A degradação de estrada que liga o Bairro de Cuntum Madina (periferias da capital Bissau) ao bairro de Bandim (Zona–07) dificulta a passagem de viaturas e em particular, dos transportes públicos (toca-tocas/táxis). A estrada de volta, como também é conhecido aquele troço, está quase cortada devido às águas pluviais estagnadas, o que impossibilita a circulação de automóveis.
Outro troço que liga Quelélé/Cuntum Madina, que podia servir de alternativa, também se encontra num avançado estado de degradação. A degradação avançada dos dois troços acaba por isolar os moradores daquele bairro periférico da capital.
Sobre o assunto, uma equipa de repórteres do Jornal O Democrata deslocou-se este fim-de-semana às vias rodoviárias em causa, nos bairros de Cuntum Madina, Quelélé e Estrada de Bôr, para constatar a real situação daquelas vias, sobretudo no concernente às dificuldades de acesso aos transportes públicos. O repórter presenciou a ‘luta ferrenha’ entre homens e mulheres por lugares nos transportes (toca-tocas) nas primeiras horas de manhã e ao fim da tarde, a partir das 18 horas (hora de regresso à casa).
MORADORES CONDICIONAM A PARTICIPAÇÃO NAS ELEIÇÕES À REABILITAÇÃO DA ESTRADA
A situação preocupa os moradores que se sentem abandonados pelos sucessivos governantes, porque há muito tempo que a estrada se encontra em situação degradada e nunca beneficiou de uma obra de manutenção.
Os moradores, que cada vez mais se sentem abandonados e isolados, pedem às autoridades que lhes apoiem com ‘pirogas’ para transporte de pessoas pelos “lagos” que se formaram na estrada inundada, já que não conseguem ultrapassar a situação. Por outro lado ameaçam não participar nas próximas eleições, se a estrada daquele bairro não for melhorada.
A intenção foi manifestada pelo presidente da associação de moradores daquele bairro, que adiantou que a sua organização pretende levar a cabo uma campanha de sensibilização junto dos moradores para que estes não participem no recenseamento eleitoral, ou seja, na atualização dos cadernos eleitorais.
A estrada de Madina começou a degradar-se a partir do cruzamento de alto Bandim até ao terminal dos transportes públicos, junto da escola pública daquele bairro. Actualmente, a via está totalmente cortada com enormes buracos que impedem a passagem de viaturas. Em alguns pontos, a estrada confunde-se com uma lagoa.
VIAÇÃO ADMITE CIRCULAÇÃO DE TOCA-TOCAS DE OUTRAS LINHAS PARA CUNTUM MADINA
A Direcção-geral da Viação decidiu tolerar que transportes públicos (toca-tocas) licenciados para operarem em outras linhas da capital circulem para o bairro de Cuntum Madina, de forma a minimizar as dificuldades de acesso aos transportes públicos pela população.
A maioria de ‘toca-tocas’ que circulavam para aquele bairro desistiram devido ao estado de degradação da estrada.
O jornal O Democrata apurou que actualmente a linha de Cuntum Madina conta com um único ‘toca-toca’, que ainda resiste e circula naquela linha.
Os moradores manifestam a sua gratidão pela medida dos serviços de viação, mas criticam as autoridades por aquilo que consideram de ‘falta de vontade’ em resolver o problema, à semelhança dos outros bairros da capital.
ESTRADA DE BÔR EXIGE INTERVENÇÃO URGENTE PARA FACILITAR A CIRCULAÇÃO
Relativamente à ‘Estrada de Bôr’, a equipa de reportagem constatou a situação da estagnação das águas das chuvas em alguns pontos, o que dificulta a circulação normal de viaturas. De ‘Paulo Barros’, junto ao mercado de Bandim, até bem perto da Igreja de ‘Santo António’ de Bandim, a estrada transformou-se numa lagoa, o que não permite a circulação normal até mesmo de pedestres.
A rotunda de ‘Caracol’ está igualmente danificada. Quando chove, é muito difícil circular e particularmente para quem usa a picada que vai do interior do mercado para interior de bairro de Bandim.
