociais, e até mesmo políticos, mudarão este paradigma mal concebido, e por isso mesmo, mal executado.
– O que é isso, meu filho, de mudança de pa… pa… para… quê?
 Paradigma. Quer dizer, pai, que, ao invés de virarmos a página, mantendo-nos no mesmo livro, mudamos é de livro, de língua mesmo. Ou seja, mudamos de língua, instaurando uma nova língua, uma nova e diferente maneira de fazer as coisas.
– A ver vamos, mas sei não, sei não… isto de pára… comando…
– Paradigma, pai, paradigma, é disso que precisamos mudar, estabelecendo novo pacto social, criando novos parâmetros educacionais, e por que não afetivos?
A conversa entre pai e filho prosseguir horas a fio, até que, ao de leve, o sono apoderou-se deles. E lá empreenderam uma viagem onírica que os transportou aos céus.
Caro leitor d’O Democrata, até a próxima, que o cronista precisa dormir para tentar esquecer o desassossego pátrio.
 
Bissau – NTin – 8 de dezembro de 2016.
Por: Jorge Otinta, ensaísta e escritor