Documento secreto israelita agora desclassificado mostra que os israelitas treinaram o histórico líder africano no início nos anos de 1960.
Mandela viajou por àfrica para recolher apoios para a sua causa anti-apartheid DR
O antigo Presidente sul-africano e prémio Nobel da Paz, Nelson
Mandela, que morreu no dia 5 de Dezembro, foi treinado em 1962 no manuseamento
de armas e em técnicas de sabotagem pela Mossad, os serviços secretos
israelitas, revela o jornal hebraicoHa'aretz. Um treino que ocorreu na
Etiópia, poucos meses antes de Mandela regressar à África do Sul e ser preso.
Esta informação, que durante muito tempo esteve classificada comtop
secret pelo Estado de Israel, foi revelada no dia 20 de Dezembro pelo Haaretz, que
teve acesso a um documento desclassificado dos arquivos de Estado israelitas.
Trata-se de uma carta datada de 11 de Outubro de 1962, enviada pela Mossad ao
Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita. A missiva indica que aquele que
se iria tornar no herói da luta anti-apartheidrecebeu formação militar
na Etiópia por agentes da Mossad.
Nesse ano de 1962, Mandela é um homem em fuga, que saiu da África do
Sul para escapar à prisão e que viaja por África em busca de apoios financeiros
e militares para o braço armado do Congresso Nacional Africano, na altura um
movimento clandestino. Mandela visita vários países, incluindo a Etiópia, a
Argélia, o Egipto e o Gana, com o objectivo de conseguir apoio para a sua
causa.
Segundo o Haaretz, a carta tem o título The Black
Pimpernel, alcunha dada a Mandela naquela época na África do Sul. A
referência é a um herói criado pela escritora britânica Emma Orczy que salvou
inúmeros aristocratas franceses da guilhotina durante a revolução francesa.
“Como é do vosso conhecimento, há três meses discutimos o caso de um
elemento que chegou à embaixada [de Israel] na Etiópia com o nome de David
Mobsari, vindo da Rodésia [actual Zimbabwe]”, lê-se na carta. “O sujeito” foi
treinado pelo pessoal da embaixada e certamente por elementos da Mossad “em
judo e métodos de sabotagem e no manuseamento de armas”. David Mobsari também
se mostrou interessado em saber mais sobre a Haganah [uma organização sionista
clandestina criada na Palestina sob mandato britânico em 1920].
O documento revela que os formadores desconheciam a verdadeira
identidade do seu formando. Segundo a carta, só posteriormente, quando Mandela
foi preso e viram fotografias suas é que perceberam que David Mobsari e Nelson
Mandela “eram a mesma pessoa”.
Ironia da história: Mandela sempre foi visto como um herói pelos
palestinianos enquanto Israel foi um dos países que sempre apoiaram o regime do apartheid.
Aliás, uma das ausências mais notadas nas cerimónias fúnebres de Mandela foi a
do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.