A estrada que vai do posto de combustível da ‘Petro-Dis’, a zona de ‘Las Palmeiras’ até junto ao mercado de Cuntum, é considerada pelos próprios motoristas de ‘zona de perigo de morte’ para as suas viaturas. O troço está totlamente danificado e com muita água estagnada e as vezes os condutores não sabem onde colocar os pneus. Os moradores e condutores são unanimes em exigir uma intervenção urgente das autoridades, no sentido de melhorar a estrada e assim evitar o isolamento do bairro.
A nossa equipa de reportagem deslocou-se à zona chamada ‘Sobrade – Prédio’, que divide os bairros de Cuntum e Quelélé. A partir daí pode-se entrar no bairro de Cuntum Madina. Esse troço está totalmente danificado e nem sequer se parece com uma estrada no centro da capital. A rotunda de ‘Sobrade’ encontra-se também bastante degradada e com muita água estagnada.
Os transportes que se movimentam na zona, os ‘toca-tocas’ e transportes públicos que fazem a ligação de Bissau/Cumura e Prábis (região de Biombo), são obrigados a levar duas rodas suplentes.
MOTORISTAS PEDEM APOIO DO FUNDO RODOVIÁRIO PARA MELHORAR A ESTRADA
A linha de Cuntum Madina é tida pelos motoristas como uma ‘mina de ouro’, isto é, tem muita movimentação de pessoas. Circulando nela, depressa e facilmente se completa a receita diária, antes das 15 horas. Porém, a degradação dos troços leva muitos proprietários a retirar as suas viaturas daquela linha, porque todo o dinheiro conseguido vai sempre para as reparações e compra de peças para a viatura.
“Queremos apoio da parte dos governantes e da própria direcção do Fundo Rodoviário, que deveria engajar-se primeiro nisso. Pelo menos que a fazem em terra batida, se não poderem alcatroar esses troços. Vamos conformar com terra batida. Mas deixar aquela estrada nas condições em que se encontra é muito triste”, disse um dos motoristas da linha de Cuntum Madina, abordado pela equipa de reportagem, que assegurou ainda que a estrada que liga o bairro de Bandim (Zona – 07) à Cuntum Madina necessita de uma reabilitação urgente, de modo a tirar à população daquela zona, que também são cidadãos guineenses, do isolamento.
Para o mesmo motorista, a questão da reabilitação das estradas é um assunto que deve ser muito bem gerido, porque “a falta de acompanhamento ou de controle das estradas acaba por piorar as condições das estradas”.
Outro motorista da linha de Bandim/Quelelé abordado pelo repórter contou que a linha não tem dificuldades de transportes. Contudo, a única dificuldade que enfrentam tem a ver com o avançado estado da degradação em alguns pontos.
“Um troço que poderíamos percorrer em 30 minutos, devido às más condições das estradas, acabamos por fazê-lo em quase uma hora. Quando chove, então gastamos muito tempo entre a estação de combustível ‘Petrodis’ e o pequeno mercado de Cuntum”, lamentou. Avançou que as autoridades deveriam priorizar a questão da reabilitação das estradas porque cobra-se um fundo para o mesmo.
“Recebemos e suportamos todo tipo de insultos deste mundo da parte de alguns passageiros impacientes. Não somos responsáveis pela reabilitação das estradas, portanto não podem culpar-nos de nada. Se um pedestre passa, somos obrigados esperar para não sujá-lo. Se o sujarmos, podemos ser agredidos e injuriados publicamente. Não temos como fazer. O Estado é responsável pela reabilitação das estradas, então que assuma a sua responsabilidade. Não se pode cobrar o fundo e deixar as estradas naquelas condições”, asseverou.
MORADORES CONSIDERAM DEPUTADOS ELEITOS PELO CIRCULO DE CUNTUM MADINA DE IMPOTENTES
O Presidente de Associação dos Moradores de Cuntum Madina, José Cabral, explicou que actualmente Cuntum Madina tornou-se mais longe de todos os bairros de capital devido às más condições da estrada.
