Se o Presidente gambiano Yahya Jammeh continuar a não respeitar os resultados das eleições de 1 de dezembro, o que poderá fazer a comunidade internacional?
Poucos terão pensado que o Presidente gambiano reconheceria a derrota eleitoral, após 22 anos no poder. Mas Yahya Jammeh fê-lo. Dias depois, porém, recuou, justificando que a Comissão Eleitoral cometeu "erros inaceitáveis" na contagem dos votos. E pediu novas eleições.
"Da mesma forma que aceitei os resultados acreditando que a Comissão Eleitoral era independente, honesta e credível, rejeito [agora] os resultados na sua totalidade", afirmou Jammeh, de 51 anos, na sexta-feira (09.12).
Candidato da oposição, Adama Barrow, venceu presidenciais de 1 de dezembro
O vencedor, Adama Barrow, apelou, no sábado, ao Presidente para "aceitar a decisão do povo". O candidato da oposição rejeita uma repetição do escrutínio. Na capital, Banjul, nota-se uma forte presença das forças de segurança. O ambiente é tenso. "A comunidade internacional tem de agir rapidamente", escreveu Ebra Justice, um gambiano a viver no exílio em Bruxelas, numa das páginas do Facebook da DW África. "Caso contrário, [Jammeh] vai querer matar o Presidente Barrow, a sua coligação e os prisioneiros políticos, que acabam de ser libertados."
Pressão internacional
Uma delegação da União Africana (UA) chegou esta terça-feira (13.12.) à Gâmbia, para tentar convencer Jammeh a abandonar o poder. Tanto a UA, como a comunidade dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) pediram ao Presidente para reconhecer a vitória do seu rival e "garantir a segurança do Presidente eleito Adama Barrow e de todos os cidadãos gambianos." Também o Conselho de Segurança das Nações Unidas, os Estados Unidos da América e a Alemanha criticaram a recusa de Jammeh em aceitar os resultados.
"O Presidente Jammeh está sob forte pressão", diz Alex Vines, do Instituto britânico de Relações Internacionais, Chatham House.
Apoiantes de Adama Barrow celebram a vitória
Medo de ser processado
Numa entrevista ao jornal britânico Guardian, a opositora Fatoumata Jallow-Tambajang anunciou que o novo Executivo iria levar Jammeh à Justiça. "Isso amedrontou-o e levou-o a contestar os resultados eleitorais", acredita Vines. Agora, será essencial encontrar soluções que Jammeh esteja disposto a aceitar: "A CEDEAO terá de pensar em incentivos para que Jammeh reconheça a derrota e, possivelmente, deixe o país." Isso significaria encontrar um país que o acolhesse e prescindisse de o levar a tribunal.
Jammeh chegou ao poder em 1994 com um golpe de Estado e foi sucessivamente reeleito desde então. A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch acusa o regime do Presidente gambiano de detenções arbitrárias, tortura, raptos e perseguição de jornalistas.
Comunidade internacional: tigre sem dentes?
Bashiru Ali, perito em política internacional da Universidade de Dar-es-Salam, na Tanzânia, teme que a comunidade internacional não atue suficientemente rápido, a tempo de evitar uma escalada da violência: "A comunidade internacional está muito dividida. Não há instrumentos legais para intervir em conflitos como o da Gâmbia. Os cidadãos e líderes políticos do país terão de encontrar, eles próprios, uma solução."
Em conflitos semelhantes, os interesses particulares diversos impediram que a União Africana ou outras organizações regionais tomasse medidas efetivas. Foi o que aconteceu, por exemplo, no Burundi, onde o Presidente Pierre Nkurunziza iniciou um terceiro mandato, contra o que está estipulado na Constituição e apesar das críticas internacionais.
Isolado internacionalmente
Mas o caso da Gâmbia é diferente, acrescenta Alex Vines. "Contrariamente a Nkurunziza, Jammeh não tem aliados." Não só na região como também a nível mundial, as políticas de Jammeh conduziram ao isolamento do país.
O Senegal é o único vizinho da Gâmbia e exerce, tradicionalmente, grande influência sobre o país. O ministro senegalês dos Negócios Estrangeiros espera do Presidente gambiano apenas uma coisa: "Exigimos ao Presidente Yahya Jammeh que respeite o resultado das eleições, que garanta a segurança do Presidente eleito e que crie as condições para uma transição pacífica do poder no próximo mês", afirmou Mankeur Ndiaye.
"Neste momento, negoceia-se", diz o especialista Alex Vines. "Mas, se não se chegar a um compromisso, a CEDEAO poderá optar por um caminho mais duro, inclusive uma possível uma intervenção militar de longa duração."