Corria o ano de 1987 quando foi votada uma resolução da Organização das Nações Unidas que visava manifestar solidariedade para com a causa assumida por um homem só. A causa? Libertação da África do Sul. O homem? Nelson Mandela. Ora, Portugal, na figura do então primeiro-ministro, Aníbal Cavaco Silva, foi um dos três países que votaram contra, lembra a rádio TSF.
Estados Unidos, Inglaterra… e Portugal. Estes foram os três territórios que se opuseram à resolução da ONU que se solidarizava com a luta de libertação do regime do apartheid, causa maior da vida de Nelson Mandela.
Ronald Reagan, Margaret Thatcher e Cavaco Silva, eram, então, os líderes deste trio de países que se colocou do lado oposto de outros 129 que votaram a favor da resolução. O número de abstenções fixou-se em 22.
A este propósito, naquele que é o dia seguinte à morte de Madiba, a rádio TSF traz à liça as palavras que o deputado do PCP, António Filipe, dirigiu à bancada do PSD, aquando do debate na Assembleia da República sobre os votos de congratulação face ao 90.º aniversário de Mandela. Estávamos em 2008.
“Os senhores não querem que se diga que, quando, em 1987, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou, com 129 votos, um apelo para a libertação incondicional de Nelson Mandela, os três países que votaram contra foram os Estados Unidos da América, de Reagan, a Grã-Bretanha, de Thatcher, e o governo português, da altura. Isto é a realidade! Está documentado!”, lembrou, à data, o parlamentar comunista.
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Bloco de Esquerda lamenta que
Portugal não tenha sido sempre firme contra apartheid.
A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina
Martins, lembrou hoje o "homem ímpar" que foi Nelson Mandela,
falecido na quinta-feira, e lamentou que Portugal não tenha sido sempre firme
na luta contra o "apartheid".
"O seu exemplo vai continuar a iluminar o longo caminho da igualdade e da emancipação dos povos na África do Sul e em todo o mundo. Nelson Mandela é uma figura maior da nossa modernidade, dos direitos humanos e da democracia. Pagou um preço muito alto pelas suas convicções", declarou a bloquista, em declarações aos jornalistas no parlamento.
Catarina Martins lembrou que Portugal, com Cavaco Silva a primeiro-ministro, "não acompanhou" internacionalmente "resoluções importantes e ficou isolado" sobre a matéria.
"Não é novidade que o nosso país não teve sempre a posição que devia ter tido, firme, contra o 'apartheid'. Não é novidade também que o Governo português tomou decisões erradas nas Nações Unidas sobre resoluções que dizem respeito ao 'apartheid' e à prisão de Nelson Mandela. Não nos devemos orgulhar desses momentos da nossa história", sublinhou a parlamentar e coordenadora bloquista.
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EUA só retiraram Mandela da lista negra em 2008
Mandela, teve que esperar até 2008 para ser retirado da lista de vigilância a terroristas dos Estados Unidos, terminando com o que as autoridades norte-americanas consideravam uma "questão embaraçosa".
Nelson Mandela tinha deixado há anos as celas da prisão sul-africana onde esteve durante 27 anos e cumprido o seu mandato presidencial, mas os Estados Unidos ainda o mantinham numa lista negra, apesar do estatuto de um dos estadistas mais respeitados do mundo que tinha conquistado, após se ter tornado no primeiro Presidente negro da África do Sul.
Até há cinco anos, Mandela e os outros líderes do Congresso Nacional Africano estavam na lista de vigilância de terroristas devido à sua luta armada contra o regime apartheid.
Quando o nome de Mandela foi retirado, o então senador, e atual secretário de Estado norte-americano, John Kerry, manifestou-se satisfeito pela decisão porque considerava que o líder histórico sul-africano "não tinha lugar na lista" que impedia, por exemplo, a sua entrada nos Estados Unidos.
Agora, a América rende-se à figura internacional de Nelson Mandela, e Barack Obama, o primeiro Presidente negro dos Estados Unidos, decretou luto até segunda-feira e prestou homenagem a Mandela como uma figura ímpar da História da Humanidade.