segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

OPINIÃO: GUINÉ-BISSAU, UMA VEZ MAIS

Obrigado Emplastro (ver link a direita)

Fonte: Bloguítica

Queria aqui fazer algumas observações sobre o texto de Francisco Seixas da Costa tendo como pano de fundo a mais recente crise entre Portugal e a Guiné-Bissau. Concordo que a abordagem diplomática portuguesa deve ter como ponto central uma estratégia multilateral. Porventura, fica no ar a percepção de que tal não tem sido o caminho seguido pelo actual Governo. Nada de mais errado. Esta declaração de Catherine Ashton não surge do nada. Portugal tem procurado sempre envolver, tanto quanto possível, a ONU e a UE na sua estratégia de resposta multilateral aos acontecimentos na Guiné-Bissau. Não é, aliás, uma novidade. Tem sido assim com o actual Governo e foi assim com o anterior, para não recuar mais. Nem sempre com o sucesso desejado, naturalmente, mas não tem sido por falta de vontade, ou desatenção da parte portuguesa em relação à componente multilateral. Neste espaço fiz recentemente referência à declaração do presidente do Conselho de Segurança da ONU. Não foi Portugal que redigiu a declaração, mas digamos que também não lhe passou ao lado o draft inicial.
É verdade que no tríptico multilateral, a CPLP é o pé coxo. Mas não é a ausência de um representante diplomático português que explica a inoperância da CPLP no caso da Guiné-Bissau. O problema é o secretário-executivo, Murade Murargy, por regra claramente hostil às posições portuguesas nas mais diversas questões, e por outro a ausência de um consenso mínimo entre os Estados-membros. Portugal poderia ter -- e deve ter -- um representante diplomático na CPLP que, no essencial, nada mudava. Mas, repito, no essencial a estratégia tem sido sempre de aposta numa envolvente diplomática de natureza multilateral. Não me parece, por isso, que exista um risco real de nos enredarmos num processo bilateral que ajude o infractor. É possível, naturalmente, mas parece-me improvável.
Uma última nota sobre a referência oportuna às agências de comunicação. O blitzkrieg mediático de Fernando Vaz teve o seu dedo, como é óbvio. Não foi por acaso que subitamente TSF, SICN e Expresso -- não sei se houve outras entrevistas -- decidiram conceder-lhe, generosamente, tempo de antena. Como sempre, essa é a antecâmara opaca que permanece na escuridão, ainda que nem sempre passe despercebida. Mas essas são as regras do jogo. É a vida.