Uma exposição sobre a
arquitetura colonial em África, nos trinta anos anteriores ao 25 de Abril de
1974, vai inaugurar no sábado, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa,
revelando um projeto de investigação inédito nos arquivos ultramarinos.
A exposição intitula-se
"África - Visões do Gabinete de Urbanização Colonial (1944-1974)" e
poderá ser vista pelo público na Garagem Sul do CCB, até 28 de fevereiro de
2014.
A curadora Ana Vaz Milheiro
apresentou hoje a exposição aos jornalistas, numa visita guiada que contou com
a presença da historiadora Dalila Rodrigues, administradora do CCB.
Também estiveram presentes Ana
Cannas, diretora do Arquivo Histórico Ultramarino, João Vieira, coordenador do
Departamento de Informação, Biblioteca e Arquivos do Instituto de Habitação e
Reabilitação Urbana (IHRU), e Paulo Tormenta Pinto, autor do projeto de
arquitetura da mostra.
A exposição inclui desenhos de
arquitetura, fotografias e maquetes criadas para mostrar o percurso do trabalho
do Gabinete de Urbanização Colonial, criado em 1944 por Marcello Caetano,
quando era ministro das Colónias, no Governo de Oliveira Salazar.
O percurso expositivo mostra
desde as casas para famílias aos grandes edifícios e equipamentos públicos --
como escolas, hospitais, tribunais - que o regime de ditadura do Estado Novo
construiu em Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola e
Moçambique.
A mostra é o resultado de um
projeto de investigação multidisciplinar, originalmente intitulado "Os
Gabinetes Coloniais de Urbanização - Cultura e Prática Arquitetónica",
desenvolvido entre 2010 e 2013 e financiado pela Fundação para a Ciência e
Tecnologia (FCT).
O projeto envolveu investigadores
de diferentes formações, desde arquitetos, historiadores, arquivistas,
geógrafos e sociólogos, oriundos de distintos centros portugueses de
investigação.
Criou uma parceria entre três
instituições, o Instituto Superior de Ciências do Trabalho de Empresa
(ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa), o Arquivo Histórico Ultramarino do
Instituto de Investigação Científica Tropical (AHU/IICT) e o IHRU.
Ana Vaz Milheiro explicou que a
equipa do projeto "fez a descrição de uma documentação que não se
encontrava ainda catalogada", num total de 14 mil registos a partir de 35
mil desenhos e 14.500 fotografias, muitas delas captadas por Luís Possolo, um
dos arquitetos que passaram pelo Gabinete de Urbanização Colonial (GAU).
"O Gabinete de Urbanização
Colonial era um organismo único no mundo. Não existia nada igual em Paris,
Londres ou Roma", disse a arquiteta, acrescentando que era uma criação
"típica de um país pobre e centralizador".
A equipa do projeto quis saber
quem eram os arquitetos envolvidos no GAU, que edifícios criaram, se tinham
sido efetivamente construídos, e também "desmistificar alguns mitos".
"Por exemplo, sempre se
pensou que estes arquitetos não tinham conhecimento do território de África, ou
das especificidades do seu trabalho, mas a investigação que fizemos provou o
contrário. Eles viajaram nas antigas colónias e estudaram sobre esta matéria no
estrangeiro", salientou.
Posteriormente, a informação do
projeto foi introduzida no Sistema de Informação para o Património
Arquitetónico (SIPA), com sede no IHRU, no sítio www.monumentos.pt.
O projeto passa agora do mundo
académico para o domínio público através da exposição "África - Visões do
Gabinete de Urbanização Colonial (1944-1974)", que ficará no CCB até
fevereiro de 2014, na sequência de um convite lançado pela administração para
receber propostas nesta área.