FONTE: GBissau.com
- O Chefe da Escala da TAP foi ouvido ontem pela Comissão de Inquérito
- Suka N’Tchama e Fernando Delfim da Silva apresentam depoimentos por escrito
- Suspeito Calido Baldé teria viajado para Marrocos no passado dia 1 de Dezembro
- Cerca de duas dezenas de técnicos afectos à Migração, à Guarda Nacional e ao SIE temporariamente suspensos
Por Umaro Djau, Editor, GBissau.com
Bissau (GBissau.com, 17 de Dezembro de 2013) – O processo “administrativo” iniciado pelo Governo de Transição da Guiné-Bissau, para averiguar o caso dos 74 sírios que viajaram de Bissau para Lisboa com passaportes falsos, vai ser concluído hoje, revelou à GBissau.com uma fonte com o conhecimento da matéria.
O referido processo vai ser remetido para o Conselho de Ministros que tem uma reunião marcada para amanhã, quarta-feira. Os membros do Governo vão analisar as conclusões desta comissão inter-ministerial.
Liderada pelo Ministro da Justiça, Mamadú Saliu Baldé, fazem parte da comissão os ministros do Interior e dos Negócios Estrangeiros, respectivamente Suka N’Tchama e Fernando Delfim da Silva. Contrariamente daquilo que tinha sido anunciado, Suka N’Tchama e Delfim da Silva prestarão esclarecimentos apenas por escrito.
De acordo com a nossa fonte, os depoimentos de Suka N’Tchama e Fernando Delfim da Silva, ainda hoje, irão completar o trabalho preliminar já desenvolvido pela Polícia Judiciária guineense. A peça central de tal investigação foi a detenção e a audição de um empresário guineense, Calido Baldé. A PJ já remeteu o resultado da sua investigação ao Ministério Público guineense.
Também ontem, segunda-feira, foi ouvido o chefe de escala da TAP, Iancuba Corobó, sobre a tal “pressão” que o mesmo teria sofrido da parte de um membro do Governo, durante o check-in e o processo de embarque dos passageiros. A deposição de Iancuba Corobó já terá sido entregue à comissão de inquérito criada pelo governo de transição.
Mas, em Bissau as atenções estão centradas sobretudo no empresário Calido Baldé, considerado uma “figura central” no alegado recrutamento de 74 passageiros com passaportes “falsos” que viajaram no dia 10 de Dezembro num voo da TAP (TP202) de Bissau para Lisboa, conforme disse uma fonte da Polícia Judiciária à GBissau.com.
De acordo com o titular da pasta dos negócios estrangeiros, os viajantes com vistos de trânsito (e possivelmente de turismo) na Guiné-Bissau “chegaram com passaportes da Síria e partiram com passaportes da Turquia”.
E o facilitador desse processo terá sido Calido Baldé, alegam as autoridades governamentais e judiciais guineenses, de acordo com as informações de que a GBissau.com teve acesso.
De acordo com uma fonte governamental guineense, Calido Baldé teria alegadamente viajado para Marrocos no dia 1 de Dezembro, para tratar do assunto da viagem dos sírios. No dia seguinte, 2 de Dezembro, a Embaixada da Guiné-Bissau em Marrocos enviou uma notificação ao Ministério dos Negócios Estrangeiros sobre a concessão dos vistos ao grupo. Essa correspondência foi por via electrónica (e-mails), soube a GBissau.com.
Embora as delegações diplomáticas do MNE continuem a usar “esporadicamente” o circuito da correspondência pela via aérea (principalmente o serviço DHL), os diplomatas guineenses têm encontrado métodos mais baratos ou gratuitos, neste caso, a correspondência electrónica (e-mails).
Ainda de acordo com uma fonte da GBissau.com, Calido Baldé, sem especificar a data, terá alegadamente regressado à Bissau, na companhia de um cidadão marroquino que terá sido, presumivelmente, um dos possíveis implicados no caso. Esse marroquino já não se encontra no território guineense, adiantou a mesma fonte.
E no âmbito destas investigações, o Ministério do Interior mandou suspender mais de vinte (20) funcionários de Estado. São maioritariamente elementos afectos ao Serviço de Informação do Estado (SIE) da Guiné-Bissau, aos Serviços da Migração e à Guarda Nacional. A medida de suspensão visa evitar quaisquer “perturbações” ao processo, alegam as autoridades nacionais.
Amanhã, 18 de Dezembro, todos esses “desdobramentos” investigativos serão apresentados ao Conselho de Ministros. As autoridades guineenses querem resolver esta crise diplomática o mais rápido possível e, consequentemente, tentar sarar as feridas, confessou uma fonte governamental à GBissau.com.
Desmentida a tese inicial de uma eventual “coação armada”, mesmo assim em Bissau pairam muitas dúvidas sobre as implicações reais deste grande imbróglio que, preocupantemente, vai ganhando dimensões internacionais.
O problema maior será, no entanto, como lidar com os possíveis cúmplices, sobretudo se se verificarem possíveis sinais de “coação moral” por parte de algum membro deste Governo de Transição na Guiné-Bissau.