Foto: Nas ruas de Maxixe, a idosa Joana Cumbane trabalha vendendo frutas e legumes para sustentar nove netos. Ela é acusada pelas noras de feitiçaria
Polícia regista um novo caso a cada semana. Em alguns casos, idosos são assassinados pelos próprios filhos. Entidade diz não ter apoio governamental para cuidar das vítimas.
Os idosos estão sendo abandonados e maltratados na província de Inhambane, no sul de Moçambique, pelos próprios familiares que os acusam de feitiçaria. As autoridades policiais afirmam que recebem casos do género a cada semana e denunciam que, em alguns casos, os idosos são mortos ou até se suicidam. Entidade que apoia pessoas da terceira idade diz não ter ajuda governamental para defender as vítimas.
Uma das vítimas destes maus-tratos é a idosa Joana Cumbane, que trabalha vendendo frutas e legumes nas ruas da cidade de Maxixe. A partir deste trabalho, a idosa sustenta os nove netos que foram abandonados pelas mães. As três noras de dona Joana acusam-na de matar os seus próprios filhos, conta a idosa.
"Faço este negócio para sustentar os meus netos menores de idade que foram abandonados pelas mães, depois que os meus filhos perderam a vida. As minhas noras acusam-me de feiticeira, mas nem sei nada sobre isso. Elas já se casaram com outros homens. Não tenho nenhuma ajuda”, conta.
Casos são registados toda semana
Juma Dauto, chefe de Relações Públicas do Comando Provincial de Inhambane
Em Inhambane, o Comando Provincial regista toda semana novos relatos de idosos que são acusados pela própria família de praticar feitiçaria. Em alguns casos, os idosos são assassinados ou até cometem suicídio, como afirma o chefe do Departamento de Relações Públicas do Comando Provincial, Juma Dauto.
"Semanalmente posso dizer que temos registado um caso de idoso que é acusado de feitiçaria, outros são mortos e outros, ao perceber que são os respetivos filhos que lhes acusam de feiticeira, acabam se suicidando. Nós temos um caso mais recente de um idoso de 60 anos no distrito de Inhassoro que se suicidou. Isso culminou exatamente com uma discussão familiar relativamente à acusação de feitiçaria”, diz.
A presidente da Associação Gupuanana em Inhambane, Rute Samuel, que apoia as pessoas da terceira idade na província, diz à DW África que tem recebido muitas queixas de cidadãos idosos rejeitados pela família.
"Estamos a receber muitas queixas de rejeição dos idosos com familiares e nas comunidades a dizer que são feiticeiros. Eu não acredito que esses idosos sejam feiticeiros. Alguns jovens não vão a escola, ficam a beber e fumar, e mais tarde a vida não anda bem, dizem que os idosos, ‘minha tia, minha avó', estão a lhe enfeitiçar”, relata a presidente, explicando que as acusações de feitiçaria estão associadas aos insucessos na vida dos filhos mais jovens.
Rute Samuel, presidente da associação Gupuanana
Falta apoio aos idosos
De acordo com Juma Dauto, muitos dos que atacam os idosos acusando-os de feitiçaria acabam sendo encaminhados para penitenciárias e responsabilizados pelos crimes cometidos. "Eles são encaminhados diretamente a cadeia civil e alí são julgados, pois estes casos são crimes. São tomadas medidas consoante o crime que eventualmente tenham cometido”.
A falta de apoio governamental e das outras organizações não-governamentais aos idosos ainda prevalece nas comunidades, segundo Rute Samuel. "Necessitamos, mas não temos como, nem no Governo temos apoio. A gente necessita transporte, dinheiro ou mesmo fardos de roupa para dar aos idosos necessitados. Qualquer coisa”, apela.
A nossa reportagem tentou sem sucesso ouvir a Direção Provincial de Género, Criança e Ação Social de Inhambane.
Fonte: DW África