O Prémio Nobel da Química 2017 foi atribuído esta quarta-feira aos cientistas Jacques Dubochet, Joachim Frank e Richard Henderson pelo desenvolvimento de um novo método de imagem, por criomicroscopia electrónica, para a determinação em alta resolução da estrutura de biomoléculas.
Atomic structures of a) protein complex that governs circadian rhythm b) pressure sensor of the type that allows us to hear c) Zika vírus
Os três cientistas são responsáveis pelo desenvolvimento de uma técnica que resulta na obtenção de imagens tridimensionais das nossas células, com um pormenor e precisão que vai além das moléculas que as compõem chegando a uma resolução ao nível dos átomos. Esta tecnologia, a criomicroscopia electrónica, leva a bioquímica “para uma nova era”, considerou o comité do Nobel.
Com este novo método é possível obter imagens detalhadas das complexas máquinas da vida. O desenvolvimento deste tipo de microscopia electrónica, que expõe a amostra biológica a temperaturas muito baixas, “simplifica e melhora a imagem das biomoléculas”. Segundo o comunicado de imprensa, o novo microscópio permite congelar as biomoléculas e “visualizar processos que nunca antes foram vistos, o que é decisivo para a compreensão básica da química da vida e para o desenvolvimento de produtos farmacêuticos”.
Não só se consegue obter imagens dos átomos nestas moléculas, como se se tratasse de uma fotografia, como também é possível juntar estas imagens e ver "um filme" que nos mostra o que estas moléculas fazem. "Assim, temos as estruturas das moléculas mas também o processo, como se mexem, interagem e o que fazem", explicou Sara Snogerup Linse, um dos elementos do comité durante o anúncio do prémio no Instituto Karolinska, na Suécia.
Jacques Dubochet, Joachim Frank e Richard Henderson Universidades de LAUSANNE, Columbia e Cambridge/EPA
Recentemente, esta nova técnica permitiu, por exemplo, olhar de uma forma inédita para o vírus Zika. A estrutura do vírus foi revelada graças à criomicroscopia electrónica e permitiu conhecer as proteínas que compõem o invólucro do vírus a um nível quase atómico, num trabalho que mereceu um artigo publicado em Abril de 2016 na revista científica Science. Esta reveladora visão do Zika pode ajudar os cientistas a encontrar moléculas para lutar contra o vírus e desenvolver uma vacina.
Na conferência de imprensa, Joachim Frank respondeu a algumas perguntas por telefone e, apesar das más condições da ligação, foi possível ouvi-lo dizer que as moléculas mais fascinantes que já observou foram os ribossomas, as "máquinas" celulares que fabricam as proteínas a partir da informação genética contida no ADN. Apesar de considerar que as inúmeras aplicações e o enorme potencial deste novo método de olhar para as moléculas da vida não serão imediatos e serão explorados nos próximos anos, o investigador sublinhou que "a medicina já não está a olhar só para os órgãos mas para os processos nas células". E esta ferramenta será decisiva para isso.
O cientista também disse ter sido surpreendido com o telefonema do comité do Nobel, que recebeu durante a noite porque se encontra nos EUA, para lhe anunciar que tinha vencido o Nobel da Química. "Pensei que as minhas hipóteses eram minúsculas. Há tantas inovações e descobertas todos os dias. Mas isto é uma notícia maravilhosa. Foi isso que repeti para mim mesmo. É uma notícia maravilhosa."
Jacques Dubochet é professor de biofísica, nasceu na Suíça e tem 75 anos, Joachim Frank é professor de bioquímica e biofísica, nasceu na Alemanha e tem 77 anos, Richard Henderson dirige um laboratório de biologia molecular em Cambdrige, no Reino Unido, nasceu na Escócia e tem 72 anos.