terça-feira, 10 de outubro de 2017

CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES 2

Abu Bakr al-Baghdadi & Ashin Wirathu
 
Desde há 16 anos, inúmeros debates despertaram os peritos de política internacional para determinar os objectivos da estratégia norte-americana. É evidentemente mais fácil chegar a uma conclusão após este período do que no seu início. No entanto, muito poucos o fizeram e muitos persistem em defender teorias que tem sido desmentidas pelos factos. Apoiando-se nas conclusões deste debate, Thierry Meyssan alerta para a etapa seguinte prevista para os exércitos dos E.U. segundo os seus teorizadores anteriores a este período ; uma etapa que poderá ser em seguida posta em prática.
 
As forças que idearam e planearam a aniquilação do «Médio-Oriente Alargado» consideravam esta região como um laboratório no qual eles iam testar a sua nova estratégia. Se em 2001, compreendiam os governos dos Estados Unidos, do Reino Unido e de Israel, entretanto, elas perderam o poder político em Washington e prosseguem o seu projecto económico-militar através de corporações multinacionais privadas.
 
Desenvolveram a sua estratégia usando, por um lado, os trabalhos do Almirante Arthur Cebrowski e do seu assistente Thomas Barnett no Pentágono, e por outro lado de Bernard Lewis e do seu assistente Samuel Huntington no Conselho de Segurança Nacional [1].
 
O seu objectivo é, ao mesmo tempo, adaptar o seu domínio às evoluções técnicas e económicas contemporâneas e de o estender aos países do antigo bloco soviético. No passado, Washington controlava a economia mundial através do mercado global da energia. Para o conseguir, impunha o dólar como moeda para todos os contratos de petróleo, ameaçando com a guerra qualquer contraventor. No entanto, este sistema não podia durar a partir da substituição parcial pelo gás russo, iraniano, catariano —e, em breve, sírio— do petróleo.
 
Reatando com o passado da origem criminosa de uma grande parte dos colonos norte-americanos, estas forças imaginaram dominar os países ricos extorquindo-os. Para ter acesso não apenas às fontes de energia fóssil, mas também às matérias-primas em geral, os Estados estáveis (ex-soviéticos incluídos) deveriam solicitar a «proteção» do exército dos EUA e, acessoriamente, a do Reino Unido, e de Israel.
 
Bastava para isso dividir o mundo em dois, globalizar as economias solventes e destruir qualquer capacidade de resistência no resto do mundo.
 
Esta visão, do mundo, é radicalmente diferente das que prevaleciam no Império Britânico e no sionismo. Esta mudança de paradigma só poderia ser posta em prática com uma forte mobilização consecutiva a um enorme choque psicológico, um «novo Pearl Harbor». O que veio a ser o 11-de-Setembro.
 
Ora, se este projecto parecia delirante e cruel, nós podemos constatar 16 anos mais tarde que não só ele está efectivamente em vias de concretização quanto, na mesma medida, encontra obstáculos inesperados.
 
A globalização económica dos países solventes era quase total quando um deles, a Rússia, se opôs militarmente à destruição das capacidades de resistência na Síria, isto após a integração forçada da Ucrânia na economia global. Washington e Londres ordenaram, pois, aos seus aliados sanções económicas contra Moscovo. Ao fazê-lo, eles interromperam o processo de globalização dos países solventes.
 
Lançando o seu projecto de «Rotas da Seda», a China investiu fortemente em países destinados à destruição. As forças que promovem o «novo mapa do mundo» reagiram com a criação de um Estado terrorista, cortando a antiga Rota da Seda no Iraque e na Síria, e transformando, para tal, o conflito ucraniano em guerra, cortando assim também o traçado original da segunda Rota da Seda.
 
Estas forças pensam actualmente estender o caos a uma segunda região, a Ásia do Sudeste. É pelo menos para lá que os jiadistas parecem migrar segundo o Comité anti-terrorista da ONU. Fazendo-o, estas forças fecham o episódio 2012-2016 no Médio-Oriente, sem anteciparem ou não uma guerra em torno dos curdos, e preparam a devastação do Sudeste da Ásia. Isso seria a segunda etapa do «choque de civilizações», depois dos muçulmanos contra os «judeus-cristãos» (sic) [2], eis os muçulmanos contra os budistas.
 
Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: Sous nos yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump. Outra obras : L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores, 2008).

Tradução Alva