Acrescentou ainda que os deputados eleitos por aquele círculo eleitoral são impotentes no concernente à situação da estrada. Espelhou ainda que os “deputados têm conhecimento do estado avançado de degradação da estrada, mas não fizeram nada para ajudar na reabilitação da mesma. A estrada começou a degradar-se desde 2012 e isso continuou sem a intervenção até hoje”.
“Neste momento precisamos da ajuda das autoridades ou dos pescadores com uma piroga, que poderemos usar como transporte para os moradores de Madina, porque já estamos cansados em abrir valas no meio da estrada para o escoamento da água”, observou o responsável da associação de moradores daquele bairro periférico da capital.
Lembrou que desde o ano 2012 que se vem dizendo que a estrada de Cuntum Madina faz parte das estradas que beneficiariam de um projeto da reabilitação, figurando na terceira fase.
“Não temos visto na prática nada até hoje. Às vezes pensamos que o facto de o nome de Cuntum Madina ter uma inicial “c”, que é a terceira letra do alfabeto, somos sempre colocados na terceira fase para depois sermos esquecidos”, referiu.
Aquele responsável pediu aos moradores do bairro para não participarem no próximo processo eleitoral, sobretudo para não se recensearem e muito menos atualizarem os seus cartões eleitorais
“Cuntum Madina é um dos bairros de capital onde em cada governo consegue ter três ou quatro ministros, além dos deputados eleitos neste círculo. O bairro tem um alto nível em termo de representação, tanto nos partidos como nas outras instituições do Estado. Mas continuamos a ser invisíveis na capital guineense porque?”, questionou.
José Cabral informou que a cabeça de lista do PAIGC no círculo eleitoral daquela zona é o próprio líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira. Contudo, frisou que Domingos Simões Pereira nunca lhes chamou como moradores para lhes dar o ponto de situação, enquanto mandatário do povo.
“Endereçamos lhe cartas a pedir encontro, mas nunca surtiram efeito. Portanto, estamos aqui a espera do filho de Deus para nos ajudar a ultrapassar esta situação crónica que dura já há muito tempo”, notou.
GOVERNO PROJECTA REABILITAR A ESTRADA DE MADINA E QUELELÉ NA SEGUNDA SEMANA DE OUTUBRO
A equipa de reportagem do semanário “O Democrata” contatou o diretor do Serviço de Manutenção das Estradas do Ministério das Obras Pública, com o intuito de abordar a situação da degradação da estrada de Cuntum Madina e do troço que liga Paulo Barros/Cuntum e Quelelé.
Oliveira N’urque Nhanque garantiu, na sua declaração, que a Estrada de Madina e Quelélé tal como das outras da capital que estão em avançado estado de degradação, constituem uma preocupação enorme para o governo.
Explicou neste particular que a manutenção das vias rodoviárias da capital serão iniciadas na segunda quinzena do mês em curso, tendo frisado que na época das chuvas é difícil fazer trabalhos da reabilitação de estradas (em terrra batida), por isso resolveu-se deixar os trabalhos até que a chuva se deminuir.
“Estamos cientes do sofrimento dos moradores das diferentes vias rodoviárias da capital, tendo em conta o estado de degradação das estradas. Não temos como iniciar o trabalho neste período. O aterro está húmido e se tentarmos deitá-lo na estrada, vai ser pior”, contou.
O responsável do Serviço e Manutenção das Estradas assegurou que o executivo prentende reabilitar todas as vias urbanas onde circulam transportes públicos (toca-tocas). Contudo, asseverou que a maior dificuldade que a Direcção-geral das estradas e pontes enfrenta é o facto de terem uma única entidade financiadora da manutenção de estradas, que é o Fundo Rodoviário.
“O Fundo Rodoviário tem como missão conservar as estradas, mas neste momento é obrigado a fazer para além da sua competência. Seria bom, se o governo apoiasse nesse sentido, assim seria possível cobrir todas as estradas que estão em estado de degradação, para minimizar o sofrimento de populares”, exortou.
Por: Aguinaldo Ampa
Foto: Marcelo Ncanha Na Ritche