A combinação entre a mediocridade, a incompetência, a arrogância protagonizada por uma classe política caduca, tem colocado os guineenses numa situação de perversão moral gritante. Esta situação destruiu progressivamente as pernas de uma República almejada. A presente crise política, resultante de estéreis disputas pessoais, é sintomática da crónica epidemia republicana.
O persistente e desgastante impasse demostrou de forma evidente quão certos filhos desta terra estão dispostos a alimentar querelas/crises em nome dos seus próprios interesses. A ínfima percentagem de guineenses tem vindo a arrastar, há décadas, cerca de 1 milhão e 700 mil outros guineenses para o abismo, com o único propósito de tirar dividendos pessoais. Viver da desordem e perpetuar a anarquia. Esta é a lógica que sustenta a instabilidade política e institucional na Guiné-Bissau.
Afetada pelo obscurantismo resultante de um caótico e falido sistema do ensino, a população guineense é incapaz, até hoje, de organizar, coordenar e assumir uma agenda de ruptura com este sistema viciado. Sabiamente orquestrado, o referido sistema não permite margem para a emergência de uma perspectiva positiva de mudança. Os progressistas são sistematicamente neutralizados com métodos retrógrados de sabotagem. Associado a esse mortífero flagelo, o coitado povo guineense permanece vítima de miséria quotidiana. Carece de tudo o que é básico, saúde e escola. O primeiro é luxo e o segundo é banalização! Resultado, a República de banalidade.
Os centros de saúde são autênticos cemitérios públicos; a corrupção é institucionalizada e tida como uma norma de desgovernação. A disciplina para com as instituições e patrimónios é simplesmente assassinada no hotel de politização de toda administração pública. A justiça moribunda. Cerca de dois terço da população vive no absoluto isolamento e em total desconexão com o Estado. As vias de acesso às zonas rurais são caóticas, sistema de comunicação deficitário. Em suma, o Estado não passa de uma propriedade de ‘clubes’ que se autoproclamam de partidos políticos, dispostos a dividir a sociedade para melhor desgovernar!
O gritante de tudo é o desprezo dos políticos perante ao descalabro que fatalmente atinge o povo. Os atores políticos, obcecados a preservar os privilégios, não estão dispostos às reformas institucionais susceptíveis de transformar radicalmente o país, as reformas retribuiriam a dignidade ao povo e marcariam a renascença do Estado organizado.
Perante esta insuportável humilhação, cabe ao governo guineense assumir o seu destino. Basta inércia em face do infeliz espetáculo de uma falida elite. É hora de resgatar o Estado por via de uma revolução. Uma revolução do povo, simplesmente. Quando o povo quer ninguém o vence!
Por: Redação
Edição n°212 de 22/06/2017
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